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Estudo revela que feto herda imunidade da mãe

Da Agência Estado<br>Em São Paulo

16/01/2009 13h00

Em mulheres grávidas, um grande número de células da mãe entra no corpo do feto e o sistema imunológico em desenvolvimento aprende a tolerar tais células, em vez de atacá-los da mesma forma como reagirá contra substâncias estranhas no futuro. Ao entrar em contato com as células da mãe, o feto dá início à produção de células imunes especiais, que suprimirão a resposta contra a mãe. A descoberta é de um estudo feito por cientistas dos Estados Unidos e da Suécia e publicado pela revista Science.

Essa coexistência pacífica representa, segundo a pesquisa, uma forma de tolerância na qual o organismo de um indivíduo é capaz de viver ao lado de objetos externos. De acordo ainda com os pesquisadores, essa tolerância continua pelo menos até o início da vida adulta, o que ajudaria a explicar por que pacientes que precisam de transplantes de órgãos tendem a aceitar bem tecidos semelhantes aos de suas mães. Há tempos que se sabe que o sistema imunológico fetal de mamíferos é tolerante a substâncias externas, mas pouco se conhecia sobre o sistema em fetos humanos.

Em trabalho anterior, o mesmo grupo da Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF) que coordenou o novo estudo verificou que o sistema imunológico fetal é composto de muitas células imunes especiais, conhecidas como células T regulatórias. Desta vez, os pesquisadores procuraram tentar entender o motivo da existência de tais células. Descobriram que são células da mãe que cruzam a placenta até o feto durante a gravidez que induzem a geração das células T regulatórias.

Tolerância

Essas células ajudam a produzir o estado de tolerância entre o feto e a mãe. "Os resultados fornecem uma explicação potencial de por que muitos indivíduos demonstram tolerância em relação a antígenos HLA (antígenos leucocitários humanos)", disse o principal autor do estudo, Jeff Mold, da Divisão de Medicina Experimental da UCSF.

Segundo Joseph McCune, diretor da Divisão de Medicina Experimental da UCSF, a pesquisa levanta uma importante questão em relação ao HIV. "Apenas de 5% a 10% dos bebês nascidos de mães infectadas com HIV e não submetidas a tratamento nascem infectados com o vírus. Talvez algum aspecto da tolerância do sistema imunológico fetal explique como o bebê evita a infecção no útero", observou McCune. Nesse sentido, segundo ele, o estudo abre novos caminhos de pesquisa que podem se mostrar importantes para a criação de uma vacina eficiente contra o HIV.

Cecilia Nascimento