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"Idioma não vai atrapalhar", diz venezuelano do Mais Médicos

Yara Aquino

Da Agência Brasil

26/08/2013 17h55

Em oito capitais, teve início o curso de preparação para os médicos estrangeiros que vão trabalhar no programa Mais Médicos. Durante três semanas, os profissionais terão aulas em universidades públicas federais sobre saúde pública, com foco no Sistema Único de Saúde (SUS), e de língua portuguesa.

Para o médico venezuelano Manoel da Cruz, a diferença de idiomas não irá atrapalhar o atendimento à população. “O mesmo que fazemos em outros países faremos aqui e a língua não vai atrapalhar, a medida que começarmos trabalhar vamos desenvolvendo melhor a língua”, disse. Ele tem cinco anos de experiência na profissão e, mesmo sabendo das críticas das entidades médicas brasileiras à contratação dos estrangeiros, diz que chega ao Brasil com boa expectativa.

Entenda a proposta do governo

  • Arte/UOL

    Governo quer atrair médicos para as periferias e interior do país

A médica cubana Adela Fernandez também espera levar atendimento a quem não tem acesso. Ela conta que já trabalhou em um programa com um professor universitário da Paraíba e por meio dele teve informações sobre o sistema de saúde brasileiro e as doenças mais frequentes nas regiões pobres. Ela relata que tem familiaridade com o português.

“Cuba tem muito médico, prestamos atendimentos a vários países do mundo inclusive o Brasil. Sou especialista em medicina geral integral faz 16 anos, já trabalhei na fronteira de Angola, na África, por isso falo um pouco português”, disse Adela Fernandez.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participou do início dos trabalhos, na capital federal, e disse aos estrangeiros que eles serão decisivos para garantir o atendimento universal pelo SUS.

“O Brasil tem o grande desafio de levar saúde pública universal e gratuita para toda sua população. Não consolidamos esse desafio ainda. Estamos com 25 anos ainda do nosso sistema público de saúde, há uma longa caminhada e vocês estão sendo um passo decisivo nessa caminhada. O Mais Médicos é um passo ousado, corajoso, por isso que tem polêmicas, debate”, disse.

Inicialmente, 522 médicos formados no exterior haviam confirmado participação no primeiro mês de seleção individual do Mais Médicos. Posteriormente, mais 37 profissionais completaram a confirmação de inscrição e os médicos com diploma estrangeiro somam 559.

Desse total, apenas 282 médicos formados no exterior conseguiram entregar toda a documentação necessária a tempo e estão no módulo de acolhimento, conforme o Ministério da Saúde. Além deles, 400 médicos cubanos também participam. Eles foram contratados por meio de um acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Veja argumentos a favor e contra o programa Mais Médicos

PRÓSCONTRAS
O programa vai aumentar o número absoluto de médicos em atuação no Brasil (hoje há 1,8 profissionais para cada 1.000 habitantes). Na Argentina, esse índice é 3,2; em Portugal, 3,9 e na Espanha, 4)Sem o Revalida, o médico estrangeiro poderá colocar a vida do paciente em risco, já que sua capacidade não foi testada adequadamente. Eventuais defasagens no currículo não podem ser supridas em apenas três semanas (período de treinamento para os estrangeiros)
Vai levar médicos para áreas onde há carência desses profissionais (em certos Estados há só 0,58 profissionais por habitante, como no Maranhão)Dificuldades com a língua portuguesa podem trazer problemas de comunicação entre o médico e o paciente
Permite melhorar o conhecimento dos profissionais em atenção básica e saúde pública, áreas nas quais os recém-formados não costumam ter interesse em atuarO programa não resolve a questão da falta de infraestrutura, nem a falta de outros profissionais importantes para o atendimento à população, como fisioterapeutas, dentistas, enfermeiros, nutricionistas etc
O programa vai melhorar o atendimento à população indígena que vive em regiões distantes e carentes onde os médicos não chegamOs estrangeiros podem não ter conhecimento suficiente sobre as doenças tropicais que assolam o país, como a dengue
Os empregos dos médicos brasileiros não estão ameaçados, porque os estrangeiros só atuarão em locais pré-determinados. Se eles fizessem o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira), aí sim poderiam atender em todo o paísOs estrangeiros podem não ter conhecimento suficiente de certos medicamentos e equipamentos utilizados no país
O programa deve suprir uma demanda imediata e agilizar a regularização do sistema de saúde, dado o longo tempo de formação de novos médicosOs médicos inscritos no programa têm vínculo empregatício precário: não têm 13º salário, não recebem horas extras nem FGTS
Ainda que o foco do programa não seja a infraestrutura, extremamente precária em certas regiões, a população terá acesso ao médicoCom o acordo para a vinda de médicos de Cuba, o governo está sendo conivente com um esquema de trabalho que é alvo de críticas: os profissionais recebem apenas parte da bolsa