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Gêmeos: especialista destaca resposta individual do feto e carga viral

Fabiana Cambricoli

Em São Paulo

18/01/2016 09h38

A ocorrência de microcefalia em apenas um dos bebês, no caso de nascimento de gêmeos, já foi relatada na literatura científica e pode estar relacionada ao volume de carga viral a que cada criança teve contato, ao fluxo sanguíneo durante a gestação, à posição do feto na placenta e à resposta de cada bebê a um quadro de infecção.

Segundo a infectologista e virologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), casos de má-formação em apenas um dos gêmeos já haviam sido observados em quadros de microcefalias causadas por outros vírus, como a rubéola, a toxoplasmose e o citomegalovírus. "Nessas infecções, nem todo feto cuja mãe teve o vírus vai nascer com microcefalia.

Pelo contrário, é a minoria que desenvolve o problema. No caso do citomegalovírus, por exemplo, a chance de o bebê ser contaminado pela mãe é de cerca de 10% e, uma vez contaminado, a chance de ele ter microcefalia é de 1%", explica a especialista. "Não dá para afirmar que essa gestante (Jaqueline) teve zika, mas caso ela tenha tido é um alento saber que nem todas as mães com o zika vírus darão à luz bebês com microcefalia", afirma a médica.

Nancy destaca, no entanto, que o mecanismo de atuação do zika vírus nas gestantes ainda não é completamente conhecido. "É preciso entender melhor por que ele causa uma lesão tão grave no feto e não provoca grandes problemas em um adulto. Grupos de pesquisa estão começando agora a infectar fêmeas de camundongos grávidas para observar essa resposta do organismo."

Ela defende que, com o surto de microcefalia no Brasil, as grávidas sejam acompanhadas de perto. "A grande questão é por que só aqui estamos tendo essas más-formações, se vários outros países já registraram zika vírus. Eu não apostaria em questões genéticas da população brasileira, porque somos um povo muito miscigenado. Talvez tenhamos de investigar a interação do zika vírus com outras doenças ou com alguma condição ambiental específica nossa", diz ela.

A especialista cita um exemplo: o contato com mercúrio e outros metais pesados também aumenta o risco de microcefalia e, em algumas localidades nas quais há atuação de empresas do ramo químico a água pode ser contaminada com mercúrio. Essa é uma condição ambiental que eleva o risco da má-formação. "Uma mulher que tem contato com essa água e também é infectada pelo zika vírus teria mais chance de gerar um filho com microcefalia?, questiona ela. "Todas essas possíveis ligações precisam ser investigadas." (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)