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México reclama de discriminação por gripe suína

07/05/2009 07h32

O governo do México reclamou do que chamou de medidas discriminatórias contra o país aplicadas por vários países desde o início do surto de gripe suína, em meados de abril.

Em uma entrevista coletiva na Cidade do México, Juan Manuel Gómez, subsecretário do Ministério das Relações Exteriores, disse que o país está inconformado com as "medidas xenófobas" que resultaram na detenção de cidadãos mexicanos, na proibição de voos com destino ao e vindos do México e em embargos contra carne suína do país.

Por ter sido o primeiro país a registrar casos de contaminações em humanos pelo vírus H1N1, o México se viu no epicentro do surto que atingiu 23 países. Entre os mais afetados pelas supostas medidas discriminatórias impostas por outros países estiveram os cidadãos mexicanos em trânsito.

Na quarta-feira, após quase 60 horas de voo, 138 mexicanos submetidos a quarentena por autoridades chinesas regressaram ao México em avião enviado pelo governo e foram recebidos pela primeira-dama, Margarita Zavala.

"Fomos vítimas de discriminação, maus-tratos e humilhações, pois nenhum de nós sequer apresentou sintomas ", disse a mexicana Mirna Berlanga, que estava no voo. "Assim que chegamos ao aeroporto, nos separaram dos outros passageiros e nos mantiveram em ambulâncias por horas."

Outros passageiros afirmaram que não enfrentaram maiores problemas, mas disseram estar aliviados por voltar à casa.

"Quando o avião que foi nos buscar chegou ao aeroporto e o piloto mostrou a bandeira do México, nos abraçamos e choramos", disse Rosa María García.

Um cidadão mexicano teve de permanecer hospitalizado em Hong Kong, já que testes revelaram ser portador do vírus.

A embaixada chinesa nega discriminação e justifica o isolamento dos mexicanos como medida sanitária. "China é um país de 1,3 bilhão de habitantes, as grandes cidades têm uma densidade demográfica muito elevada e o sistema de saúde pública está longe de ser perfeito", expressou a diplomacia chinesa em comunicado. "Se o vírus penetra em nossa população, as consequências serão catastróficas."

A representação chinesa lembrou ainda do episódio vivido pelo país com a gripe aviária e disse crer que o isolamento é a melhor forma de evitar a propagação do novo vírus.

Também na quarta-feira, o Haiti, país mais pobre das Américas, impediu que um cargueiro mexicano atracasse em seus portos, também por medo da gripe suína. O navio levava 70 toneladas de alimentos como ajuda comunitária.

Pelo mundo
Embora a Organização Mundial da Saúde tenha reprovado por diversas vezes o fechamento de fronteiras e a adoção de medidas discriminatórias, Argentina, Equador, Peru e Cuba também proibiram temporariamente voos provenientes e com destino ao México.

O governo de Cingapura expediu uma ordem para quarentena de todos os passageiros que cheguem do México, Estados Unidos e Canadá, prevendo multa de aproximadamente US$ 7 mil ou prisão de até um ano para quem se negar a cumprir a determinação.

A importação de produtos suínos mexicanos também foi barrada em alguns países, mesmo com as declarações das autoridades médicas internacionais de que não há risco em consumir carne de porco.

Nos Estados Unidos, durante um debate sobre a gripe suína, um locutor de rádio se referiu aos imigrantes provenientes do México como "criminosos" e disse que as salas de emergência dos hospitais americanos eram como "condomínios para mexicanos".

Também nos Estados Unidos, uma universidade decidiu fazer uma festa de formatura separada para os alunos que regressaram recentemente do México, com medo de que tenham contraído o vírus.

O Japão voltou a exigir visto de mexicanos que queiram viajar a este país e a França chegou a propor à União Europeia que se cancelassem todos os voos entre Europa e México - o que foi rejeitado pelos demais países do bloco.

Futebol
Na semana passada, Colômbia e Chile se recusaram a ser sede da partida entre o clube mexicano Chivas e o brasileiro São Paulo, pelas oitavas-de-final da Copa Libertadores da América. O Coritiba ofereceu seu estádio e agora a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) considera a possibilidade de o jogo se realizar no México. Mas o local ainda não foi confirmado pela entidade.

Há uma semana, o zagueiro mexicano Héctor Reynoso, do Chivas, tossiu no rosto do argentino Penco, do Everton-CHI, durante jogo válido pela última rodada da Taça Libertadores.

Segundo Reynoso, durante todo o jogo os argentinos chamaram os mexicanos de leprosos e disseram que eles estavam infectados.

Os jogadores do Chivas também lamentaram o tratamento que receberam no Chile recentemente. Segundo alguns jogadores, os clientes de um shopping center fizeram piadas e cobriram a boca quando passaram por eles.

A embaixada chilena no México repudiou os atos. "Se algum mexicano se sentiu ofendido por alguma atitude inadequada, pedimos desculpas. Mas queremos enfatizar que estes incidentes isolados não representam todos os chilenos nem podem manchar uma longa história de amizade e solidariedade", disse o comunicado da sede diplomática.

Autoridades
Na mesma entrevista coletiva à imprensa na Cidade do México, o representante das Nações Unidas no país, Magdy Martínez Solimán, disse que os casos negativos já foram apresentados à Assembleia Mundial de Saúde e, que, felizmente, são "uma gota de intolerância (...) contra um oceano de solidariedade".

Desde que a epidemia foi declarada no país, o México vem recebendo doações de material médico e de higiene, assim como o apoio de especialistas de vários países.

Na terça-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu aos governos que não anulassem as restrições comerciais e de viagens decorrentes da gripe suína, exceto nos casos em que as medidas estejam baseadas em um fundamento científico claro.

O presidente Felipe Calderón também se manifestou contra as medidas discriminatórias e disse que, diante do surto, o México está trabalhando para proteger não só o país, mas toda a humanidade.

"Esta não é a primeira vez que o México se vê submetido a uma prova tão difícil, nem será a última. Mas são as adversidades que constroem a identidade dos povos e das pessoas. Estou convencido de que, quando esta situação passar, o México será muito mais forte."