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Produto enriquecido pode ocultar alto teor gordura, açúcar e sódio

Da Agência Estado<br>Em São Paulo

27/03/2009 11h45

Um selo na embalagem avisa que a bolachinha salgada é "fonte de vitaminas, fibras e cálcio", uma guloseima que ganha status de alimento nutritivo. O que a propaganda não informa tão claramente é que essa mesma porção de biscoito, acondicionada em um pacote de 26 gramas, indicado para consumo individual, também contém 203 mg de sódio. Essa quantidade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), se aproxima da necessidade diária de sódio indicada para uma criança de três anos - estimada em 225 mg.

As informações nutricionais do produto só aparecem no verso da embalagem, em uma tabela com letras minúsculas. Ali também constam altas concentrações de gordura, inclusive saturada, além de açúcar. "Pense em uma mãe que decide comprar uma bala, que só tem açúcar na composição, porque o doce foi enriquecido com vitamina C. Isso é mascarar a realidade", diz a nutricionista Márcia Fidelix, presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). "Não resolve o produto ser acrescido de minerais ou vitaminas se não tiver uma base nutritiva", completa ela. No caso do sódio, a nutricionista diz que o consumo em excesso tem impacto sobre o sistema circulatório.

Professora da faculdade de ciências farmacêuticas da Universidade de São Paulo, doutora em tecnologia bioquímico-farmacêutica e diretora de publicações da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Suzana Lannes enfatiza que a fortificação dos produtos de supermercado não deve servir de argumento para o livre consumo de industrializados em detrimento dos alimentos naturais. "A mãe não deve comprar só porque o produto contém um aditivo que parece ser benéfico, esse produto não pode roubar o lugar de uma fruta, por exemplo. Agora, se a criança já iria mesmo consumir aquele doce, é melhor que ele seja rico em vitaminas", afirma.

Necessidades

O cardiologista Daniel Magnoni, responsável pelo serviço de terapia nutricional do Hospital do Coração e diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição, é mais radical quanto ao consumo de guloseimas com apelo saudável. "Vitamina não é fortificação com justificativa científica. Não há vantagem alguma em acrescentá-las aos produtos. Apenas grupos especiais, como grávidas e terceira idade, precisam de suplementação. E, mesmo nesses segmentos, o melhor é buscar a orientação de um nutricionista e suplementos específicos da indústria farmacêutica. Para as demais pessoas, a indicação para ingerir vitaminas é comer frutas. Biscoito recheado, com ou sem vitamina, é algo que nunca deveria ser consumido", sentencia.

De acordo com Magnoni, o acréscimo de elementos aos produtos de supermercado só é válido no caso das fibras e dos minerais, sobretudo zinco. "Essa é uma inovação que vem ao encontro das necessidades da sociedade, que tem uma alimentação pobre em fibras. Consumir pão com fibra é melhor do que ingerir pão sem fibra, da mesma forma que o iogurte com cálcio é mais benéfico do que aquele que não o contém", diz.

Giuliana Reginatto