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'Bolsonaro queria que eu não agisse pela prisão em 2ª instância', diz Moro

Presidente Jair Bolsonaro e ex-ministro da Justiça Sergio Moro - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro e ex-ministro da Justiça Sergio Moro
Imagem: ADRIANO MACHADO

Do UOL, em São Paulo

19/01/2022 16h48

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro revelou hoje, sem citar nome, que um ministro vinculado à área militar do governo de Jair Bolsonaro (PL) disse que o mandatário não queria que ele mexesse na prisão em segunda instância. Para Moro, Bolsonaro é o principal responsável pela ressurreição do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por não ter se comprometido com a pauta de combate à corrupção. (Assista ao vídeo abaixo) Moro, Bolsonaro e Lula são pré-candidatos às eleições presidenciais, que serão realizadas em outubro.

Em relação ao governo Bolsonaro, o fato é o seguinte: o governo Bolsonaro é o responsável pela ressurreição do PT e do Lula (pra mim é um risco para o país)... você pode colocar na conta do governo Bolsonaro. Ele é o principal responsável por estarmos numa situação de polarização, o que é um risco para o PT voltar ao governo. Sergio Moro, em entrevista à rádio Jovem Pan Maringá

"Eu estava lá. Eu lutei pela tal da manutenção da prisão em segunda instância, porque isso é importante para o país. O governo não fez nada. O Planalto não fez nada. Eu, pessoalmente, fiz. Quando o Supremo reviu a prisão em segunda instância, soltaram o Lula, soltaram vários criminosos, o Planalto não fez. O Planalto, internamente, comemorou. Numa visão equivocada de aquilo seria bom para o presidente. Foi um desapontamento por completo", prosseguiu Sergio Moro.

Ex-juiz federal responsável pelos julgamentos da Operação Lava Jato, Moro determinou a prisão do ex-presidente Lula e de outros políticos e empresários acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. Em 2019, no entanto, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou por 6 votos a 5 a prisão após condenação em segunda instância, um recurso que beneficiou milhares de presos, inclusive Lula, que cumpria na ocasião a pena de 8 anos e dez meses. Das 45 sentenças expedidas de 2014 a 2018 por Moro no âmbito da operação, 8 já foram anuladas no STF ou no STJ (Superior Tribunal de Justiça), a maioria no último ano, conforme levantamento feito pelo jornal "Folha de S.Paulo".

Eu, depois, fui trabalhar no Congresso para voltarmos a ter a prisão em segunda instância. Teria conseguido se tivéssemos o apoio do presidente, mas ele não queria saber dessa pauta. Eu posso dizer o seguinte: um ministro, vinculado à àrea militar, não quer que você mexa com a prisão em segunda instância. Quando eu vi aquilo...a gente fala sobre traição... olha, eu falei o seguinte: 'essa é uma pauta institucional para o país. Eu vou mexer com essa pauta de qualquer jeito'. Sergio Moro

Em novembro, o ex-juiz decidiu se filiar ao Podemos e entrar oficialmente à política durante evento realizado em Brasília. Aos gritos de "Brasil para frente, Moro presidente", Moro promoveu um discurso de possível candidato a presidente.

Pesquisa eleitoral do Instituto Ideia, contratada pela revista Exame e divulgada na semana passada, mostra Moro com 11% da preferência do eleitorado, atrás do ex-presidente Lula, que tem 41% das intenções de voto, e do presidente Bolsonaro, que possui 24%.

Em entrevista à revista Veja, publicada na última sexta-feira (14), o político disse que a sua candidatura é a que tem mais chances de decolar entre os candidatos da terceira via e que não vai desistir de concorrer à presidência da República.

Moro deixou o cargo de ministro da Justiça em 2020 após o presidente Bolsonaro decidir exonerar o então diretor-geral da PF (Polícia Federal) Maurício Valeixo, profissional de confiança do ex-juiz. À época, Moro disse que Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal. O presidente prestou depoimento no início de novembro e negou qualquer interferência no órgão.

Desde então, Moro passou a ser alvo frequente de ataques feitos por bolsonaristas —entre eles, os filhos do presidente Bolsonaro.