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Personalidade e história de vida influenciam o humor, além de substâncias cerebrais que regulam este setor - Getty Images
Personalidade e história de vida influenciam o humor, além de substâncias cerebrais que regulam este setor Imagem: Getty Images

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

23/02/2013 07h00

Quem nunca teve seu dia de mau humor, ou mesmo crises eventuais? O problema é quando as alterações deste estado são constantes e acabam prejudicando o cotidiano e a vida. Conforme salienta Cristiane Moraes Pertusi, doutora em psicologia do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP), mudanças frequentes podem indicar questões emocionais como depressão, ansiedade ou outros transtornos. “Características de personalidade e história de vida influenciam, além de substâncias cerebrais que regulam este setor.”

Se você é apenas um mal-humorado eventual, talvez se surpreenda com esta informação: quando o quadro é permanente, vira doença, com nome e tudo – distimia. Reconhecida pela medicina nos anos 1980, significa uma forma crônica de depressão, só que com sintomas mais leves.

“Enquanto o indivíduo com depressão grave fica paralisado, quem tem distimia continua tocando a vida, mas está sempre reclamando. Só enxerga o lado derrotista de tudo e não sente prazer em nada. A diferença entre ele e o resto dos mal-humorados é que os últimos se queixam de um problema, mas param diante da resolução. O distímico lamenta até se ganha na loteria. Não fica feliz, porque começa a pensar em efeitos negativos, como ser alvo de assalto ou sequestro”, explica o psiquiatra Leonard Verea, especializado em medicina psicossomática e hipnose.

O transtorno mental afeta ao menos 180 milhões de pessoas no mundo. Quando não tratadas, elas tendem a se isolar. “A doença não deve ser subestimada, pois o portador corre um risco 30% maior de desenvolver quadros depressivos sérios.”

 

Personalidade X doença

O pior é que muitas vezes é difícil perceber, ou assumir, que se tem a disfunção. De acordo com o especialista, para a maioria dos pacientes, o mau humor constante é um traço de sua personalidade. “A desculpa pela rabugice recai sempre no ambiente ao redor, o que inclui o tempo, o chefe ou a sogra, por exemplo.” É importante ficar atento porque o cenário, quando persistente, acaba trazendo prejuízos ao indivíduo – pessoais, sociais, profissionais.

“Uma das consequências é a solidão, porque familiares, amigos e colegas vão se afastando com o tempo. Outra implicação é o consumo de álcool e drogas, uma vez que o paciente se ilude achando que, com tais subterfúgios, conseguirá se livrar da irritação”, destaca Leonard Verea.

Para Cristiane Pertusi, o distúrbio provoca prejuízos para as relações afetivas e percepção geral do universo ao redor, impedindo que a pessoa se relacione de maneira satisfatória com seus semelhantes. “A área do cérebro que motiva alterações de humor gera repercussões de comportamentos, como capacidade de ver a vida com maior pessimismo, menor tolerância à frustração, mais impulsividade.”

Relações comprometidas

Isso significa que o mau humor patológico traz embutidos outros sentimentos como intolerância, impaciência, baixo nível de energia e até tristeza. “Se a condição é séria e classificada como doença, na maior parte do tempo o sujeito se apresenta irritado, reclamando de tudo, gerando polêmica, resmungando e só enxergando o lado negativo. Os distímicos em geral são amargos, de difícil relacionamento, com baixa autoestima e elevado senso de autocrítica. Também são altamente estressados, contaminando todos ao seu redor e gerando prejuízos pessoais e familiares importantes”, diz Leonard Verea.

A capacidade produtiva fica afetada, assim como a agilidade mental. Dormir bem, fazer exercícios, ter uma alimentação saudável, não levar trabalho para casa e buscar formas de relaxamento são orientações que ajudam a afastar o mau humor.

Em muitos casos, é necessário buscar tratamento especializado. “O humor é em parte geneticamente determinado, porém existem atividades que influenciam, melhorando, ampliando e flexibilizando a cognição. Tais dinâmicas são empregadas no trabalho terapêutico com pacientes que sofrem de transtornos dessa ordem, e também em indivíduos que desejam melhorar o humor de maneira global. No fim, a pessoa se sente bem e os avanços são significativos”, assegura o psiquiatra.

Dicas para melhorar o humor

Para quem não tem a doença e apenas apresenta momentos eventuais de mau-humor, aí vão algumas dicas que podem ajudar a controlar tais variações:
Busque o autoconhecimento. “Dessa forma, você compreenderá melhor a si mesmo, favorecendo sua qualidade de vida e suas relações afetivas, o que terá consequências sobre o humor”, diz a psicóloga Cristiane Moraes Pertusi
Reserve um tempo para se exercitar. “Após a atividade física, há liberação de endorfina pelo cérebro, além de outras substâncias que estimulam o humor positivamente, dando sensação de prazer e bem-estar”, salienta Cristiane Pertusi
Procure dormir bem. “Descansar ajuda a regular a vida fisiológica e mental”, observa a psicóloga
Aprenda a dizer não. “É uma ótima ferramenta. Priorize o que é essencial, pois assim terá mais alegria sabendo que está se dedicando a suas prioridades”, considera o psiquiatra Leonard Verea
Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. “Você evita muito desgaste. Os sentimentos que reinam, quando postergamos tarefas, é de incapacidade e frustração”, diz Verea, acrescentando que o ideal é ser organizado para fazer tudo com antecedência. “É sempre bom ter método e planejar o cotidiano, permitindo que as ações sejam realizadas sem estresse”
Quando sentir que a irritação está a caminho, relaxe a mente e o corpo, sem se deixar levar pela agitação. Respire e expire calmamente, afastando os pensamentos negativos
Nada de ser “control freak”: “Não tente controlar tudo, pois isso é impossível. O mau-humor também está ligado a personalidades centralizadoras, pessoas que querem comandar o entorno e se sentem incapazes por não dar conta”, enfatiza Leonard Verea
Não leve trabalho para casa. Conforme defende o psiquiatra, a vida precisa ser dividida em três momentos: tempo para o trabalho, para você mesmo – “com seu eu interior” – e para sua diversão e troca com amigos. “Não subtraia nenhum dos três”
Adote uma alimentação saudável. “É básico, para viver bem, estar feliz com o próprio corpo e sem problemas de saúde”, diz Verea
Se perceber que não consegue ter domínio sobre o próprio humor, busque ajuda em trabalhos terapêuticos ou aconselhamento psicológico