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Líderes africanos pedem 'plano Marshall' para vencer epidemia de Ebola

Líderes africanos se reuniram em Bruxelas, na Bélgica, com a Rainha do país, Mathilde, em conferência sobre o Ebola, nesta terça-feira (3) - Xinhua/Ye Pingfan/AFP
Líderes africanos se reuniram em Bruxelas, na Bélgica, com a Rainha do país, Mathilde, em conferência sobre o Ebola, nesta terça-feira (3) Imagem: Xinhua/Ye Pingfan/AFP

AFP

03/03/2015 16h37

Os dirigentes dos três países africanos afetados pela epidemia de Ebola pediram nesta terça-feira à comunidade internacional um "plano Marshall" para colocar um fim à pandemia e resgatar suas economias.

O apelo estará no centro da próxima reunião internacional de 16 a 18 de abril, no âmbito de uma sessão do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional - e em junho, com uma conferência das Nações Unidas.

"O impacto em nossas economias foi profundo", disse a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf. Acompanhar a recuperação da região "demandará recursos significativos, incluindo um plano Marshall", disse a presidente, em referência ao plano norte-americano lançado para reconstruir a Europa após a Segunda Guerra Mundial.

Libéria, Serra Leoa e Guiné - os países mais afetados e epicentro da epidemia declarada no início de 2014 - "apresentarão um plano regional" neste sentido, informou o presidente da Guiné, Alpha Condé.

"Precisamos da anulação da dívida e um plano Marshall, já que é como se estivéssemos saindo de uma guerra", insistiu Condé.

Na segunda-feira, o FMI concedeu a Serra Leoa uma extensão de crédito e reduziu sua dívida para o montante de 187 milhões de dólares. No início de fevereiro, a instituição já havia perdoado as dívidas dos três países por um total de 100 milhões de dólares.

Na conferência, estavam presentes, além dos representantes de agências da ONU, membros do Banco Mundial, de organizações não governamentais ou delegações da UE, dos Estados Unidos, de China, Cuba e Austrália. Os participantes avaliaram como a epidemia afetou os três países.

O PIB na região afetada caiu 12%, os sistemas de saúde estão em crise, e o risco de que o vírus HIV ou a malária ganhem terreno é latente. A produção agrícola se reduziu pela metade e o setor de mineração está seriamente comprometido.

Para agora, o presidente guineano pediu aos países doadores que "desembolsem as ajudas prometidas".

Dos 5,1 bilhões prometidos, 2,4 bilhões já foram utilizados. Os copresidentes da conferência ressaltaram a importância de cobrir uma necessidade imediata de 400 milhões de dólares para financiar, entre outras coisas, material médico e equipes de saúde.

O objetivo é chegar aos "zero casos" de Ebola em meados de abril. Os presidentes de Libéria, Serra Leoa e Guiné pediram para que os esforços não sejam relaxados.

Desde o pico da epidemia, durante o outono, os novos casos recuaram de 900 para 100 por semana, segundo a ONU.

A mobilização internacional, tardia, e africana permitiram conter a epidemia, que deixou ao menos 9.700 mortos.

Dos três países mais afetados, a Libéria está no bom caminho, mas a tendência segue em alta em algumas regiões do litoral da Guiné e de Serra Leoa, assim como a persistência de alguns focos nas zonas mais inacessíveis destes países do oeste da África.

Embora os casos de contaminação estejam em queda, "a epidemia não terminou, ainda devemos concentrar nossos esforços para vencer o Ebola de uma vez por todas", afirmou, ao chegar à reunião a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Chegar a zero casos "será uma tarefa muito difícil e meticulosa", ressaltou o coordenador da ONU para a luta contra a epidemia, David Nabarro, em uma coletiva de imprensa em Bruxelas.

Entre as prioridades estão a criação de equipes de saúde itinerantes. Uma das preocupações é a de convencer as comunidades que ainda resistem a adotar as boas práticas, segundo Ismail Ud Sheikh Ahmed, que dirige a missão de coordenação da ONU sobre o Ebola.

Em matéria de funcionários, "ainda faltam entre 200 a 300 especialistas de saúde pública", estimou Nabarro.