Em 3 meses, Brasil gasta 11% da verba contra gripe
Em quase três meses, o governo federal gastou 11,2% do total de recursos previstos para o combate à gripe suína, indica um levantamento feito pela ONG Contas Abertas por meio de dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Dos R$ 129,2 milhões autorizados em 20 de maio (por meio da Medida Provisória 463) para ações de prevenção, preparação e enfrentamento da nova doença, R$ 14,5 milhões haviam sido efetivamente pagos até a última quarta-feira. A maior parte dos recursos (R$ 102,4 milhões) é destinada ao Ministério da Saúde. A pasta também é responsável por quase a totalidade dos valores pagos até agora (R$ 14,3 milhões). Até o momento, 97% (R$ 14 milhões) do montante já pago foi destinado a ações de publicidade de utilidade pública, inclusive campanhas de esclarecimento da população sobre a doença que, até quarta-feira, já havia provocado 192 mortes no Brasil. Especialistas ouvidos pela BBC Brasil afirmam que, no caso de uma pandemia como a de gripe suína, é importante que grande parte dos recursos sejam destinados a campanhas de esclarecimento. "A campanha é importante no sentido de manter a população informada sobre as medidas básicas, que diminuem a probabilidade de infecção", diz o epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. De acordo com Waldman, doenças que têm transmissão por via respiratória e para as quais ainda não há vacina, caso da gripe suína, não são controláveis. "Os textos técnicos sobre a gripe suína não falam em controle, falam apenas em mitigar a doença." O infectologista Stefan Cunha Ujvari, médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e autor do livro A história da humanidade contada pelos vírus, também afirma que a estratégia adotada pelo Brasil é correta. No entanto, segundo ele, as campanhas poderiam ter sido iniciadas mais cedo. "As propagandas só foram lançadas com mais intensidade quando se viu que o vírus já estava circulando no país", diz. "Mas a mídia acabou fazendo esse papel, então não foi um grande problema." Medicamentos Segundo os dados do Siafi, o percentual de recursos empenhados até agora (com destinação certa, mas que ainda não foram pagos) pelo governo federal chega a 52,9% (R$ 68,4 milhões). Questionado sobre o ritmo de gastos, o Ministério da Saúde informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que do total repassado, "a Pasta já comprometeu 77,5%" (a conta inclui recursos pagos e empenhados). Disse ainda que a recomendação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) é de que "os governos devem agir com parcimônia, já que as pandemias são eventos prolongados". Para os especialistas consultados pela BBC Brasil, além de campanhas de esclarecimento, a principal destinação de recursos em um caso como o da gripe suína deve ser para compra de medicamentos e vacinas. Por parte do Ministério da Saúde, além da "produção e veiculação de campanhas de utilidade pública na mídia", os recursos já empenhados foram aplicados em material de proteção individual (luvas, aventais, respiradores, óculos e álcool gel), compra de cápsulas de fosfato de oseltamivir (medicamento antiviral), produção e distribuição do medicamento e equipamentos para área de vigilância em saúde, informou a assessoria de imprensa. Ainda não há vacina contra a gripe suína, mas a expectativa da Organização Mundial da Saúde é de que os primeiros lotes estejam prontos já em setembro.
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