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Ações simples reduziriam mortes por dengue, diz médico

03/12/2009 09h30

São Paulo - Com a proximidade do verão, aumentam as preocupações em torno de uma doença infelizmente bem conhecida pela população brasileira: a dengue. Esse temor não seria tão grave se três medidas simples fossem implementadas: diagnóstico, orientação adequada e um sistema de saúde capaz de atender os pacientes. "Com essas ações, eu tenho certeza de que o índice de letalidade da febre hemorrágica da dengue (um dos tipos que causa mais mortes) cairia de 8% para até menos de 2%", disse o médico Artur Timerman, mestre em Infectologia pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Painel de Atualização sobre Dengue, um consenso produzido por especialistas para abordar os diversos aspectos da doença.

Para ele, é incompreensível que as pessoas morram em razão de não poder contar com um atendimento básico e elementar. Hoje, afirmou, os hospitais públicos não têm condições de internar os pacientes para receber hidratação. "É um atestado da incapacidade do nosso sistema de saúde." De acordo com ele, citando a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), as estimativas mostram que, a cada ano, são gastos no mundo US$ 8,5 bilhões com os malefícios decorrentes da dengue - além da saturação dos serviços de saúde, há o custo produtivo, por exemplo, já que a pessoa fica impossibilitada de trabalhar durante o período em que está enferma. "Seria bem melhor aplicar esse dinheiro para ajudar a controlar a doença (...) São esperados muitos casos para o próximo ano."

Timerman afirmou que é preciso aprender a conviver com a dengue, já que "ela veio para ficar". Segundo ele, o modelo de crescimento econômico e a expansão desordenada dos centros urbanos, além do aquecimento global, contribuem para que o mosquito, usando as palavras do especialista, se "sinta em casa". O médico defende as campanhas públicas, embora não as considere a arma mais importante contra a dengue. "Além da orientação, é preciso ter uma vigilância ativa" - pessoas especializadas que transmitam informações sobre a doença tanto para a população quanto para os profissionais da área da saúde.

Questionado sobre a possibilidade de o Brasil testar daqui a cinco anos a primeira vacina no mundo contra a dengue, Timerman afirmou que ouve essa conversa todos os anos. "Espero que dessa vez seja verdade."

Painel

Com a percepção do grave problema que a dengue representa para o País, especialistas se reuniram em São Paulo, no dia 17 de agosto, para elaborar um material técnico-científico, chamado de II Painel de Atualização sobre Dengue. O documento está sendo distribuído agora a 20 mil médicos no País. Além de orientações e dos números que provam a magnitude da dengue no Brasil, o texto foca na ação educativa para médicos que atendem na linha de frente do problema, já que, na opinião de Timerman, os especialistas não estão conduzindo os pacientes de maneira adequada.

Renan Carreira