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Doria fala em diálogo com Moro por 'terceira via' para presidência

João Doria em coletiva em Brasília - Hanrrikson Andrade/UOL
João Doria em coletiva em Brasília Imagem: Hanrrikson Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/11/2021 18h31Atualizada em 20/11/2021 20h23

Na véspera das prévias do PSDB para escolha do candidato à Presidência da República, o governador de São Paulo, João Doria, tentou se apresentar como uma "terceira via" e falou em abrir diálogo com outros potenciais concorrentes à chefia do Executivo federal nas eleições de 2022 — entre eles o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos). O tucano também citou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). As declarações foram dadas em entrevista coletiva em Brasília hoje (20).

De acordo com o governador, há uma perspectiva interna de o PSDB se apresentar na eleição como "terceira via", fora do "extremismo de esquerda e de direita" — que, segundo ele, estão representados respectivamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual ocupante do cargo, Jair Bolsonaro (sem partido).

Doria disse considerar que Lula e Bolsonaro desejam se enfrentar em um eventual segundo turno em 2022, pois um retroalimentaria o outro. Segundo o governador, se "a terceira via não for fragmentada, será a melhor via" e terá chances de vencer a eleição.

"E faço um acréscimo: reparem que durante todo esse processo mais recentemente você não vê o ex-presidente Lula fazendo nenhuma crítica frontal ao presidente Jair Bolsonaro. E você também não observa o presidente Jair Bolsonaro fazendo críticas frontais ao ex-presidente Lula. A um e a outro o interesse é exatamente que Lula dispute com Bolsonaro, e Bolsonaro dispute com Lula. É a única chance que um ou outro terá."

Questionado se cogitaria abrir mão da cabeça de chapa com o objetivo de compor uma candidatura única de enfrentamento a Bolsonaro e Lula, Doria afirmou que "nada está descartado" e que, caso vença as prévias do PSDB, não estabelecerá condições para conversas com outros partidos.

Todos que fazem parte dessa teia de candidatos à presidência são pessoas muito qualificadas e experientes na vida política, tanto no Legislativo quanto no Executivo."
João Doria, governador de São Paulo, nas prévias do PSDB

Doria diz ter sido 'enganado' por Bolsonaro

Questionado sobre o fato de ter apoiado Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, Doria respondeu que "não tem compromisso com o erro" e "foi enganado" pelo atual governo, "assim como milhões de brasileiros". O tucano disse que a gestão de Bolsonaro foi "genocida" e "negacionista" durante a pandemia de covid-19, pois "se afastou das vacinas" e provocou a morte de milhares de brasileiros.

Ao falar de suas prioridades caso seja escolhido como candidato do PSDB, Doria falou de educação, emprego, saúde e meio ambiente. Na área econômica, afirmou que "não terá um posto Ipiranga", e sim uma equipe de economistas. O apelido "posto Ipiranga" foi dado por Bolsonaro ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

Mais cedo, em conversa com a imprensa, Doria enalteceu o procedimento de seleção da candidatura do PSDB e afirmou considerar que as prévias partidárias são "saudáveis". Na visão dele, a votação coloca a legenda na "vanguarda democrática".

"O PSDB é o único partido que está realizando prévias", disse o governador paulista.

Doria elogiou o seu principal concorrente na eleição tucana, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e disse que ele é um "bom nome" e uma "figura expressiva", "apesar da sua juventude".

"Não há crítica a qual candidato será o vencedor. Será o vencedor aquele que vencer, que tiver o maior número de votos, 50% mais um. Esse será o candidato abraço pelo PSDB e que poderá liderar o partido no bom diálogo, no bom entendimento, com outros partidos e outras lideranças para compor a terceira via."

Apoiadores de Doria e Leite batem boca

Os elogios de Doria a Leite ocorrem em meio a um intenso bate-boca virtual entre entusiastas dos concorrentes tucanos, que voltaram a falar em judicialização do pleito.

O estopim da nova briga foi a declaração de apoio conjunta do presidente e do coordenador da Comissão de Prévias, o senador José Aníbal (SP) e o ex-deputado Marcus Pestana (MG), respectivamente, a Leite.

Com o fim do período de campanha, Aníbal anunciou ontem (19) que deixava o cargo e apoiava Leite. Já Pestana declarou voto no início da tarde de hoje, em publicação no Twitter.

Doria disse que recebeu a notícia sobre os posicionamentos de Aníbal e Pestana com "naturalidade", e fez uma provocação ao senador paulista.

"Aníbal disputou duas prévias comigo e foi derrotado duas vezes. Portanto, que encontre o seu papel e, mais uma vez, quem sabe, receba a sua terceira derrota em menos de seis anos em prévias do PSDB. Vejo com naturalidade, faz parte do processo democrático."