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Bahia anuncia unidade para tratar câncer em região contaminada por urânio

Em Brasília

28/09/2015 14h57

O governo baiano anunciou que vai implantar um centro especializado em tratamentos de câncer no município de Caetité (BA), onde está em atividade a única mina de exploração de urânio em toda a América Latina. A decisão foi confirmada na última sexta-feira, 25, pela Secretaria da Saúde do governo da Bahia.

A mineração de urânio ocorre a apenas 20 km do local onde foi detectada a presença de alto teor de urânio na água de um poço, no município vizinho de Lagoa Real, conforme denúncia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 22 de agosto. Desde então, o governo baiano tem se mobilizado para dar início a um programa de monitoramento constante da qualidade da água consumida pela população rural de Lagoa Real e Caetité.

Em visita a Caetité na semana passada, o secretário da Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, visitou as instalações do hospital municipal e anunciou a implantação de uma Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon). O secretário disse que as instalações estarão prontas em 2016 e que se tornarão referência de tratamento para a região. Em sua visita, Vilas-Boas passou também pelos municípios de Antas e Cícero Dantas.

A visita foi acompanhada de representante da Superintendência de Relações Institucionais da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e da diretora de Controle das Ações e Sistemas de Saúde (Dicon), Ana Paula Andrade.

Não há números precisos sobre os casos de câncer da região de Caetité e Lagoa Real, por causa das dificuldades de se levantar essas informações, já que muitos moradores da região são obrigados a buscar tratamentos em Vitória da Conquista e Salvador, ou mesmo em São Paulo.

As causas de câncer na região também são controversas. A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que explora urânio na região rural de Caetité desde 2000, afirma que realiza todos os procedimentos de segurança relacionados ao tratamento do metal e que não há nenhuma relação com os casos de contaminação e suas atividades na região.

Em agosto, o secretário municipal de Meio Ambiente de Lagoa Real, Willike Fernandes Moreira, disse que os casos de câncer passaram a ser tão frequentes no município, que atualmente absorvem a maior parte dos recursos que a prefeitura dispõe para a área de saúde. "É uma situação grave. Nós não temos dados oficiais de câncer na região, mas sabemos que está matando muito. Já são uma rotina de assistência para a prefeitura, infelizmente. Às vezes, conversamos com os motoristas das ambulâncias. Eles ficam abismados com o número de biópsias", disse o secretário. "Há mais de 15 anos, não se ouvia falar nisso. Agora é o tempo todo, mas a causa disso a gente não sabe qual é. Não podemos culpar ninguém, nem mesmo o urânio. Mas que é algo muito preocupante, isso é."

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um relatório em abril de 2014 sobre o levantamento de casos de câncer na região, no qual afirma que teve dificuldades em coletar dados oficiais. O estudo, que contou com a participação da organização francesa Commission de Recherche et d'Information Indépendantes sur la Radioactivité (Criirad), registrou oficialmente 21 casos de câncer na região da mina de urânio entre 2005 e 2014. Outros 113 casos foram levantados desde o início da exploração da mina, em 2000, mas não puderam ser confirmados, por causa de restrições, como falta de documentação fornecida pela família.

Um novo estudo realizado pela Criirad sobre o assunto deve ser divulgado nesta segunda-feira, 28, em evento realizado em Caetité.