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Professora morre após tentar parto humanizado e se submeter a cesariana

Mariana de Oliveira Fonseca Machado era especialista em Saúde da Mulher e vice coordenadora do curso de enfermagem da Ufscar, em São Carlos (SP) - Reprodução Facebook
Mariana de Oliveira Fonseca Machado era especialista em Saúde da Mulher e vice coordenadora do curso de enfermagem da Ufscar, em São Carlos (SP) Imagem: Reprodução Facebook

De São José do Rio Preto

24/07/2015 20h05Atualizada em 25/07/2015 08h45

A professora de enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Mariana de Oliveira Fonseca Machado, de 30 anos, morreu na terça-feira, 21, após tentar fazer um parto humanizado em sua casa, em São Carlos, no interior de São Paulo, e ter de ser submetida, em seguida, a uma cesariana. Segundo informou um funcionário da Casa de Saúde e Maternidade de São Carlos que não quis ser identificado, a professora deu entrada no hospital afirmando estar há 48 horas em trabalho de parto. A família proibiu o hospital de dar informações sobre o caso.

Mariana, que também era especialista em Saúde da Mulher e vice coordenadora do curso de enfermagem da universidade, contratou uma doula (assistente de parto) e teria tentado por 48 horas dar à luz na tentativa de fazer um parto humanizado, mas não conseguiu pois teria apresentado dificuldades e precisou ser levada para a Casa de Saúde e Maternidade de São Carlos, onde passou por uma cesariana. A criança, uma menina, nasceu saudável, no dia 11 de julho.

O departamento de Enfermagem da Ufscar lançou uma nota afirmando que não houve relação entre o parto humanizado e a morte da professora. Segundo o texto, divulgado na sexta, Mariana chegou ao hospital em "perfeitas condições de saúde" e foi capaz de amamentar. "Infelizmente, preconceitos em relação ao parto natural e a cultura de cesariana brasileira levaram a divulgações equivocadas sobre o caso. Dados científicos indicam que a cesariana aumenta o risco de morte materna em 3-5 vezes, comparada ao parto normal. Dentre todas as causas de morte materna a hemorragia é a mais frequente delas", dizia um trecho da nota (leia a íntegra abaixo).

A professora não conseguiu se recuperar e, por causa da gravidade de suas condições clínicas após a cirurgia, teve de ser internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Casa de Saúde. Dias depois, com o agravamento de seu estado de saúde, seu marido, um médico anestesista, pediu a transferência de Mariana para o Hospital de Base (HB) de São José do Rio Preto. Segundo o HB, ela deu entrada "em estado muito grave" em 18 de julho, e veio a falecer na última terça-feira, 21.

O HB informou que a família não permitiu divulgar a situação clínica da paciente, cujo estado de saúde foi deteriorando no decorrer dos dias de internação. A causa da morte será confirmada em 60 dias após a conclusão dos exames de necropsia pelo Instituto Médico Legal (IML) de São José do Rio Preto, para onde o corpo foi levado.

Como a família não permitiu que os hospitais divulgassem dados do atendimento de Mariana, a natureza e a causa das complicações não foram reveladas, assim como o nome da doula que a acompanhou. No entanto, já se sabe que ela teria sofrido uma parada cardiorrespiratória.

Mariana foi enterrada na cidade de Patrocínio, no interior de Minas Gerais, onde moram seus familiares, que não quiseram falar sobre o caso.

A Casa de Saúde divulgou nota afirmando que o parto foi realizado "sem nenhuma intercorrência". "No entanto, no processo pós-cirúrgico, devido ao quadro clínico da paciente, foi encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva -UTI Adultos", onde permaneceu internada até dia 18, "quando foi transferida, a pedido da família, para o Hospital de Base de São José do Rio Preto".

Leia a íntegra da nota emitida pela UFSCar na tarde desta sexta-feira, 24:

Manifestação do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos

Professora Doutora Mariana de Oliveira Fonseca-Machado, enfermeira obstetra, mestre e doutora pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, era docente e pesquisadora da área da Saúde da Mulher do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos. Com base em seu conhecimento e acompanhamento médico durante o pré-natal, que evidenciou uma gestação sem intercorrências, aguardou a evolução para um parto natural. Assim, a Prof.ª Mariana entrou em trabalho de parto no sábado, dia 11 de julho, estando acompanhada por profissional capacitado durante todo o processo. Para continuidade do trabalho de parto, encaminhou-se ao hospital no início da noite do mesmo dia, chegando ao local em perfeito estado de saúde. Algumas horas depois, Mariana foi submetida à cesariana, tendo a oportunidade de pegar sua filha no colo e amamentá-la. Posteriormente, foi encaminhada ao quarto junto com sua filha e, poucas horas depois, iniciou um quadro de complicações, que resultou no trágico desfecho. Infelizmente, preconceitos em relação ao parto natural e a "cultura de cesariana" brasileira, associados à falta de responsabilidade no compartilhamento de informações nas redes sociais e na mídia, levaram a divulgações equivocadas sobre o caso. Dados científicos indicam que a cesariana aumenta o risco de morte materna em 3-5 vezes, comparada ao parto normal. Dentre todas as causas de morte materna a hemorragia é a mais frequente delas. Em solidariedade à família da professora Mariana, o Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos manifesta seu profundo repúdio às manifestações sensacionalistas veiculadas. Como instituição dedicada à promoção de conhecimento, convidamos toda a comunidade à reflexão e colaboração para que a verdade deste triste episódio seja esclarecida, contribuindo para a melhora do cuidado à saúde das grávidas do Brasil.

São Carlos, 24 de julho de 2015.