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'Achavam que ele não passaria de 6 semanas': o mal raro que ameaça vida de jovem durante o sono

Liam respira normalmente durante o dia, mas precisa de um respirador quando dorme - BBC
Liam respira normalmente durante o dia, mas precisa de um respirador quando dorme Imagem: BBC

18/07/2017 17h03

Quando Liam Derbyshire nasceu, os médicos disseram que ele não viveria mais de seis semanas.

Em alguns meses, porém, o britânico chegará aos 18 anos. Mas sua vida esteve longe ser confortável.

Liam é uma das cerca de 1,5 mil pessoas no mundo que sofrem de uma enfermidade rara chamada síndrome de hipoventilação central congênita.

Trata-se de uma anomalia que afeta o sistema nervoso central e autônomo, fazendo com que o portador deixe de respirar espontaneamente quando dorme.

A condição também é conhecida como "maldição de Ondina", em referência à mitologia germânica - é o nome de uma ninfa que amaldiçoa um humano que a traiu com um feitiço que o mataria se ele dormisse.

Na vida real, Liam só pode dormir com ajuda de um respirador. "Sem essa máquina, ele não estaria vivo", diz a mãe do adolescente, Kim.

Rotina de sustos 
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Liam Derbyshire quando bebê; pais ouviram dos médicos que o bebê não chegaria a sobreviver dois meses
Imagem: Arquivo pessoal

O transtorno genético afeta as funções vitais básicas do jovem, como a pressão sanguínea, o ritmo cardíaco e a respiração.

A síndrome o coloca sob risco grande de danos aos órgãos, especialmente o cérebro. Liam tem ainda dificuldades de aprendizagem, e a família vive uma rotina de incertezas, sem saber se o rapaz pode sofrer uma convulsão ou desmaiar.

Ele dorme em uma cama especial, equipada com uma placa que detecta seus espasmos e ativa o respirador, que obriga os pulmões do jovem a exalar. Alguém precisa estar sempre por perto caso algo dê errado.

O mal tem graus distintos de gravidade. Nas variações mais leves, os pacientes podem dormir, mas têm um sono pouco reparador.

A versão da qual Liam sofre, porém, é muito grave. Segundo a mãe, o caso se torna ainda mais raro à medida que o filho envelhece, pois ele foi desenganado pelos médicos ainda bebê.

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O adolescente tem dificuldades de aprendizado, mas constrói complexos modelos de Lego
Imagem: BBC

Os especialistas não sabem como a doença afetará sua capacidade de aprendizagem a longo prazo.

"Não sabemos qual é seu estado mental", diz o pai do jovem, Peter.

"Desconhecemos o espectro: não sabemos onde começam e onde terminam suas habilidades."

O quarto do rapaz parece um quarto de hospital. Fios e utensílios médicos se misturam com construções de Lego, a grande paixão de Liam.

A mãe conta que o jovem constrói sozinho veículos elétricos complexos, com milhares de peças.

"Meu pai só me ajuda com os cabos", contou ele à BBC, com uma voz suave e quase sussurrante. 

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"Somos uma prova de que sempre há esperança", diz Peter, o pai de Liam
Imagem: BBC

Esperança

Kim diz que o filho é um rapaz como qualquer outro - "irritante e resmungão", brinca ela.

Irmãos e sobrinhos o ajudam a ter alguma vida social.

"Ninguém sabe qual é sua expectativa de vida", diz Peter.

"Se tivéssemos escutado os médicos, ele não estaria vivo agora", complementa a mãe.

"Nunca pensamos realmente que ele viveria tantos anos. Somos uma prova de que sempre há esperança."

O pai reconhece que o filho jamais poderá ser totalmente independente. "Mas conosco ele será o mais independente possível."