Topo

Jovem dá dicas no Facebook para melhorar o astral durante a quimioterapia

Flavia Schneider Flores Lopes durante um ensaio de fotos para atualizar sua fanpage no Facebook  - Álbum pessoal/Clica Voigt
Flavia Schneider Flores Lopes durante um ensaio de fotos para atualizar sua fanpage no Facebook Imagem: Álbum pessoal/Clica Voigt

Cármen Guaresemin

Do UOL, em São Paulo

13/03/2013 07h02

Depois de receber o diagnóstico de câncer, a primeira sensação, em geral, é de choque. Já a segunda reação depende muito de cada pessoa. Algumas acreditam que não vão superar a doença e ficam melancólicas, enquanto outras se tornam mais proativas e buscam formas de lidar com o problema. Quem segue Flavia Flores pelo Facebook sabe que ela faz parte do segundo grupo.

Ela é de Florianópolis (SC), tem 35 anos, um filho adolescente, e descobriu no ano passado ter câncer de mama. Saudável, jovem, sem histórico de doença na família, o diagnóstico foi um baque para ela e todos ao seu redor. “Tive medo quando descobri,  tanto medo que mal conseguia respirar de tão chocada que fiquei! Surtei. Eu me senti frágil e desprotegida. Chorei durante dez dias”, confessa.

Tudo começou quando ela sentiu um caroço durante um autoexame. Estava em São Paulo, trabalhando no mercado de moda. Porém, como havia feito uma cirurgia de aumento de seios na juventude, em sua cidade, e uma das próteses havia rompido, resolveu voltar para lá e procurar seu médico.

“Ele dizia que pela minha idade e meu histórico familiar não seria nada, mas durante a troca de implante, tirou o cisto e pediu uma biópsia”, conta ela. Como tudo foi bem com a substituição, ela esqueceu o assunto. Porém, dez dias depois o médico ligou e disse que precisava vê-la.

Começava aí sua luta contra a doença. “É surpreendente a força que você encontra dentro de si após levar o susto. Aconteceu, é um fato. Daí, me dei conta de que meu cabelo iria cair,  como também meus cílios. Eu pensava que não ia conseguir!  Preferia morrer a ter que fazer quimioterapia!”, desabafa.

Seu médico recomendou que fosse retirada a mama, mas a reconstrução só seria feita no fim do tratamento. Em sua imaginação, ela se via “careca e sem uma mama”. Porém, quis ouvir outra opinião e procurou um especialista.

“Queria alguém moderno e encontrei. Minha mastologista e meu cirurgião plástico têm a mesma idade que eu, são antenados e sensíveis. Meu oncologista é o melhor!”, diz ela.  Suas duas mamas foram retiradas e, no mesmo dia, colocadas próteses de silicone próprias para pacientes de câncer.

LEIA MAIS

  • Monalisa Lins/BOL

    Quanto mais forte estiver a autoestima, menos sofrido será lidar com a doença, afirma psicóloga  especialista em câncer

Nada na internet

Logo no início do tratamento com quimioterapia, previsto para ir até maio de 2014, ela começou a procurar sites que trouxessem dicas para pessoas na mesma situação que ela. E não encontrou nada. Pensando nisso, criou sua própria página no Facebook, "Quimioterapia e beleza".
 
“Não gasto muito tempo pensando se o câncer vai voltar ou se está se espalhando. Estou, sim, muito mais preocupada com as outras cats, como chamo minhas seguidoras, espalhadas pelo mundo, que visitam minha página e lá encontram ideias, inspiração e muita alegria”.

Ela conta que sua fanpage mostrou para a família e amigos o quanto era forte ao enfrentar a doença, de forma tão explicita: “Todos se admiraram. Passei a receber carinho de pessoas que eu não conhecia, de todos os lados e isso me encheu de alegria!”.

Mesmo assim, admite que se sentia muito só. “É um processo solitário. Porém, ter minha família unida perto de mim foi lindo, pois há muito tempo não tinha todos juntos e sempre senti falta disso”, conta ela, cujos pais estão separados desde que era criança.

Ela diz que seu filho, que tem 20 anos, manifestou sua serenidade e solidariedade dormindo na mesma cama nos primeiros dias para confortá-la. “Ele não se desesperou. Pelo contrário. Falava do ator Reynaldo Gianecchini, que passou por tudo isso e está aí numa novela. Ele vivia me lembrando que o 'câncer não é um bicho de sete cabeças, quando descoberto a tempo'".

Suas amigas estão sempre presentes. “Ter uma pessoa ao nosso lado ajuda muito”, frisa. Já o namorado, que costumava lhe passar segurança, mesmo morando longe, desapareceu quando as sessões de quimioterapia começaram.

Muitas de suas seguidoras relatam que o mesmo aconteceu a elas: serem abandonadas após o início do tratamento. “Daí em diante, no meu caso, ele nunca mais atendeu aos meus telefonemas. Porém, outra pessoa apareceu em minha vida, que me conheceu já sem cabelos, dá muita força e me faz muito feliz! Pena que mora longe também."

Sobre a página

Graças ao suporte da família, ela diz que pode se dedicar à causa. Todos colaboram como podem e, assim, ela diz encontrar paz suficiente para contar sua história e servir de incentivo para tantas mulheres vivendo a mesma situação. ”Autoestima elevada para mim é o segredo de um tratamento quimioterápico bem sucedido, sem sofrimento, sem pena de si mesmo, com feminilidade, sensualidade, bom humor e muita vaidade”, assume.

Flávia Flores ensina formas de amarrar um lenço na cabeça

Por meio de suas fotos e vídeos, em que dá dicas de maquiagem ou de como usar lenços, por exemplo, quer passar mensagens que inspirem outras pacientes. “Juntas não deixamos a bola cair. Uma ajuda a outra. A gente se encontra e conversa pelo Skype, troca lenços e perucas, além da experiência que vamos adquirindo”.  

Para o futuro, ela diz que quer profissionalizar sua página e transformá-la em blog e em documentário.  “Quem sabe até num programa sobre bem-estar, sobretudo um canal de encontro para todos os que precisam de alegria para passar pelo tratamento da melhor maneira possível”.

Ela conta ser muito gratificante poder responder às perguntas das seguidoras, que se concentram mais sobre a perda de cabelo, mas também elogiam seu alto astral e querem saber sobre seu caso para comparar com os delas. E não são apenas brasileiras que leem e escrevem, mas mulheres de países de língua portuguesa em geral.

O vídeo  

Junto com a produtora Índigo Brasil, de São Paulo, Flávia está criando um teaser para promover sua fanpage  no YouTube.  O objetivo é atingir, principalmente, as mulheres pacientes de câncer que irão passar pelo tratamento e querem viver essa fase com leveza, estilo e alegria.  ”Muitas mulheres com menos de 35 anos são diagnosticadas com câncer e precisam de uma boa referência de como podem ter qualidade de vida durante essa fase.  As informações interessam também amigos, filhas, mães, pais etc”, conta ela.
 
Além de anônimos, algumas celebridades, como a atriz Marisa Orth, gravaram depoimentos e apoiaram a causa, que é diferente dos outros sites sobre câncer, que tratam mais sobre prevenção, plantas medicinais, doações de medula e orações. “Visamos o pós-diagnóstico, com  vaidade e autoestima”.

“A ideia é se reinventar diariamente, se transformar e brilhar com cada look. Criar novos pratos, a partir da nossa dieta. Todos os dias, eu invento um novo personagem, me curto no espelho, danço pelos corredores e rio sozinha!  Quero passar isso para quem quiser receber”, encerra.
 

A importância da autoestima para mulheres com câncer

Veja dicas de Flavia Flores para quem está fazendo quimioterapia:

- A primeira coisa a ser feita é comprar uma peruca de cabelos naturais, se possível. As minhas são, na maioria, sintéticas e elas ficam feias logo, logo.  Faça disso um evento! Comprar uma peruca, que divertido!

- A segunda coisa é cortar os cabelos para ir se acostumando, antes de raspá-los quando começarem a cair, pois é assustador. Faça disso um evento também, tire fotos, grave. Nada de sentir pena, pois o cabelo cresce! Eu hoje curto minha carequice!

- Eu sempre fui cara de pau. A todos os amigos que viajavam, eu pedia para me trazerem um lenço. No total, ganhei mais de 30 e aprendi várias maneiras de amarrar cada um.

-  Não tenho cabelo? Vou sair disfarçada hoje!  Aliás, tenho vários disfarces: de judia, muçulmana, Pulp Fiction, surfista, panicat careca, hippie, Sinead O'connor, punk...

- Não tenho cílios? Colo um par de postiços e fico poderosa!

- A pressão baixa? Peço uma massagem para alguém, um cafuné, um colinho.

- Não pego filas nem em banheiros.

- Esqueço de várias coisas. A quimioterapia me deixa desmemoriada, mas o bom de tudo isso é que esqueço, em geral, das coisas ruins.