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Coronavírus: por que a OMS diz que mundo está em 'território desconhecido' com nova doença

Da BBC

02/03/2020 16h36

A Organização Mundial de Saúde diz que o vírus é 'único', mas enfatiza que contenção ainda é a melhor aposta para enfrentar o problema.

O mundo está em "território desconhecido" com o surto de novo coronavírus, afirmou nesta segunda-feira (02/03) a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os médicos "nunca haviam visto um patógeno respiratório capaz de ser transmitido a toda uma comunidade", disse o chefe da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

As mortes em todo o mundo já passaram de 3.000. A maioria está na China, mas o número de novas infecções sendo registrado já é maior fora da China do que dentro.

No entanto, o Ghebreyesus insistiu: "Ainda podemos conter esse vírus".

Ele disse que o avanço da doença covid-19 — causada pelo novo vírus — globalmente não é uma "via de mão única" e pode ser combatido se os países agirem de maneira rápida e eficaz, começando com medidas de contenção.

"A única opção que temos é agir imediatamente", disse ele.

Um dos países mais afetados fora da China, a Itália, viu um salto no número de mortos de 34 para 52 na segunda-feira.

O que mais disse a OMS?

O principal conselho da organização é que cada país olhe para a sua própria situação, pois não há um meio uniforme de lidar com o surto.

"Cada país deve ter sua própria abordagem, mas deve começar com a contenção", afirmou Ghebreyesus.

Este é um "vírus único com características únicas" e a OMS já esperava amplo contágio, mas as medidas de contenção parecem ter funcionado, disse o médico.

Dos 62 países que relatam casos de infecção, 38 deles tiveram 10 ou menos confirmados, acrescentou.

"Cerca de oito países não registraram novos casos nas últimas duas semanas e foram capazes de conter o surto", afirmou. A China também mostrou que a contenção era possível mesmo em países com um grande número de casos.

A OMS continuará monitorando se o surto deve ser qualificado como uma pandemia, disse Ghebreyesus.

Coreia do Sul, Itália, Irã e Japão continuam sendo a maior preocupação. Um membro da equipe da OMS foi contaminado no Irã, embora os sintomas dele sejam leves, disse Ghebreyesus.

Como está a situação global?

Atualmente, existem quase 90.000 casos em todo o mundo, embora a grande maioria — mais de 90% — permaneça na China e a maioria na Província de Hubei, onde o vírus se originou no final do ano passado.

Dos quase 8.800 casos fora da China, 81% se concentram em quatro países ? Irã, Coréia do Sul, Itália e Japão.

Nesta segunda-feira, a Itália anunciou oficialmente que o número de mortos aumentou em 18, chegando a 52. No país, há 1.835 casos confirmados, a maioria deles nas áreas do norte da Lombardia e Vêneto.

O Irã registrou outras 12 mortes, elevando o total para 66. Entre elas, Mohammad Mirmohammadi, um consultor de alto escalão do líder supremo do país, Ali Khamenei, informou a mídia iraniana.

Portugal, Islândia, Jordânia, Tunísia, Armênia, Letônia, Senegal e Andorra também relataram seus primeiros casos confirmados na segunda-feira.

Duas pessoas morreram nos EUA, ambas no Estado de Washington.

O presidente Donald Trump disse ter pedido às empresas farmacêuticas para acelerar o trabalho em busca de uma vacina, enquanto o governador de Nova York, Andrew Cuomo, alertou que era "inevitável" que mais pessoas pegassem o vírus na cidade.

No Reino Unido, onde há 40 casos confirmados, o primeiro-ministro, Boris Johnson, disse que a situação "provavelmente se tornará mais significativa nos próximos dias e semanas", depois de realizar uma reunião do comitê de emergência.

Além disso, o Centro Europeu de Controle de Doenças confirmou que o nível de risco na UE aumentou de "moderado" para "moderado a alto". O órgão esclareceu um comentário da presidente da Comissão da UE, Ursula von der Leyen, que disse que o nível havia sido alterado para "alto".

A economia global pode crescer em seu ritmo mais lento desde 2009 este ano devido ao surto, alertou a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os mercados viveram uma montanha-russa na Europa e nas negociações iniciais em Nova York na segunda-feira. Preocupações com o surto na semana passada eliminaram mais de US$ 5 bilhões das ações mundiais

Catar, Equador, Luxemburgo, República Checa e Irlanda estão entre os países que confirmaram seus primeiros casos no fim de semana.

Como está a situação na Coreia do Sul?

Na segunda-feira, o país registrou mais duas mortes, elevando o total para 28.

Cerca de 60% dos mais de 4.000 casos confirmados no país são membros da seita religiosa da Igreja de Shincheonji de Jesus. Acredita-se que os membros tenham se infectado e depois viajado pelo país.

O líder da seita, Lee Man-hee, ajoelhou-se e curvou-se em uma entrevista coletiva para pedir desculpas.

"Embora não tenha sido intencional, muitas pessoas foram infectadas", disse o líder de 88 anos. "Empenhamos nossos maiores esforços, mas não conseguimos impedir tudo."

Os promotores da Coreia do Sul foram convidados a investigar Lee sob possíveis acusações de negligência grave.

E na China?

A China registrou mais 42 mortes, todas em Hubei. A província registrou mais de 90% das mortes globais.

Apenas oito dos novos casos relatados de infecção estavam fora de Hubei, indicando que a contenção estava funcionando.

Os 206 novos casos registrados em todo o país no domingo representaram o menor número de casos diários desde 22 de janeiro.

Um porta-voz da Comissão Nacional de Saúde da China disse que a próxima preocupação são "os riscos trazidos pela retomada da vida cotidiana" em algumas das regiões afetadas.

Quão letal é a covid-19?

A OMS diz que a doença parece afetar mais seriamente pessoas com mais de 60 anos e pessoas que já estão doentes.

Na primeira grande análise de mais de 44.000 casos da China, a taxa de mortalidade foi 10 vezes maior entre os idosos do que entre pessoas de meia idade.

Mas a maioria dos pacientes apresenta apenas sintomas leves e a taxa de mortalidade parece estar entre 2% e 5%, segundo a OMS.

Em comparação, a gripe sazonal tem uma taxa de mortalidade média de cerca de 0,1%, mas é altamente infecciosa — com até 400.000 pessoas morrendo a cada ano.

Outras cepas de coronavírus, como os causadores da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e da Síndrome Respiratória no Oriente Médio (Mers), têm taxas de mortalidade muito mais altas que o surto atual, pelos dados disponíveis até o momento.