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Análise: ação de cada país é o mais importante no combate à gripe suína

11/06/2009 17h54

As manchetes estão por toda a parte: a gripe suína alcançou proporções pandêmicas. Mas uma vez que a poeira assente, quais seriam as implicações reais da decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS) de declarar uma pandemia?

Tecnicamente, uma pandemia ocorre quando há transmissão de pessoa para pessoa de forma generalizada em comunidades de pelo menos duas regiões do mundo.

Mas isso não significa que a gripe suína vai se alastrar da mesma forma como a gripe espanhola, que matou cerca de 50 milhões de pessoas em 1918.

Em muitos aspectos, a fase seis - classificação dada pela OMS ao estágio de pandemia em uma determinada doença - é apenas um rótulo.

Estratégias
O que realmente importa é o que cada país está fazendo para combater a doença - e isso não é determinado pela OMS.

O anúncio da OMS não vai fazer qualquer diferença para países em desenvolvimento: esses lutam para implementar seus planos por conta da falta de recursos.

E na Austrália - país que determinou a mudança da fase cinco para a fase seis - a estratégia de combate permanece a mesma das últimas semanas.
O anúncio também não altera a abordagem adotada pela Grã-Bretanha na tentativa de conter o alastramento do vírus, que até o momento já infectou mais de 700 pessoas no país.

"(A declaração da OMS) é irrelevante", disse Steve Field, presidente do Royal College of GPs, que trabalhou junto ao governo britânico na criação de planos de contingência. "O que realmente importa é o que está acontecendo em lugares como Birmingham, onde a gripe se espalhou."

"A abordagem adotada aqui tem sido conter a doença", disse Field. "Está funcionando até agora, mas as coisas podem mudar muito rapidamente."
Alerta

A Grã-Bretanha tem quatro níveis de alerta para uma pandemia, e a situação atual tem as características do nível três, definido como "ataques dentro do país".

Desde que os casos de gripe suína começaram a ser identificados na Grã-Bretanha, as autoridades de saúde vêm seguindo um procedimento padrão, ou seja, estão oferecendo drogas antivirais, isolando os doentes e identificando as pessoas com quem os doentes mantiveram contato.
Isto resultou no fechamento de várias escolas.

Mas se a epidemia na Grã-Bretanha alcançar um estágio de alastramento generalizado sem que uma vacina para proteger as pessoas tenha sido criada, será necessária uma estratégia diferente.

Ela poderia envolver várias medidas, como restrições a eventos públicos - como jogos de futebol e concertos - e uso limitado de drogas.

Na prática, isso significaria dar o remédio apenas aos infectados, ao invés de oferecer a droga - como medida preventiva - às epssoas com quem o paciente esteve em contato.

Os planos de contingência do governo britânico também incluem cancelar operações de rotina do Serviço Nacional de Saúde do país (NHS, na sigla em inglês) para permitir que os hospitais tratem os pacientes com gripe.

Visão global
Para o especialista em proteção à saúde Paul Hunter, da University of East Anglia, na Inglaterra, as consequências políticas e econômicas da primeira pandemia a afetar o globo em quatro décadas podem ser mais graves do que as questões operacionais.

"Haverá debates no Parlamento, as pessoas vão ficar preocupadas e temos de ver como as empresas vão reagir", disse Hunter. "Pode haver pânico e pedidos de restrição a viagens e coisas desse tipo."
Hunter acha que a estratégia adotada pelo governo britânico até o momento parece correta.

"E se por um lado é preocupante que os casos continuem se alastrando durante o verão, quando a gripe normalmente não se espalha, podemos nos tranquilizar porque se trata ainda de uma doença não muito grave".
Está é a chave da questão. A palavra pandemia soa grave, mas diz respeito apenas à distribuição geográfica da gripe suína, não à sua gravidade.

Ela se espalhou por mais de 70 países e infectou quase 30 mil pessoas, mas o número de mortos, 144, é relativamente pequeno.