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Fator ambiental pode alterar algumas doenças herdadas dos pais

17/06/2008 14h30

São Paulo - A palavra herança sugere algo bom, alguma riqueza, um presente inesperado, mas nem todo legado dos pais é necessariamente agradável. Doenças cardíacas, obesidade e diabete são algumas das doenças que podem ser passadas de uma geração para outra. No entanto, o fator ambiental pode ter grande peso para algumas doenças. Todas as características físicas dos pais podem ser transmitidas aos filhos, mas segundo o geneticista Luiz Garcia Alonso, do Departamento de Morfologia e Genética da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), elas se modificam ao serem herdadas. "O ambiente vai modulando estas características", diz Alonso.

De acordo com a explicação do médico, se gêmeos de olhos claros são separados ao nascimento e um vai morar no Norte do Brasil e o outro na Suécia, com o passar dos anos o gêmeo que mora no Brasil terá o olho mais escuro uma vez que receberá mais luminosidade e produzirá mais melanina (proteína responsável pela pigmentação da pele, dos olhos e dos cabelos).

Para algumas doenças, o fator ambiental pode ser nulo, embora para outras pode ter peso. Os tumores, por exemplo, raramente são de base genética. Acredita-se que apenas de 5% a 10% deles tenham esta origem. O fato de algo ser hereditário não significa que seja também irreversível. "A hereditariedade, hoje, deve ser considerada também pelo efeito do ambiente sobre os genes", diz o psiquiatra Marcelo Feijó, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Existem doenças que são claramente hereditárias e aparecem devido à alteração em um gene ou cromossomo. Deste processo surgem problemas como os erros inatos do metabolismo e a Síndrome de Down, por exemplo. Neste caso, a doença tem um caráter monogênico, pois foi transmitida por um único gene ou cromossomo defeituoso - e o ambiente tem seu papel zerado. Doenças mais comuns, como obesidade, diabete e hipertensão, têm um caráter poligênico. Ou seja: além dos genes, pesa a contribuição do ambiente.

Genoma

Segundo Carlos Alberto Moreira Filho, superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa(IIEP), nos últimos anos é que o estudo destas doenças comuns se intensificou, graças ao seqüenciamento do genoma. "Por meio da genômica, que é o estudo de todos os genes e sua resposta aos efeitos ambientais, conseguimos identificar quais os genes ativos em um tumor, por exemplo", explica Moreira. Com isso, médicos passaram a prescrever tratamentos personalizados para os pacientes, aumentando as chances de sucesso das terapias.

Lola Félix

Lola Félix