Não é de hoje que os olhos -- e narizes -- de quem mora ou trabalha em São Paulo se acostumaram a encarar o rio Pinheiros como um depósito de sujeira que corta a cidade de norte a sul. Está distante o tempo de um rio sinuoso que, no começo do século passado (a foto ao lado mostra como era em 1930), era aproveitado pela população para pesca, esportes e até mesmo banho.
Ao longo das últimas décadas, com a expansão formal e informal da região metropolitana sem a infraestrutura urbana adequada, o Pinheiros que carregava só água limpa passou a trazer consigo esgoto, lixo, entulho e mau cheiro. Tudo isso vem de dezenas de afluentes que nascem dentro e fora da capital e recebem poluição à medida que atravessam áreas populosas.
Depois de uma tentativa frustrada há quase duas décadas, o governo paulista volta a anunciar um projeto para despoluir o Pinheiros -- desta vez, com prazo até dezembro de 2022. A ideia principal é impedir que esgoto e lixo cheguem ao rio, interrompendo esse fluxo já nos afluentes. A meta é fazer com que haja oxigênio suficiente para que o rio volte a ter vida aquática e possa ser explorado para turismo e transporte.
Para chegar a este resultado, a administração de João Doria (PSDB) aposta em novidades como o tratamento de esgoto diretamente nos afluentes. Especialistas ouvidos pelo UOL veem o plano com cautela e, enquanto aguardam a divulgação de mais detalhes sobre o projeto, alertam para o risco de que o poder público continue a enxugar gelo sem atacar uma das raízes do problema da poluição: o crescimento urbano desordenado.