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Morte de atriz chinesa abre debate sobre terapias alternativas no tratamento do câncer

Atriz Xu Ting deixa pai, mãe e seis irmãos - Reprodução/Weibo
Atriz Xu Ting deixa pai, mãe e seis irmãos Imagem: Reprodução/Weibo

16/09/2016 15h24

No início deste ano, a atriz chinesa Xu Ting foi diagnosticada com linfoma, um tipo de câncer que afeta o sistema imunológico. Mas a artista de 26 anos decidiu não se submeter à quimioterapia porque, segundo afirmou na ocasião, achava o tratamento excessivamente caro e doloroso e temia seus efeitos colaterais.

"Não quero que a quimioterapia me atormente e me afete a ponto de eu ficar irreconhecível, de perder todo o meu dinheiro e minha própria essência", escreveu ela em seu blog.

Ela recorreu, então, à medicina tradicional chinesa.

Agora, a morte da jovem gera um debate na China sobre a eficácia desse tipo de procedimento para tratar o câncer.

Curas que não curam

A atriz tornou pública sua doença em julho deste ano em sua página na rede social Weibo, com 300 mil seguidores.

Desde então, ela documentou todo o processo na internet.

Atriz Xu Ting foi diagnosticada com linfoma, tipo de câncer que afeta o sistema imunológico - Reprodução/Weibo - Reprodução/Weibo
Atriz Xu Ting foi diagnosticada com linfoma, tipo de câncer que afeta o sistema imunológico
Imagem: Reprodução/Weibo

Constantemente, Xu publicava fotos de si mesma sendo submetida a diversas terapias, dando uma amostra dos métodos da medicina tradicional de seu país - ventosaterapia, acupuntura, alongamento de coluna e um método chamado "gua sha", que consiste em raspar a pele para produzir pequenos hematomas.

Já a ventosaterapia consiste em acender líquido inflamável dentro de copos redondos de vidro. Uma vez que a chama se apaga, forma-se um vácuo parcial no interior do copo.

A diferença entre a pressão interior e exterior acaba por gerar uma força de sucção, estimulando o fluxo sanguíneo e deixando os círculos vermelhos, que desaparecem entre três e quatro dias.

Quando sua doença começou a piorar, a atriz chinesa decidiu por fim aderir à quimioterapia, mas morreu no dia 7 de setembro, pouco depois de iniciar o tratamento, informou o jornal britânico The Guardian.

'Fantasiosas'

Milhares de pessoas nas redes sociais acompanharam o calvário de Xu pelos tratamentos tradicionais, e muitos lhe pediram que recorresse à medicina ocidental.

Gua sha é um tratamento da medicina tradicional chinesa que consiste em raspar a pele para produzir pequenos ferimentos; acredita-se que isso estimule o fluxo sanguíneo e a cura - Reprodução/Weibo - Reprodução/Weibo
Gua sha é um tratamento da medicina tradicional chinesa que consiste em raspar a pele para produzir pequenos ferimentos; acredita-se que isso estimule o fluxo sanguíneo e a cura
Imagem: Reprodução/Weibo
"Preste atenção, a medicina chinesa é completamente inútil na batalha contra o câncer, procure um médico", opinou um seguidor de Xu Ting.

Outro fã disse: "Deixe de lado os tratamentos tradicionais, são uma fantasia. O que você precisa é de uma medicina contemporânea se você quer se salvar".

A atriz respondeu que trabalhou muito durante toda a sua vida para pagar os estudos de seus seis irmãos, as dívidas de seus pais e uma casa.

Xu acrescentou que nunca se sentiu confortável gastando dinheiro consigo mesma.

Depois da notícia da morte de Xu, as redes sociais chinesas foram inundadas por comentários.

No Weibo (conhecido como o Twitter chinês), a hashtag #XuTing'sDeathAndChineseMedicine (#MortedeXuTingeeMedicinaChinesa) ficou entre as mais compartilhadas.

Alguns usuários que participaram do debate defenderam que a medicina chinesa não deveria ser considerada culpada pela morte da atriz.

"Há muitos pacientes de câncer que morrem depois da quimioterapia. Nesse caso, vão dizer que a medicina ocidental também é uma farsa?", assinalou um jornalista de uma rede de TV de Pequim.

"A medicina chinesa tem milhares de anos. Nem tudo o que os médicos ocidentais dizem é verdade", acrescentou outro usuário.

O chefe do departamento de medicina tradicional chinesa da Academia de Ciências Médicas de Pequim, Feng Li, afirmou que a prática milenar poderia ter sido usada para aliviar os sintomas de um tratamento ocidental: "Enquanto abordagens ocidentais como radiologia, quimioterapia e cirurgia são eficazes em reduzir tumores, as terapias chinesas ajudam a combater enjoos, vômitos e dores decorrentes."

O Guardian compilou artigos científicos sobre o assunto na China e identificou uma pesquisa de 2014 mostrando evidências "pequenas a moderadas" de que tratamentos alternativos, incluindo os chineses, podem aliviar dores decorrentes de tumores.