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Amapá: Professora de federal recusa alunos que apoiam Lula: 'Esquerdistas'

Professora da Unifap dispensou alunos em grupo de WhatsApp - Reprodução
Professora da Unifap dispensou alunos em grupo de WhatsApp Imagem: Reprodução

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

03/11/2022 14h04Atualizada em 03/11/2022 15h15

Uma professora bolsonarista deixou de orientar alunos de doutorado em Farmácia na Unifap (Universidade Federal do Amapá) após saber que eles não apoiavam o presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a eleição no 2º turno para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A docente, identificada como Sheylla Susan de Almeida, comunicou ontem a decisão unilateral aos doutorandos através de um grupo de WhatsApp. Nas mensagens, obtidas pelo UOL, a professora diz que "não quer esquerdistas no laboratório" de Farmácia.

"Procurem outro professor para orientar vocês. Amanhã estarei entregando a carta de desistência da orientação de vocês. Não quero esquerdistas no laboratório. Portanto, sigam a vida de vocês, e que Deus os abençoe", escreveu a docente.

A professora direcionou a mensagem a dois alunos, mas pediu que sua posição fosse compartilhada com outros estudantes que fossem petistas. "Se tiver mais algum esquerdista, que faça o favor de pedir desligamento. Ou estão comigo ou contra mim."

O UOL tenta contato com a docente. A reportagem enviou email e deixou mensagens nas redes sociais da professora, mas ainda não obteve retorno. O texto será atualizado em caso de manifestação.

Uma das alunas dispensadas foi Débora Arraes, de 35 anos. Ela também é professora da UEAP (Universidade do Estado do Amapá), e realiza pesquisa de doutorado na Unifap.

Ela afirma que a orientadora é "declaradamente negacionista" mas que, até então, "nunca havia demonstrado comportamento semelhante" com seus alunos.

"Fui informada de que eu estava sendo desligada pelo fato de eu ter votado no Lula. Ela nunca havia demonstrado posicionamento semelhante por questões políticas. Nas redes sociais, ela é declaradamente negacionista, mas eu, como aluna e também professora, entendo que são posições que não deveriam ser consideradas numa relação entre orientador e orientando", comentou Débora ao UOL.

A aluna acredita que a professora tenha tomado a medida após ver suas publicações de apoio a Lula nas redes sociais.

"Fiz algumas postagens nas minhas redes sociais, não compartilhei no grupo nem com ela, mas mesmo assim, acredito que em razão dessa foto postada por mim, a professora tomou esse posicionamento", afirma a discente.

Bolsonarista, professora recebeu bolsa nos governos do PT. Nas redes sociais, a professora costuma publicar mensagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, além de atacar as universidades públicas e medidas adotadas contra a pandemia de covid, a exemplo do lockdown e vacinas.

Em uma das publicações, de 26 de janeiro, a professora compartilha uma postagem na qual diz que as máscaras, lockdown e vacinação "não resolveram". "E se você questionar o fracasso de todas as medidas que garantiram trazer a sua liberdade de volta: negacionista".

As vacinas contra a covid-19 são testadas e aprovadas por órgãos de saúde em várias partes do mundo, a exemplo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em 2021, pouco tempo depois da primeira aplicação do imunizante, diversos países já apresentaram quedas no número de mortes.

Professora publicou mensagens negacionistas em suas redes sociais - Reprodução - Reprodução
Professora publicou mensagens negacionistas em suas redes sociais
Imagem: Reprodução

Nas redes, a professora ataca as universidades nos governos do PT, mas no currículo Lattes, informa que recebeu bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para cursar o doutorado, entre 2003 a 2008, na UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Ela está na Unifap desde 2011.

Universidade diz que vai adotar 'medidas'. Em nota, a Unifap informou que "tomou conhecimento por meio das redes sociais do fato caracterizado como assédio". A instituição fala em "indignação" e que busca "contrapor toda e qualquer forma que reprima o pensamento ou liberdade de nossos acadêmicos e servidores".

"Registra-se que a Unifap não concorda com tal conduta e os fatos estão sendo apurados, bem como serão adotadas as providências necessárias após as devidas apurações", concluiu.