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CRM investiga mortes em lipoaspiração em MG

Eduardo Kattah, de Belo Horizonte<br/> <br/>

28/05/2007 19h53

O Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) abriu sindicância para apurar as eventuais responsabilidades pelas mortes de duas mulheres que se submeteram a cirurgias de lipoaspiração em uma clínica de Governador Valadares, no leste do Estado. Os dois óbitos foram registrados num período de oito dias. As operações foram realizadas pelo cirurgião plástico Vander Araújo na clínica Sane Body Clínica de Medicina Estética e Emagrecimento.

A dona-de-casa Danielle Siman Soares, de 29 anos, foi operada no dia 22 e faleceu na madrugada do último sábado. Já Claudia Aparecida Alves, de 42 anos, morreu no dia 18, três dias após se submeter à lipoaspiração. As duas sofreram de complicações pós-operatórias e foram levadas novamente para a clínica, onde faleceram. "Fiquei sabendo através da imprensa desses óbitos hoje. Imediatamente, o Conselho Regional de Medicina está abrindo uma sindicância para apuração rigorosa dos fatos", disse o delegado do CRM em Governador Valadares, Márcio Rezende.

A investigação vai apontar se houve erro médico, por "imperícia, imprudência ou negligência", observou Rezende. O delegado da CRM disse que outras hipóteses para as mortes serão investigadas: "acidente imprevisível" ou "resultado incontrolável" - quando, segundo ele, a ciência e a competência profissional não dispõem de soluções para o caso. O cirurgião responsável foi intimado a apresentar toda documentação médica das pacientes que indiquem os procedimentos adotados no pré-operatório, durante a cirurgia e no período pós-operatório. "Se houver indícios de infração, de imperícia, de negligência ou de imprudência, será aberto um processo ético profissional".

As causas apontadas para a morte de Danielle Siman foram parada cardiorrespiratória e tromboembolismo pulmonar pós-operatório. Ela começou a passar mal na última quinta-feira. A família, porém, não trabalha a princípio com a hipótese de erro médico. "Vamos aguardar a decisão do conselho. Por enquanto estamos trabalhando com a hipótese de que não houve erro médico, que houve uma fatalidade simplesmente. Posteriormente vamos analisar a decisão do CRM", disse o advogado Edson Neves.

Segundo ele, um médico da família acompanhou todo o procedimento. "Houve uma avaliação do médico designado pela família e ele não visualizou nenhuma negligência". Os familiares de Claudia Aparecida chegaram a registrar ocorrência policial, mas também, num primeiro momento, evitam qualquer acusação.

Aluguel

O fundador e proprietário da Sane Body, José Carlos Sary Eldin, disse que a responsabilidade pelos óbitos é do médico, já que a clínica apenas alugou o bloco cirúrgico para que fossem realizados os procedimentos. "Nesses dois episódios, ela (a clínica) cedeu o bloco cirúrgico para o doutor Vander", afirmou Eldin, que classificou as mortes como "uma fatalidade".

Além de Governador Valadares, a Sane Body está estabelecida em Belo Horizonte e Ipatinga. O site da clínica informa que ela foi fundada "há mais de oito anos" por Eldin. O endereço informa que o estabelecimento possui "larga experiência em pesquisa e estudos no campo da obesidade, onde são desenvolvidos trabalhos com ótimos resultados, e sempre buscando uma associação perfeita entre a fitoterapia da rica flora da farmacopéia brasileira e a milenar medicina chinesa com os recursos tecnolólgicos da medicina ocidental".

Afirma ainda que na Sane Body foram desenvolvidos "vários trabalhos de repercussão e resultados internacionalmente reconhecidos". De acordo com o proprietário da clínica, as cirurgias estão concentradas na filial de Governador Valadares. O médico Vander Araújo não foi localizado pela reportagem.