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Barroso sobre trégua de Bolsonaro: 'Torço para que conversão seja sincera'

Colaboração para o UOL, no Rio

20/10/2021 12h20Atualizada em 20/10/2021 16h06

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, disse hoje no UOL Entrevista torcer por uma harmonia entres os Poderes após os consecutivos ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Depois de um discurso golpista nas manifestações de 7 de setembro, Bolsonaro recuou e declarou respeito às instituições do país.

"Evidentemente que se houver harmonia entre as instituições e os Poderes, mesmo na divergência, é muito melhor. É assim que a vida civilizada deve ser vivida. Portanto, saúdo como extremamente positiva essa atitude de distensionar o ambiente em geral. Sem concessões. Cada um deve cumprir seu próprio papel", afirmou Barroso.

Sem mencionar Bolsonaro, o ministro do STF (Superior Tribunal Federal) disse que se a intenção do presidente for uma "conversão legítima à institucionalidade e à harmonia", vê "como uma virtude" a posição do chefe do Executivo do país. O ministro, no entanto, lembrou um episódio histórico.

Sempre gosto de lembrar que pelo ano 300 depois de Cristo, Constantino se converteu ao cristianismo e deixou de adorar o Deus Sol, mas, mesmo assim, continuou um perigoso sociopata. Ele matou o filho mais velho, devorou o cunhado e ferveu a mulher em água quente
Luís Roberto Barroso

'Liberação dos demônios'

Barroso disse que o mundo vive uma onda de extremismo, que também passa pelo Brasil. Ele associou esses movimentos autoritários ao negacionismo.

"Essas visões autoritárias e nacionalistas, quando há um problema com a qual elas não são capazes de lidar, elas normalmente trabalham com a negação. Isso acontece em diferentes partes do mundo", disse Barroso.

O ministro falou em "liberação dos demônios" se referindo ao avanço do extremismo no mundo. Ele disse que esses movimentos disseminam o ódio e a mentira e trabalham com teorias conspiratórias.

Uma das coisas ruins que esse processo do populismo extremista autoritário liberou no mundo foi a liberação dos demônios. Os fascistas, os racistas, os misóginos, os homofóbicos, os antiambientalistas, todos saíram à luz do dia como se isso fosse uma coisa positiva. Houve uma certa naturalização do mau no mundo, em geral
Luís Roberto Barroso

Desprestígio mundial

O presidente do TSE afirmou que o negacionismo existente no Brasil levou o país a um desprestígio mundial, principalmente em relação ao meio ambiente. Ele disse que há uma diferença entre o discurso e a prática na condução do tema no país.

"A política era antiambiental e o discurso era de proteção ambiental. Mas na vida a gente tem que trabalhar com dados, com as imagens de satélite, não com discursos. Se as imagens de satélite estão mostrando o desmatamento, não adianta você dizer que é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo", afirmou Barroso.

O ministro disse que os conservadores do Brasil não podem ser confundidos com os extremistas, "que xingam, dizem palavrões e ofendem as pessoas". Para ele, o Brasil precisa de um "choque de iluminismo e de civilidade" para sair dessa situação.

O choque de iluminismo significa valorizar a razão, a ciência, o humanismo, e um choque de civilidade significa tratar quem pensa diferente de mim como um parceiro na construção de um mundo que deve ser plural. Quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, que eu precise abater. E quando você discorda de uma ideia, você deve colocar o seu argumento na mesa e não procurar desqualificar o outro, dizendo que ele é vagabundo, pedófilo, ou qualquer outra coisa grosseira e agressiva
Luís Roberto Barroso

Interferência no MP

Barroso ainda criticou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que está no Congresso Nacional que pode aumentar a interferência política no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público). A proposta, que hoje está na Câmara dos Deputados, aumenta de dois para cinco as indicações do Congresso na composição no colegiado, chamado de "Conselhão".

"A gente tinha que colocar energia nas coisas que são importantes. A energia que gastamos com essa bobagem de voto impresso e agora com essa vingança contra o CNMP. Parece que a coisa mais importante do Brasil é diminuir o poder do CNMP", disse Barroso.

O ministro disse que "o Brasil tem um certo fascínio por se assustar com as assombrações erradas". Para ele, o que chamam de perseguição política por parte do Ministério Público é, na verdade, combate à corrupção.

Cobrar participação em contratos públicos, receber dinheiro por fora para aprovar desonerações, achacar empresas para não ser convocada para a CPI, cobrar pedágio em financiamento de instituições públicas, nada disso é criminalização da política, isto é bandidagem
Luís Roberto Barroso

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