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Vacinas contra covid: como está a vacinação no Brasil e no mundo

Quando se trata de distribuição de vacinas, há uma pergunta que a maioria das pessoas está fazendo - quando vou tomá-la? - BBC
Quando se trata de distribuição de vacinas, há uma pergunta que a maioria das pessoas está fazendo - quando vou tomá-la? Imagem: BBC

11/02/2021 15h07Atualizada em 12/02/2021 09h28

Quando tomarei a vacina contra a covid-19? Essa é uma pergunta que a maioria das pessoas está se fazendo.

Alguns países definiram metas muito específicas, mas o restante do mundo a imagem é bem menos clara.

Então, o que sabemos?

Vacinar o mundo contra a covid-19 é uma questão de vida ou morte; envolve processos científicos complicados, corporações multinacionais, logística, muitas promessas governamentais conflitantes e uma grande dose de burocracia e regulamentação, o que significa que descobrir quando e como as vacinas serão lançadas em todo o mundo não é exatamente simples.

Agathe Demarais, diretora de previsão global da Economist Intelligence Unit (EIU), braço de pesquisa e análise da revista britânica The Economist, fez algumas das pesquisas mais abrangentes sobre o assunto.

A EIU analisou a capacidade de produção mundial juntamente com a infraestrutura de saúde necessária para fazer chegar as vacinas aos braços das pessoas, o tamanho da população que um país tem que vacinar e, claro, o que eles podem pagar.

Muitas das descobertas da pesquisa parecem constatar o óbvio: a distribuição desigual das vacinas entre nações ricas e pobres. O Reino Unido e os Estados Unidos estão bem abastecidos com vacinas no momento, porque eles poderiam investir muito dinheiro no desenvolvimento delas e, assim, recebê-las primeiro.

Alguns outros países ricos, como Canadá e os da União Europeia, estão um pouco mais atrás.

A maioria dos países de baixa renda ainda não começou a vacinar, mas há algumas surpresas. Confira o programa de distribuição está acontecendo em todo o mundo.

Prioridade

O Canadá enfrentou críticas no fim do ano passado por comprar cinco vezes o suprimento de que precisa para cobrir sua população, mas parece que eles não vão receber as vacinas primeiro.

Isso porque o país optou por investir em vacinas de fábricas europeias, temendo que os EUA, ainda sob o comando de Donald Trump, proibissem as exportações. Mas essa acabou sendo uma aposta ruim.

As fabricantes europeias têm tido problemas com o abastecimento e, recentemente, foi a UE, e não os EUA, que ameaçou proibir as exportações.

"Enquanto o mercado europeu não tiver vacinas suficientes, acho que as grandes importações para o Canadá vão continuar fora de cogitação", diz Agathe Demarais.

Mas também existem alguns países que estão se saindo melhor do que o esperado.

Até a conclusão desta reportagem, a Sérvia era a oitava nação no mundo com a maior parcela de sua população vacinada, à frente de qualquer país da UE. O sucesso do país se deve em parte a uma implementação eficiente, mas também porque vem se beneficiando da chamada diplomacia da vacina — uma batalha entre a Rússia e a China por influência na Europa Oriental. É um dos poucos lugares onde a vacina russa, Sputnik V, e a vacina da fabricante chinesa SinoPharm já estão disponíveis.

Em teoria, os sérvios podem escolher a vacina que preferem - Pfizer, Sputnik ou a da SinoPharm. Na prática, a maioria das pessoas acaba recebendo a da SinoPharm. A influência que a China está exercendo provavelmente será de longo prazo. Os países que usam a primeira e a segunda dose da SinoPharm também devem procurar a China para doses de reforço, se elas forem necessárias no futuro.

Os Emirados Árabes Unidos também dependem fortemente da vacina da SinoPharm — ela representa 80% das doses que estão sendo administradas lá agora. O país árabe também está construindo uma unidade de produzir a mesma vacina.

"A China está chegando com instalações de produção, trabalhadores treinados, então isso vai dar uma influência de longo prazo à China", diz Agathe Demarais. "E será muito, muito difícil para os governos que recebem essas vacinas dizerem não à China para qualquer coisa no futuro."

Mas, ser uma superpotência global de vacinas não significa que sua população será vacinada primeiro.

O levantamento da EIU prevê que as populações das duas das maiores potências mundiais de produção de vacinas, China e Índia, podem não ser totalmente vacinadas até o final de 2022. A isso se devem o tamanho de sua população e uma escassez de profissionais de saúde.

No Brasil, a vacinação já começou, mas a estimativa é de que a vacinação em massa só será atingida na metade do ano que vem, segundo a EIU.

O estudo destaca que Brasil e México, classificados como países de renda média, terão doses para imunizar grupos prioritários devido aos acordos firmados com os laboratórios em troca da execução de testes clínicos.

Mas a "capacidade de chegar à vacinação em massa depende de outros fatores, incluindo espaço fiscal, tamanho da população, número de profissionais de saúde, infraestrutura e vontade política".

Outros países da América Latina, como Argentina e Chile, também terão vacinação em massa somente em 2022, segundo as estimativas. E Bolívia, Paraguai, Venezuela, Guiana e Suriname, a partir de 2023.

Segundo a plataforma Our World in Data, desenvolvida pela Universidade de Oxford, o Brasil aplica até o momento 1,94 doses para cada 100 habitantes.

O país com a maior taxa de vacinação no mundo é Israel, com uma taxa de 69.46 para cada 100 habitantes.

Em números absolutos, os Estados Unidos são o país que mais administrou doses de vacinas contra a covid-19, cerca de 45 milhões até agora.

Índia: eldorado da produção de vacinas

O sucesso da Índia como produtora da vacina contra a covid-19 se deve em grande parte a um homem, Adar Poonawalla. Sua empresa, o Instituto Serum, é o maior fabricante de vacinas do mundo.

Mas, no meio do ano passado, sua família começou a pensar que ele havia perdido a sanidade. Ele estava apostando centenas de milhões de dólares de seu próprio dinheiro em vacinas, em um momento em que não sabia se (e quais delas) funcionariam.

Em janeiro, a primeira dessas vacinas, desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, foi entregue ao governo indiano. Agora, o Serum está produzindo 2,4 milhões de doses por dia.

Sua empresa é um dos dois principais fornecedores da Índia e também fornece vacinas para o Brasil, Marrocos, Bangladesh e África do Sul.

"Achei que a pressão e toda a loucura acabariam agora que fizemos o produto", diz ele. "Mas o verdadeiro desafio é tentar manter todos felizes.

"Pensei que haveria tantos outros fabricantes capazes de fornecer. Mas, infelizmente, no momento, pelo menos, no primeiro trimestre, e talvez até no segundo trimestre de 2021, não veremos um aumento substancial na oferta. "

Ele diz que a produção não pode ser aumentada durante a noite.

"Leva tempo", diz Poonawalla. "As pessoas pensam que o Instituto Serum tem um tempero secreto. Sim, somos bons no que fazemos, mas não é uma varinha mágica."

Poonawalla tem uma vantagem competitiva agora porque começou a construir instalações em março do ano passado e a estocar produtos como produtos químicos e frascos de vidro em agosto.

Durante a produção, a quantidade de vacina produzida pode variar muito e há muitos estágios em que as coisas podem dar errado.

"É tanto arte quanto ciência", diz Agathe Demarais, da EIA.

Para os fabricantes que estão iniciando a produção agora, levará meses para produzir vacinas. E o mesmo se aplica a quaisquer reforços que possam ser necessários para lidar com novas variantes.

Poonawalla diz que está comprometido em fornecer primeiro para a Índia e depois para a África por meio do esquema chamado Covax, que visa a distribuição igualitária e acessível de vacinas pelo mundo.

A Covax é uma iniciativa liderada pela OMS, Gavi, a aliança da vacina e CEPI, o Centro de Preparação para Epidemias.

Os países que não podem pagar as vacinas vão obtê-las gratuitamente por meio de um fundo especial. O restante vai pagar, mas a teoria é que eles conseguirão um preço melhor negociando em blocos do que se o fizerem individualmente.

A Covax está planejando começar a distribuir vacinas no fim de fevereiro (a expectativa é de que o Brasil receba 10,6 milhões de doses por intermédio do Covax neste semestre).

Nesse ínterim, o plano da Covax está sendo prejudicado pelo fato de que muitos países envolvidos também estão negociando seus próprios acordos paralelamente.

Poonawalla diz que quase todos os líderes africanos no continente entraram em contato com ele para ter acesso às vacinas de forma independente. Na semana passada, Uganda anunciou que havia garantido 18 milhões de doses do Instituto Serum por US$ 7 cada —muito mais do que os US$ 4 pagos pela Covax.

O Instituto Serum afirma estar em negociações com Uganda, mas nega que qualquer acordo tenha sido assinado.

Poonawalla fornecerá 200 milhões de doses da vacina da Oxford/AstraZeneca à Covax assim que obtiver a pré-aprovação da OMS. Ele prometeu à Covax mais 900 milhões de doses, embora não tenha confirmado quando serão entregues.

Embora esteja comprometido com o esquema, ele admite que enfrenta problemas. A Covax está lidando com muitos produtores de vacinas diferentes, diz ele, cada um oferecendo preços e prazos de entrega variáveis.

Agathe Demarais e a EIU também não estão excessivamente otimistas quanto à capacidade da Covax de fazer uma vacinação de amplo alcance. "Será uma pequena diferença marginal, mas não uma virada de jogo", diz Demarais.

Segundo seu estudo para a EIA, alguns países podem não ser totalmente vacinados até 2023 — ou nunca. A vacinação pode não ser uma prioridade para todos os países, especialmente aqueles que têm uma população jovem e não veem um grande número de pessoas adoecendo.

O problema com esse cenário é que, enquanto o vírus prosperar em algum lugar, poderá sofrer mutações e migrar. Como resultado, variantes resistentes a vacinas continuarão a evoluir.

Nem tudo, porém, são más notícias. As vacinas estão sendo produzidas mais rápido do que nunca, mas a escala da tarefa - imunizar 7,7 bilhões de pessoas - é enorme e nunca foi tentada antes.

Demarais acredita que os governos devem ser honestos com seu povo sobre o que é possível: "É muito difícil para um governo dizer: 'Não, não vamos conseguir uma ampla cobertura de imunização por vários anos'. Ninguém quer dizer isso."

Pesquisa de dados: Becky Dale e Nassos Stylianou.