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Número de mortes por linfoma não-Hodgkin aumenta no País

27/06/2016 09h57

São Paulo - Doença que ganhou atenção na semana passada pelo diagnóstico do ator Edson Celulari, o linfoma não-Hodgkin tem se tornado mais incidente e matado mais brasileiros do que há uma década. A boa notícia é que, com a chegada de novos tratamentos, a chance de cura desse tipo de câncer aumentou e, mesmo nos casos em que o tumor é incurável, o paciente pode viver mais de dez anos com a doença sob controle.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a taxa de mortalidade por linfoma não-Hodgkin cresceu 17% entre 2004 e 2013 (último dado disponível). Entre os homens, o índice passou de 2,06 mortes por 100 mil habitantes do sexo masculino para 2,42 no período. Já entre as mulheres, a mesma taxa cresceu de 1,59 para 1,87. Em dados absolutos, o número de óbitos pela doença cresceu de 3.255 para 4.154 nos dez anos analisados.

Especialistas explicam que o aumento do índice não está associado a uma maior agressividade da doença, mas, provavelmente, ao envelhecimento da população. "A incidência do linfoma está aumentando em todo o mundo. Embora a doença possa atingir todas as idades, ela é mais comum entre pessoas com mais de 60 anos e a idade média dos brasileiros vem aumentando", explica o médico Carlos Chiattone, diretor da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e coordenador do Centro de Linfomas do Hospital Samaritano. Segundo o Inca, 62% dos mortos pela doença em 2013 eram idosos.

Oncologista clínico do A. C. Camargo Cancer Center, Vladmir Cordeiro de Lima diz que os dados devem ser analisados com cuidado. "Globalmente tem havido uma melhora no desfecho dos tratamentos de linfoma não-Hodgkin, mas no Brasil temos de considerar que o sistema de notificação não é bom e nem todos os pacientes têm acesso ao melhor tratamento. Se tivessem, a mortalidade seria menor", diz. Segundo os especialistas, surgiram na última década novas opções de tratamentos quimioterápicos e imunoterápicos que melhoraram o prognóstico do paciente com linfoma.
No caso dos tumores não-Hodgkin, Chiattone explica que eles são divididos em dois grandes grupos - os agressivos e os indolentes. Os primeiros podem ser curados em 60% dos casos. Já os outros são considerados incuráveis, mas, como crescem muito lentamente, o paciente pode viver anos ou décadas com a doença sob controle. "É como se fosse uma doença crônica. Faz-se o tratamento, o linfoma é controlado, mas pode voltar após alguns anos. E outro tratamento é feito", diz.

O administrador de empresas Jaime Waiswol, de 51 anos, recebeu o diagnóstico de um linfoma não-Hodgkin em 1997, e, após tentar, sem sucesso, três diferentes tratamentos quimioterápicos, ouviu da equipe médica que a chance de estar vivo em três anos era menor que 10%. "Mesmo assim eu sempre acreditei muito, sentia que daquela doença não ia morrer", conta. No início de 1998, foi lançado um novo medicamento para linfoma, que acabou curando Waiswol. Em 2012, 15 anos após o tratamento, ele percorreu 94 quilômetros até o Monte Roraima para estimular outros pacientes que estão enfrentando a mesma batalha. "Ainda temos muita coisa para viver."

Dificuldades

Para Merula Steagall, presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), entidade que dá apoio a pacientes, um dos maiores entraves à redução da mortalidade pela doença é a demora no diagnóstico e no início do tratamento. "Pelo SUS, às vezes a pessoa tem uma suspeita e só para agendar uma biópsia demora seis meses", diz ela.

Erros de diagnóstico e dificuldade de agendamento da quimioterapia atrasaram o início do tratamento da auxiliar administrativa Roseane Oliveira Gomes, de 29 anos. "Comecei a ter sintomas em setembro de 2014 e passei em dois médicos. Uma disse que era virose e o outro falou que era tendinite, porque eu tinha dores no ombro", diz ela, que só iniciou o tratamento em março de 2015. "O linfoma cresceu tanto que eu fiquei deformada de inchaço, não conseguia abrir o olho. Estava sentindo a morte chegar", conta ela, que conseguiu finalizar o tratamento em setembro de 2015 e, embora ainda precise fazer acompanhamento, teve o tumor eliminado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fabiana Cambricoli