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Metade das mulheres com depressão pós-parto já apresentava sintomas durante a gravidez

A depressão durante a gravidez e no pós-parto tem implicações não só para a mãe, que apresenta risco de suicídio, como também para o bebê - Thinkstock
A depressão durante a gravidez e no pós-parto tem implicações não só para a mãe, que apresenta risco de suicídio, como também para o bebê Imagem: Thinkstock

Do UOL

Em São Paulo

14/03/2013 07h00

Cerca de metade das mulheres que têm depressão pós-parto já apresentava sintomas durante a gravidez. A conclusão é de uma pesquisa feita com pacientes atendidas no setor público em São Paulo e publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria. 

O levantamento contou com 831 gestantes, com idade média de 25 anos. Desse total, 219 apresentaram sintomas depressivos depois do parto, ou seja, uma em três pacientes. O trabalho é de autoria dos médicos Alexandre Faisal-Cury, blogueiro do UOL, e Paulo Rossi Menezes, ambos da Universidade de São Paulo (USP).
 
A depressão durante a gravidez e no pós-parto tem implicações não só para a mãe, que apresenta risco de suicídio, como também para o bebê. O problema eleva o risco de nascimento prematuro e de baixo peso ao nascer, além de poder prejudicar o desenvolvimento cognitivo do recém-nascido. Condições socioeconômicas desfavoráveis, falta de suporte social e problemas conjugais são associados ao problema, segundo os pesquisadores. 
 
A proporção de mulheres com depressão pós-parto que já apresentavam sintomas durante a gravidez varia muito entre países onde o tema já foi pesquisado. Na Inglaterra, chega a 56%, enquanto que na Austrália é de 36%, e nos EUA, de 39%.
 
As mulheres que participaram do estudo foram acompanhadas desde o início do pré-natal até um ano e meio após o parto. Três quartos delas viviam com o parceiro. O salário médio das famílias era de US$ 440. Pouco mais da metade era branca e tinha mais de oito anos de educação. 
 
Das 219 mulheres com depressão pós-parto, 109 já haviam apresentado sintomas durante a gravidez. De acordo com a análise, quanto maior o nível de educação, de contatos com vizinhos e de planejamento da maternidade, menor o risco de ter os sintomas. Já mulheres na terceira gravidez em diante e que já haviam sofrido abortos se mostraram mais propensas. 
 
Embora o estudo tenha apontado uma relação significativa entre as condições socioeconômicas e o transtorno, Faisal acredita que a depressão pós-parto varia conforme o contexto da mulher. "Problemas econômicos e sociais fazem muito sentido para gestantes da rede pública.  Na gestante com melhor nível social, os conflitos tem a ver com a questão da maternidade, conflito profissional, imagem corporal, vínculo mãe-filha etc.", comenta.
 
"A depressão pré e pós-natal é altamente prevalente na atenção primária, e profissionais de saúde devem ser treinados para realizar intervenções simples e eficazes o mais precocemente possível", concluem os pesquisadores no trabalho. 
 
Remédios
 
Mas será que ginecologistas e obstetras estão preparados para fazer o diagnóstico de depressão? "Na minha opinião, poucos perguntam sobre o humor na consulta e muitos temem tratar com drogas", comenta Faisal. Segundo ele, estudos americanos mostram que dois terços dos profissionais fazem o diagnóstico com tranquilidade, mas não gostam de tratar o problema. 
 
O ginecologista explica que, em casos leves, apenas a terapia pode trazer resultados satisfatórios. Já em casos moderados ou graves, é necessário considerar o uso de antidepressivos. Neste caso, ele explica, é preciso considerar riscos e benefícios. Existe uma chance, ainda que pequena, de o remédio causar alguma malformação no bebê. Porém, não tratar a depressão aumenta o risco de prematuridade e de baixo peso ao nascer, que também são condições de risco para a criança. 
 
O importante, segundo o médico, é que as pessoas tenham consciência de que o problema é comum e o assunto deve ser discutido com as pacientes e seus familiares.