Topo

Com excesso de córneas, EUA fazem exportação

Mário Sérgio Lima<br>Em São Paulo

14/10/2007 11h16

Enquanto diversos Estados brasileiros sofrem com as baixas taxas de captação de córneas e com a falta delas para transplantes, nos Estados Unidos os métodos de captação ativa do tecido são eficazes a ponto de os bancos de olhos do país suprirem a necessidade interna e ainda exportarem para interessados em outras nações. O procedimento, inédito no resto do mundo, ajuda países que não conseguem captar órgãos suficientemente.

Dentre os órgãos e tecidos que podem ser transplantados de pacientes mortos, a córnea é aquele que tem a maior facilidade de ser captada. Isso porque, ao contrário dos outros órgãos, que devem ser retirados após a constatação da morte encefálica (estado em que há a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais relacionadas com a existência consciente) a córnea pode em tese ser retirada de qualquer pessoa morta há até seis horas.

Além disso, se bem acondicionada, ela consegue permanecer "transplantável" por até quase duas semanas. Sem contar que, por não ser um órgão vital, permite que o paciente possa aguardar mais na lista de espera. Todas essas características possibilitam a exportação, que não pode ser feita hoje com os outros órgãos.

De acordo com o médico Elcio Sato, coordenador do departamento de transplantes de tecidos da sociedade médica Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a exportação de córneas também é procurada por pacientes brasileiros. "Quem tem dinheiro para ir aos Estados Unidos realizar o procedimento ou para importar as córneas pode buscar os bancos de olhos de lá", afirma.

Contudo, quem estiver pensando em buscar a solução nos EUA, deve saber que a opção custará caro. Embora a doação da córnea seja gratuita, os custos totais da operação podem chegar a algo em torno de US$ 1,4 mil (cerca de R$ 2.700).

Para o paciente que preferir importar a córnea, é necessário arcar com os custos do transporte do tecido para o Brasil. Quem decidir por essa opção pode, assim, "furar a fila de espera" pela córnea, já que a lista nacional refere-se apenas aos órgãos captados no próprio Brasil.

Para o presidente da ONG Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), Francisco Neto de Assis, pacientes do país não deveriam buscar nos bancos de olhos norte-americanos a solução para a falta de córneas.

"Deveríamos ter capacidade de levantar o número suficiente de córneas internamente", afirma. Segundo dados do Ministério da Saúde, até junho, a lista de espera por córneas em todo o Brasil tinha 26.793 pessoas.