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Bolsonaro minimiza ômicron e critica Anvisa: 'Quer fechar de novo?'

Hanrrikson de Andrade

Do UOL*, em Brasília

07/12/2021 14h03Atualizada em 07/12/2021 15h44

Em discurso para representantes da indústria, o presidente Jair Bolsonaro (PL) expôs hoje o seu descontentamento com recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em restringir a circulação de estrangeiros pelo Brasil a fim de evitar o alastramento da nova variante do coronavírus, a ômicron.

O governante também tentou minimizar o risco oferecido pela variante ômicron e, sem dados ou evidências que pudessem embasar a declaração, disse que a pandemia estaria chegando ao fim.

"Estamos trabalhando agora com a Anvisa, que quer fechar o espaço aéreo... De novo, porra? De novo vai começar esse negócio? Ah, a ômicron... Vai ter um montão de vírus pela frente. Um montão de variantes pela frente, talvez, peço a Deus que eu esteja errado. Mas temos que enfrentar."

Diferentemente do afirmado por Bolsonaro, as recomendações de restrições da Anvisa não incluem fechamento de espaço aéreo, mas adoção de medidas restritivas a voos oriundos de mais quatro países: Angola, Malawi, Moçambique e Zâmbia. Outros seis países já estão com voos suspensos: África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. No mesmo ofício, a Anvisa também enviou outras duas Notas Técnicas, em que recomendam a exigência do certificado de vacinação completa contra a covid-19 para a entrada de viajantes no Brasil —essa exigência, no entanto, enfrenta resistências dentro do governo, especialmente de Bolsonaro.

"Mas, pelo que tudo indica, tem a vacina que está aí. Tem a imunidade de rebanho que está aí. Estamos chegando ao final dessa pandemia. Peço a Deus que estejamos todos certos nesse momento."
Jair Bolsonaro (PL)

Também chamada de imunidade de grupo e imunidade coletiva, a imunidade de rebanho consiste em atingir um ponto em que há uma quantidade suficiente de pessoas imunes ao vírus, interrompendo a transmissão comunitária. E, com menos indivíduos suscetíveis ao vírus, ele vai aos poucos deixando de circular.

Durante a CPI da Covid, Bolsonaro foi acusado de cometer crime ao utilizar o conceito para supostamente incentivar a aceleração da contaminação no país e, dessa forma, atingir mais rapidamente a "imunização de rebanho". O presente rebateu os parlamentares e, em vários momentos, contestou as alegações.

Bolsonaro discursou depois de participar de uma agenda com políticos, empresários, autoridades de governo e líderes da indústria. O evento foi organizado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília.

Logo após mencionar a Anvisa e criticar a possibilidade de restrição a voos internacionais, Bolsonaro afirmou que "quem toma a vacina pode contrair o vírus". O presidente tem se manifestado de forma contrária à imposição do chamado passaporte vacinal no Brasil.

No último fim de semana, Bolsonaro declarou que pode mudar a legislação em vigor —com a edição de uma medida provisória— a fim de federalizar a decisão sobre a exigência ou não do passaporte vacinal. Se o governo fizer isso, o aval dependeria exclusivamente da União, e não de estados e municípios. No entanto, a iniciativa ainda seria analisada pelo Congresso, que tem prerrogativa para manter o texto da MP, alterá-lo ou mesmo derrubá-lo (parcialmente ou na íntegra).

"Nós disponibilizamos vacinas para quem quisesse. Mais de 300 milhões de doses foram compradas. Mas hoje em dia, nós já sabemos, todo mundo sabe, quem toma a vacina pode contrair o vírus. E pode transmitir o vírus. E pode morrer também, infelizmente. Vamos enfrentar o problema, cuidar dos mais idosos e de quem tem comorbidades."

"Ninguém vai ganhar a guerra dentro da trincheira. Ninguém vai superar os problemas do Brasil dentro de casa. Chega do fica em casa, a economia a gente vê depois. Temos que enfrentar esse problema."

Em 27 de novembro, a Anvisa publicou uma nota técnica por meio da qual sugeriu o fechamento de fronteiras para viajantes com passagem por seis países da África (África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue). Posteriormente, sob pressão da opinião pública, o Ministério da Casa Civil acatou a recomendação. No entanto, não há consenso entre os membros da cúpula do governo.

Ontem, a Casa Civil agendou uma reunião com participação de outros ministérios e da Anvisa para debater o tema, mas o dissenso resultou no cancelamento do compromisso. Um dos motivos é a irritação do presidente Jair Bolsonaro com a postura da Anvisa.

*Colaborou Isabella Cavalcante, em Brasília.