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Entenda como a experiência com ebola vai ajudar o combate ao zika no Brasil

Do UOL, em São Paulo

11/01/2016 06h00

Uma equipe de pesquisadores senegaleses do Instituto Pasteur de Dacar, que atuou na criação da vacina contra o ebola na África, vai ajudar o Brasil a criar um diagnóstico mais eficaz e rápido do vírus zika. A equipe liderada pelo cientista Amadou Sall, diretor científico do instituto, pretende dar subsídios para que seja criado um teste rápido de detecção do vírus e até uma vacina contra o zika no Brasil.

Isso porque atualmente o Brasil só dispõe de teste para dengue. O zika ou o chikungunya – todos vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti – são diagnosticados por exclusão e por sintomas. Com as evidências de que o zika é causador da microcefalia e da síndrome de Guillain-barré, o vírus se tornou uma ameaça para a saúde pública do país.

Sall e sua equipe formada pelos pesquisadores Oumar Faye, Oumar Ndiaye, Moussa Dia e Arame Ba, chegaram no início do ano ao Brasil onde já começou a trabalhar no Instituto de Ciências Biológicas da USP (Universidade de São Paulo), na capital paulista.

 

O objetivo da parceria, que envolve ainda a Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, é transferir tecnologia e treinar equipes médicas para repassar o conhecimento a outros Estados. O Hospital Albert Einstein, em São Paulo (SP), laboratórios da bandeira Dasa no Estado, e a Pró-Sangue já receberam as amostras com o reagente desenvolvido pela equipe de Sall e farão os testes. 

Para o professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, Paolo Zanotto, a principal prioridade desse estudo chamado Rede Zika "é evitar um surto de zika e de microcefalia em São Paulo".

  • O que os senegaleses vão fazer?

    Amadou Alpha Sall estuda o vírus zika há mais de 20 anos e junto com o Pasteur criou uma reagente capaz de detectar o vírus. Aqui no Brasil ele será testado para detectar o tipo do vírus mais encontrado no país, o asiático. Se der certo, o Brasil terá um teste rápido em pouco tempo. A equipe liderada por Sall vai treinar facilitadores em São Paulo, que vão repassar o conhecimento e a tecnologia para equipes de saúde de outros Estados. Mais para frente, o grupo pretende ainda ajudar a criar uma vacina contra o zika no Brasil

  • Como isso será feito?

    Uma espécie de reagente necessário para os testes já foi importado de Dacar para o Brasil e distribuído para laboratórios que os usarão em testes. Os resultados da sorologia dos pacientes serão enviados a USP e Fundação Oswaldo Cruz para serem analisados pela equipe

  • Por que só agora?

    Segundo o coordenador da rede e pesquisador do ICB, Paolo Zanotto, que já estuda o vírus com a equipe de Sall há mais de 15 anos, ainda há muitas dúvidas sobre a ação do zika e os casos em seres humanos é recente. As pesquisas de peso realizadas por eles analisaram a ação do vírus em macacos. Por isso ele vê a necessidade de o Brasil analisar mais profundamente a ação do vírus, mas para isso precisa se chegar a um diagnóstico mais efetivo

  • Qual é o maior objetivo do estudo?

    Segundo Zanotto, é agir antes que haja uma epidemia de casos de zika em São Paulo, o Estado mais populoso do Brasil. Isso evita também a possibilidade de aumentar os casos de microcefalia. A tendência é que um surto aconteça no alto verão, então as ações têm que começar o quanto antes, segundo o pesquisador. Quanto mais se souber sobre a ação do vírus e seu diagnóstico efetivo, mais curto fica o caminho para tratamentos e a própria vacina

  • Como a experiência com o ebola pode ajudar?

    Para o pesquisador Amadou Sall, a experiência em equipe de diferentes áreas nos países africanos que sofreram com o ebola, foi fundamental para aprofundar os estudos sobre atuação e efeitos do vírus. Com a Rede Zika em ação, a tendência é que isso também aconteça por aqui. Além disso, entender o contexto social da doença é essencial, de acordo com Sall

  • O que os pesquisadores já sabem sobre o zika que não sabíamos ainda?

    Os pesquisadores afirmam que ainda há muitas dúvidas sobre os efeitos do zika no organismo e, por isso fazer um diagnóstico correto é o primeiro passo para isso. Cogita-se a hipótese de que o vírus possa ser detectado pela urina e mesmo pelo saliva. Se isso se confirmar, o diagnóstico será feito de forma mais fácil e precisa