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Em crise financeira, Hospital São Paulo só vai internar emergência

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Em São Paulo

18/06/2015 08h31Atualizada em 18/06/2015 15h44

O Conselho Gestor do Hospital São Paulo, administrado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), decidiu suspender a partir desta quinta-feira, 18, as internações eletivas - aquelas que não são de emergência. A medida é um reflexo da crise financeira da instituição. O hospital é bancado principalmente por verbas do governo federal, que tem feito ajustes nas contas desde o começo deste ano.

Não há prazo para retomar esse serviço no centro médico da Vila Clementino, zona sul. A Unifesp disse, em nota oficial, que o objetivo é "preservar os pacientes já internados". Cirurgias não emergenciais estão com a realização e o agendamento suspensos por tempo indeterminado. O mesmo acontece com internações para tratamentos especializados.

Ao lado do Hospital das Clínicas e da Santa Casa, o Hospital São Paulo é um dos três principais centros médicos para atendimentos de alta complexidade da capital, responsável pela cobertura de uma área de 5 milhões de habitantes. Segundo dados do site da instituição, são feitas 2,6 mil internações e 1,6 mil cirurgias por mês. A Unifesp não informou, porém, qual é a média de internações e procedimentos eletivos.

O funcionamento da urgência e da emergência continua normal - a média do hospital nesses serviços é de 900 casos diários. Cirurgias encaminhadas diretamente do pronto-socorro, por exemplo, continuarão a ser feitas.

"Estamos vivendo uma situação de catástrofe", afirmou para a reportagem José Salvador Oliveira, médico integrante do Conselho Gestor. "A verba de orçamento que estamos trabalhando não cumpre a necessidade da compra dos insumos do dia a dia. É inviável continuar como está." Outros cortes, diz ele, ainda serão avaliados.

Segundo Oliveira, o entrave para comprar materiais e insumos hospitalares se deve ao atraso nos repasses do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospital Universitários Federais (Rehuf). "Essa verba não está chegando", disse. A universidade informou que está em negociação há algum tempo com o Ministério da Educação (MEC) para liberar mais dinheiro.

A pasta direcionou, neste ano, R$ 595 mil, via aportes emergenciais. O repasse ordinário - que costuma ser feito até maio, segundo gestores da área - será realizado até o fim deste mês, mas os valores ainda não foram definidos. O MEC negou o atraso, alegando que não há data fixa para o repasse. Em 2014, o Hospital São Paulo recebeu R$ 28,9 milhões pelo Rehuf.

"E o problema é que o Estado também chegou a cortar recursos, no total de 10%", afirmou José Salvador Oliveira. A Secretaria Estadual de Saúde confirmou a diminuição de verbas, mas ressaltou que a responsabilidade pelo Hospital São Paulo é do governo federal.

No limite

Em 2015, o contingenciamento de recursos federais fez o hospital trabalhar com restrições orçamentárias. Em abril, o jornal O Estado de S. Paulo mostrou que a unidade operava com 150 profissionais a menos do que o necessário e déficit mensal de R$ 2,5 milhões.

Outro problema é a greve dos servidores das universidades federais, iniciada em maio.

A Unifesp ainda afirmou que a urgência e a emergência estão sobrecarregadas com "pacientes graves vindos sem nenhuma regulação, por causa da desestruturação de outras unidades de saúde públicas, seja por falta de médicos ou de recursos".

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".