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Jovens góticos têm risco maior de depressão, diz estudo

Estudo acompanhou jovens de 15 anos da cidade britânica de Bristol - BBC Brasil
Estudo acompanhou jovens de 15 anos da cidade britânica de Bristol Imagem: BBC Brasil

Smitha Mundasad

Da BBC News

28/08/2015 08h13

Jovens que seguem o estilo gótico correm maior risco de sofrer de problemas como depressão e autoflagelação, de acordo com um estudo britânico. Os cientistas sugerem que uma inclinação a se afastar da sociedade possa estar por trás deste vínculo, embora não tenham conseguido esclarecer ao certo os motivos.

No entanto, eles destacam que a maioria dos adolescentes góticos não apresentava qualquer problema e que apenas uma minoria pode vir a precisar de apoio.

A pesquisa, publicada na revista especializada Lancet Psychiatry, acompanhou 3.694 jovens de 15 anos, todos moradores da cidade de Bristol, no sudoeste da Grã-Bretanha, entre 2007 e 2010.

O movimento gótico - caracterizado por roupas pretas, maquiagem escura pesada e música quase sempre sombria, com letras melancólicas - atrai adolescentes há décadas.

Os pesquisadores descobriram que, quanto mais identificados com os góticos, maior a probabilidade de episódios de autoflagelação e depressão.

No estudo, aqueles jovens que se descreveram como góticos tinham mais probabilidade de já haver apresentado sinais de depressão antes dos 15 anos e de ter sofrido bullying na escola.

'Estigmatizados'

No entanto, os cientistas dizem que o vínculo permanece mesmo entre crianças que não apresentaram estes fatores.

Para a coordenadora do estudo, Rebecca Pearson, da Universidade de Bristol, os motivos para a tendência podem ser vários, entre eles, a possibilidade de adolescentes mais suscetíveis à depressão se sentirem mais atraídos ao estilo de vida gótico.

"O ponto ao qual um jovem se identifica com a subcultura gótica pode representar o ponto ao qual jovens de grupos de risco se sentem isolados, excluídos ou estigmatizados pela sociedade", disse Pearson à BBC.

Vida alternativa: a história de Nattalie

Nattalie Richardson, de 29 anos, nasceu em Norfolk, no leste britânico. Ela diz que começou a sofrer de depressão antes de virar gótica.

"Pessoalmente, acho que crianças deprimidas ou com doenças mentais são atraídas ao estilo de vida 'alt'. É uma forma de serem tão diferentes na aparência quanto se sentem por dentro", diz.

"Sei que para mim, foi este o motivo para começar a usar roupas diferentes e de ter me tornado alternativa. Isso e a imagem se encaixavam com a música que eu ouvia e que parecia expressar a confusão em que a minha cabeça vivia. Isso me ajudou a me dar conta de que não era a única adolescente que se sentia deste jeito.

"Eu estava deprimida e doente antes de me tornar gótica."

'Proteção de grupo'

O blogueiro e autodenominado gótico Tim Sinister disse à BBC não acreditar que adolescentes góticos corram mais risco de depressão, apenas que estão mais dispostos a falar sobre o assunto.

"A cena gótica é mais tolerante e aberta no que diz respeito a discutir a depressão, enquanto a sociedade como um todo tem mais estigma em torno da discussão de doenças mentais", disse Sinister.

Especialistas dizem que pais não deveriam tentar evitar que os filhos façam parte de um grupo gótico, já que ter amigos e se identificar com uma comunidade pode protegê-los da depressão.

Em vez disso, sugerem que os pais observem os filhos e conversem com eles sobre qualquer preocupação.

Para o professor Kevin McConway, as questões abordadas pela pesquisa são "complicadas" e variam com o tempo.

Para ele, seria errado partir do pressuposto de que ser gótico aumenta as chances de depressão, já que é preciso tempo para destrinchar relações de causa e efeito.

"Mesmo sem podermos ter certeza das causas, saber que existe um vínculo entre a identificação como gótico e depressão e autoflagelação já pode ajudar médicos a identificar e dar apoio a grupos de risco."