Topo

Esse conteúdo é antigo

Moro diz que Bolsonaro tirou autonomia da PF: 'Ninguém mais é preso'

2.dez.2021 - O pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Sergio Moro, em evento em Curitiba - Rodolfo Buhrer/Fotoarena/Estadão Conteúdo
2.dez.2021 - O pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Sergio Moro, em evento em Curitiba Imagem: Rodolfo Buhrer/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

24/01/2022 09h21Atualizada em 24/01/2022 09h56

O presidenciável Sergio Moro (Podemos) voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse que o atual mandatário tirou a autonomia da PF (Polícia Federal). Moro saiu do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, em abril de 2020, sob justificativa de que o presidente interferia na PF. Segundo a colunista do UOL Carla Araújo, Bolsonaro prestou depoimento no início de novembro do ano passado e negou interferência no órgão.

"A Polícia Federal não tem hoje a mesma autonomia que tinha na época da Lava Jato. Tanto que as operações de investigação por crimes de corrupção caíram abruptamente e praticamente não se vê mais ninguém sendo preso. Isso por conta em parte do presidente da República, que não dá essa autonomia, e porque há esse clima desfavorável de investigações de corrupção, um clima de intimidação, que vem de parte de outros Poderes", declarou o ex-juiz da Lava Jato ao jornal O Estado de S.Paulo

Moro comentou que não se arrepende de ter assumido o cargo de ministro da Justiça porque permaneceu "fiel ao meu projeto, princípios e valores", mas declarou ter "muito orgulho de ter deixado o governo". Ele classificou a saída como "a melhor decisão que eu tomei."

O político ainda comentou porque demorou para deixar o governo apesar de divergências com o presidente.

"Eu tinha razões para permanecer. Não podia deixar o governo antes de o projeto anticrime ser votado. A Câmara inseriu modificações que pioraram o projeto e resolvi ficar até o veto presidencial. Foi um dos momentos no qual o presidente traiu o país e deixou de vetar alterações desse projeto que eram contrárias às suas promessas eleitorais", começou.

E completou: "Já naquele momento o presidente havia feito movimentos para interferir na Polícia Federal e eu falei, inclusive expressamente, ao diretor da polícia que eu havia nomeado, mais ou menos os seguintes termos: 'Não tenhamos ilusão, o governo não tem compromisso com essa pauta, mas agora nosso dever é permanecer para proteger a Polícia Federal'. Toda a minha permanência a partir de dezembro se explica principalmente por esse motivo".

O presidenciável finalizou ressaltando a importância na Polícia Federal, uma de suas bandeiras na campanha ao Palácio do Planalto.

"A Polícia Federal em mãos erradas pode ser utilizada em detrimento da população. Quando o presidente passou por cima de mim e trocou o diretor, acabaram as razões que justificavam a minha permanência e eu saí."

Investigação no TCU

Moro também criticou e classificou como "absurdo" e "fantasioso" o processo aberto pelo TCU (Tribunal de Contas da União) para investigar o suposto conflito de interesses entre o ex-juiz da operação Lava Jato em Curitiba e a empresa norte-americana Alvarez & Marsal. A companhia contratou Moro após sua saída do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro.

Números revelados pelo TCU apontam que a Alvarez & Marsal recebeu ao menos R$ 65,1 milhões de empresas envolvidas na operação Lava Jato. Esse valor é 78% de todo o faturamento por administração judicial que a companhia alega ter tido de 2013 até o ano passado.

"Eu vou revelar meu salário, vou apresentar meu imposto de renda, declarar todos meus ganhos. Não mudei meu domicílio tributário do Brasil. Vou inclusive, no registro da futura candidatura, apresentar as declarações no TSE, em transparência ativa. Agora, não me curvo ao abuso. E esse processo no TCU é parte de uma fantasia, sobre algo que não existe", disse o ex-juiz ao jornal.

Segundo o presidenciável, ele "nunca" prestou serviços a empresas envolvidas na operação Lava Jato e, inclusive, seus contratos proibiam tal relação. "Eu não enriqueci nem no setor público e tampouco no privado. Não tenho nada a esconder. Essas informações vão ser apresentadas às autoridades competentes."

Ao ser questionado pelo jornal sobre qual era o valor de seu salário na empresa, Moro disparou que essa é uma questão privada e que respondê-la seria "uma forma de eu ceder a esses reclamos equivocados do TCU".

"Posso lhe assegurar, tanto como juiz, como ministro ou dentro do setor privado, que meu trabalho sempre foi, além de lícito, em favor da integridade. No setor privado meu trabalho não era defender empresa, era dar consultoria para empresas adotarem políticas antissuborno, compliance, due diligence, investigação corporativa interna. Posso lhe assegurar: jamais prestei qualquer serviço a Odebrecht ou qualquer empresa relacionada à Lava Jato", ressaltou o ex-ministro.

O presidenciável ainda classificou a Alvarez & Marsal como uma "consultoria internacional renomada" e explicou que o vínculo da empresa com a Odebrecht é anterior à ida dele para trabalhar na companhia. O ex-ministro ainda completou dizendo que a sua contratação não tem "nenhuma relação com defesa da Odebrecht em casos de corrupção".

"[A Alvarez & Marsal] é administradora da recuperação judicial, está a serviço do juiz que a nomeou e dos credores da Odebrecht. Essa hipótese do TCU além de fantasiosa é absurda", concluiu o ex-juiz.