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Presidente do PTB vê 'abandono' de Bolsonaro, mas descarta rompimento

Graciela Nienov durante reunião do PTB; críticas a Bolsonaro, mas sem intenção de rompimento - PTB
Graciela Nienov durante reunião do PTB; críticas a Bolsonaro, mas sem intenção de rompimento Imagem: PTB

Do UOL, em São Paulo

28/10/2021 14h09

A presidente em exercício do PTB, Graciela Nienov, reclamou de "abandono" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas disse que o partido não pensa em romper com o Governo.

Em áudio divulgado à imprensa, Graciela disse que a carta escrita pelo ex-deputado Roberto Jefferson, com críticas a Bolsonaro e ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), foi um desabafo e era para ter ficado restrita aos membros da sigla.

Porém, diante da repercussão pelo vazamento de seu teor, a presidente em exercício tentou acalmar os ânimos no partido comandado por Jefferson, preso desde agosto por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

"Há revolta. Eu também estou revoltada em ver o abandono do nosso presidente, confesso a vocês. Tentamos marcar agenda com ele e ele não aceitou, não quis nos receber. Fui uma vez receber conversar com ele, mas depois ele não quis mais nos receber", disse.

No áudio, Graciela concentra as críticas à declaração de Bolsonaro, durante entrevista à TV Jovem Pan News ontem, de que está mais perto de filiar ao PP ou ao PL. Porém, a presidente em exercício afastou a possibilidade de rompimento.

"Todo mundo atento, um pouco triste pela posição do Bolsonaro, mas em momento algum alguém falou que romperia com Bolsonaro. Na reunião saímos firmes em apoio ao Bolsonaro", disse.

Ela disse que a carta de Jefferson corrobora essa visão. "Foi um momento em que nosso líder, que está na cadeia há mais de 70 dias, fez um desabafo. Infelizmente essa carta vazou (...) Momento algum ele falou em rompimento, mas já pegam a carta e retorcem", disse

"Ele quis dizer 'gente, Bolsonaro não pode ir para o PP'. Metade do PP é de esquerda. 'No PL, o presidente foi um dos envolvidos no mensalão'. Como deixar um homem de bem indo para estes partidos sendo que o PTB se organizou", disse.

Graciela ainda afirmou que "entende a mágoa" de Jefferson e que o momento é de silêncio. "O silêncio muitas vezes fala por si, não pode nos chamar de traíra porque temos um estatuto, somos de direita sim. Não somos nós os traíras, não é o PTB o traíra", disse.

A carta de Jefferson

Na carta, publicada pelo jornal o Globo e com o teor confirmado pelo UOL, Roberto Jefferson critica o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), pelo que classificou como "vício nas facilidades do dinheiro público".

Aliado do chefe do Executivo federal, Jefferson disse que o presidente cercou-se de "viciados em êxtase com dinheiro público", citando nominalmente o líder do Centrão e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que convidou Bolsonaro e seus três filhos políticos a se filiarem à sigla para concorrerem às eleições em 2022 pela legenda. "Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio", escreveu o ex-deputado.

Na carta, Jefferson diz ainda que o PTB deve ter candidatura própria nas eleições de 2022 e orienta os líderes do partido a convidarem o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) para disputar a Presidência da República.

"Vamos convidar o Mourão. O PTB terá candidatura própria, quem sabe apoiamos o Bolsonaro no segundo turno (...) Gustavo, leva a carta ao general Mourão. Convide-o para a disputa a Presidência, quem souber percorrer a terceira via vencerá a eleição."

O UOL procurou o Palácio do Planalto a respeito das críticas feitas ao presidente e aguarda retorno.

Prisão

Jefferson está preso preventivamente no complexo penal de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, desde 13 de agosto, por determinação do ministro Alexandre de Moraes. Ele é suspeito de envolvimento com uma milícia digital que atua contra a democracia.

Na última terça-feira (26), Moraes negou pedido da defesa do ex-deputado para transferência dele da unidade prisional para o Hospital Samaritano, no Rio. O presidente licenciado do PTB sentiu-se mal e precisou de atendimento médico no complexo.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou denúncia contra Jefferson por incitação ao crime e homofobia. Datado de 25 de agosto, o documento é assinado pela subprocuradora Lindôra Araújo e foi enviado ao STF na semana passada.

A denúncia foi motivada por entrevistas e publicações em que o ex-deputado estimulou a população a atacar o Congresso Nacional, o STF e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

No ofício, a PGR detalha publicações nas redes sociais e entrevistas concedidas pelo político a alguns veículos de comunicação. Há, também, a reprodução de uma entrevista em que o ex-deputado compara a população LGBTQI+ a drogados e traficantes.