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Saúde íntima feminina exige cuidados especiais; confira mitos e verdades

Chris Bueno

Do UOL, em São Paulo

18/11/2013 07h00

Coceira, menstruação irregular e corrimento. Algumas mulheres acreditam que esses problemas são apenas respostas normais e passageiras do organismo feminino. Mas não é bem assim: eles podem ser sinal de que alguma coisa está errada e precisam de atenção especial.

Falar sobre saúde íntima feminina é um assunto complicado, tanto pelo fato de o órgão feminino ser interno e complexo como por ele ser cercado de tabus. Muitas mulheres chegam mesmo a ter vergonha de falar sobre o assunto e tendem a ignorar ou subestimar sinais que podem ser sintomas de algum problemas de saúde, e que precisa de acompanhamento médico.

Sinal de alerta

Esse é o caso, por exemplo, de quando a menstruação apresenta alguma alteração. Variação de intervalo entre um sangramento e outro, intensidade e duração do fluxo são alterações normais, e variam de mulher para mulher. Mas se a mudança é muito grande, então é preciso ficar atenta: pode ser sinal de alguma alteração hormonal, orgânica ou até mesmo funcional.

“Em relação aos ciclos menstruais é muito importante a caracterização individual de cada paciente. Mesmo assim, as mudanças devem sempre ser levadas ao conhecimento do ginecologista para melhor elucidação diagnóstica”, explica a ginecologista Andréa da Rocha Tristão, professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Unesp.

Se o fluxo passa a ser muito intenso ou ter duração muito longa, pode ser sinal da presença de um mioma (tumor benigno do tecido que forma a parede do útero). Já se a coloração da menstruação se torna mais escura (amarronzada ou quase preta), pode ser indício de endometriose, feridas (na vagina, no útero ou no colo do útero), HPV ou outras DSTs, cisto de ovário, alterações hormonais por medicamentos, estresse e até mesmo mudança de pílula anticoncepcional.

Também é preciso atenção no caso de alterações na secreção vaginal. Toda mulher apresenta secreção vaginal, mas mudanças na cor ou no cheiro ou ainda dores podem ser sinal de algum problema de saúde.

Ter uma maior secreção vaginal é normal em situações como gestação, ovulação, uma semana antes do período menstrual, uso de pílulas anticoncepcionais, excitação sexual, adesivos ou anel vaginal. Mas quando não há esses motivos, e a secreção ainda apresenta ardor, coceira e cheiro forte, pode ser então um corrimento. E corrimento pode ser sintoma de infecções provocadas por bactérias, fungos ou até mesmo vírus.

Já coceira na região íntima nunca é normal. Ela pode indicar desde uma alergia até uma DST. Sintomas relacionados à coceira, como secreção de coloração e odor estranho, dor ao urinar, vermelhidão, inchaço e dor no ato sexual indicam que o problema é mais do que uma simples irritação e merece atenção.

Sem vergonha

Um dos maiores erros ao se tratar da saúde íntima feminina é ignorar os sintomas. Se algo está errado, é preciso procurar ajuda médica especializada para investigar o problema. Caso contrário, ele pode se tornar mais grave e, além de ficar mais difícil de resolver, pode causar grandes transtornos.

“Ser acompanhada regularmente por um ginecologista é um cuidado de saúde que nenhuma mulher deveria descuidar. Além de ajudar a prevenir problemas ginecológicos, essa supervisão médica permite detectar precocemente doenças como câncer de colo de útero”, alerta Alessandra Bedin, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein.

Cuidados

Para evitar esses problemas, existe uma série de atitudes que a mulher pode tomar. A primeira delas é ter um cuidado redobrado com a higiene íntima. É interessante usar sabonetes íntimos, especiais para fazer a higiene da região íntima.

A diferença do sabonete íntimo e do comum está no pH: enquanto os comuns tendem para o pH básico ou neutro (entre 9 e 10), os íntimos têm um pH ácido (entre 4 e 4,5), resultado da composição com ácido láctico. Essa acidez é necessária para manter vivos os microrganismos e lactobacilos que vivem nessa região e têm como função proteger a mulher de possíveis infecções.

Sabonetes que contêm hidratantes devem ser evitados, pois apesar de serem ótimos para a pele, são péssimos para a vagina. Desodorantes íntimos, talcos e perfumes também, pois podem causar reações alérgicas.

Por outro lado, excesso de lavagens na região íntima também pode causar problemas. Lavagens exageradas na região genital ou uso de chuveirinhos não são aconselhados, pois podem remover a proteção natural da vagina, tornando a área mais suscetível a infecções.

Absorvente

Durante a menstruação, o cuidado deve ser ainda maior. O absorvente, tanto o interno como o externo, deve ser trocado no mínimo três vezes ao dia, ou quantas vezes forem necessárias, dependendo do fluxo. “As trocas devem ser frequentes para não favorecer a proliferação de bactérias”, aponta Bedin.

Além disso, a cada troca, deve ser feita a higiene local. Absorventes perfumados ou diários devem ser evitados: o primeiro porque pode causar alergia, e o segundo porque impermeabiliza e impede a transpiração da região genital, favorecendo a instalação de fungos e bactérias.

E o cuidado maior deve ser o acompanhamento por um ginecologista, sem vergonha ou tabus. Afinal, saúde íntima é uma questão importante, e precisa de toda a atenção e cuidado para que as mulheres tenham uma boa qualidade de vida, com muita saúde e prazer.