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Medicina personalizada é o futuro prometido pela genética para tratar o câncer

Cristina Almeida

Especial para o UOL Ciência e Saúde

11/08/2011 07h00

O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão americano que lida com epidemias e outras emergências de saúde, publicou um relatório divulgando que a expectativa de vida dos americanos aumentou 62%, desde o início dos anos 1900 (quando ela era de 47.3 anos), para  76.8 anos, na década de 2000. Entre as dez principais causas desse avanço na saúde pública, destacou-se o aumento dos percentuais dos exames preventivos de câncer, especialmente o colorretal, o cervical e o de mama. Enquanto a medicina preventiva no Brasil avança mais lentamente, a oncologia conta com a perspectiva da evolução para uma medicina personalizada. O mérito é da genética.

Segundo os especialistas, no futuro, quando um câncer for diagnosticado, o tratamento atenderá às características pessoais de cada paciente. Isso porque cada pessoa responde de forma única às terapias e, assim, estas também poderão se adaptar a essa realidade. Para entender como essa estratégia pode ser benéfica, basta pensar no fato de que, num caso de leucemia, por exemplo, há pacientes que respondem  prontamente à quimioterapia; outros, não.

“Explicar a razão por que isso acontece é uma tarefa difícil”, afirma o médico Carlos Sérgio Chiattone, chefe da disciplina de Hematologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. “O que se sabe é que a evolução de uma doença depende basicamente de três fatores:  a doença em si, as características do doente e a interação entre a doença e o doente”.

Genética e tumores
Chiattone afirma que na oncologia muitos desses conceitos já têm sido empregados: “Ainda se discute questões como custo e benefício, mas o estudo do genoma de determinada pessoa pode identificar variações genéticas relacionadas a determinados tumores”. E não é só. Uma pesquisa genética não se limitaria apenas à identificação de indivíduos mais ou menos suscetíveis a determinados tipos de câncer. Esses testes também poderão direcionar a melhor forma de tratamento, que serão mais efetivos, seguros, específicos, ativos e menos tóxicos. 

O médico esclarece que, atualmente, as doses de quimioterápicos se baseiam na superfície corpórea. No futuro, ela será ajustada atendendo à forma como o paciente metaboliza o remédio, como este se distribui em seu corpo, bem como o tempo que permanece circulando e interagindo com as células normais.

“Poderemos, então, identificar pessoas que têm diferente metabolismo para determinado fármaco, o que promove, por exemplo, maior ou menor tempo de circulação de um quimioterápico, levando, respectivamente, à maior quantidade de efeitos colaterais ou, por outro lado, à menor ação do quimioterápico no câncer”, fala o especialista.

Aconselhamento genético
Salmo Raskin, diretor da Sociedade Brasileira de Genética Médica (SBGM), afirma que essa medicina personalizada ainda está longe de virar realidade:  os testes genéticos são caros, não são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e embora seu acesso seja garantido por lei aos  titulares de seguros médicos, isso não significa que terão cobertura para essas pesquisas.

De acordo com o Raskin, esses exames são testes sanguíneos indicados nos casos de câncer hereditário (10% dos casos, e os mais comuns são mama, ovário e intestino), e não abrangem todos os tipos de câncer. Nesses situações,  a investigação é específica e cobrirá os tipos mais prevalentes dentro da família que procura aconselhamento genético.  “Geralmente esses testes são indicados em famílias onde haja alta incidência da doença, ou quando ela aparece numa faixa etária em que a patologia é incomum”, observa.

Contraindicação
Indagado sobre eventual contra indicação para o exame, o geneticista informa que é importante antes consultar um especialista apto ao aconselhamento genético, para que ela possa orientar o paciente sobre as repercussões de um diagnóstico desse tipo. “Na minha prática médica, não é incomum o paciente refletir melhor e desistir de fazer o exame, pois as implicações emocionas são grandes, e nem todos estão preparados”.

Mas o futuro para os pacientes de câncer é mesmo uma medicina mais personalizada. “Os médicos atenderão pessoas que ainda não têm câncer,  mas fazem parte de determinado grupo de risco. E no dia em que esse diagnóstico for preditivo e precoce, viveremos mais e melhor”, finaliza Raskin.