Empresa lança testes para prever resposta a drogas contra dor, transtornos psiquiátricos e TDAH

Do UOL

Em São Paulo

  • Divulgação/GnTech Tests

    Testes farmacogenéticos realizados no laboratório Iverson Genetics, nos EUA

    Testes farmacogenéticos realizados no laboratório Iverson Genetics, nos EUA

A servidora pública Carla Brajé, 45 anos, decidiu procurar um psiquiatra por apresentar sintomas de depressão. Ela passou a tomar um antidepressivo, mas o médico sugeriu que ela associasse o medicamento a outro, para melhorar os resultados. A segunda droga, no entanto, gerou sintomas estranhos: "Eu ‘saí da casinha’: fiquei agitada e falava muito", lembra. Até o marido ficou incomodado com a mudança de personalidade.

Após suspender o segundo antidepressivo, o psiquiatra de Carla decidiu submetê-la a um teste genético para avaliar sua sensibilidade a uma série de medicamentos. Não deu outra: o exame mostrou que a substância não era para ela. Agora, com um remédio que é bem metabolizado por seu organismo, a servidora conquistou o almejado equilíbrio.

"Depois de fazer o teste, percebi que muitas vezes culpamos o médico ou o medicamento indevidamente", comenta.

Prescrever drogas para transtornos psiquiátricos nem sempre é fácil. Às vezes o remédio não faz efeito, ou produz efeitos colaterais que prejudicam a qualidade de vida do paciente. Foi essa realidade que fez o psiquiatra Guido May se interessar pelos testes farmacogenéticos e abrir uma empresa – a GnTech Tests – para trazer exames desse tipo ao país.

"Cerca de 30% a 40% dos pacientes não respondem adequadamente ao tratamento inicial e pode-se levar cerca de seis semanas para se caracterizar que um determinado medicamento não é efetivo para aquele caso", diz o médico.

May firmou parceria com dois laboratórios americanos – Assure e Iverson Genetics – e lançou testes para avaliar a resposta a antidepressivos (como a fluoxetina e a bupropiona), antipsicóticos (como a clozapina), analgésicos (opioides) e drogas para Transtorno de Deficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH (como a ritalina).

Além desses exames, voltados para área de comportamento, a empresa realiza testes para medicamentos usados em cardiologia (como varfarina, clopidogrel, propranolol e estatinas) e para saúde da mulher. Este último analisa variações genéticas que interferem no metabolismo do estrogênio e podem ajudar médicos a identificar pacientes com mais risco de desenvolver câncer devido à reposição hormonal após a menopausa.

Embora o potencial desses exames seja altíssimo, ainda existem obstáculos, como o preço. Os testes de antidepressivos e antipsicóticos, por exemplo, custam mais de R$ 7 mil, valor que pode ser parcelado. E ainda não há previsão de cobertura pelo governo ou por planos de saúde. "Já começamos a desenhar os primeiros estudos científicos para apresentar ao SUS", diz May.

Também é preciso levar em conta que as variações genéticas nem sempre são o principal fator envolvido na resposta aos medicamentos. Um "bom metabolizador", por exemplo, não está livre de sofrer reações adversas, ainda que a facilidade de eliminação possa tornar os efeitos menos intensos.

Combate à dor

A anestesiologista Fabíola Minson, diretora da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor e coordenadora do Laboratório da Dor do Hospital Albert Einstein, lembra que o Brasil não é um país que consome opioides com muita frequência. E diz que, mesmo nos EUA, os testes farmacogenéticos para essa classe de remédios ainda não é rotina.

Mesmo assim, ela acredita que a novidade pode ser bastante útil. "O paciente com dor crônica já chega com a qualidade de vida prejudicada e a precocidade de um tratamento analgésico eficaz pode reverter esse panorama mais rapidamente", comenta. "O uso do analgésico mais adequado para aquele indivíduo trará a necessidade de doses menores e menos efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, sonolência ou constipação."

Ela também lembra que há outros fatores que podem interferir na resposta do paciente ao analgésico: "A capacidade de metabolização e eliminação no fígado e no rim pode ser alterada em função de algumas doenças ou pelo uso de outros medicamentos", explica. A confiança no médico, a adesão ao tratamento e mesmo o efeito placebo também são aspectos importantes.

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