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Você tende a ver o copo meio cheio ou meio vazio? Faça o teste e descubra

O ideal, segundo especialistas, é que pessimismo e otimismo coexistam com bom senso e equilíbrio - Getty Images
O ideal, segundo especialistas, é que pessimismo e otimismo coexistam com bom senso e equilíbrio Imagem: Getty Images

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

07/12/2013 07h00

Quem pensa positivamente leva vantagem sobre os que veem o copo meio vazio quando o assunto é saúde. Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, acompanharam quase 100 mil mulheres durante oito anos, e concluíram que as mais esperançosas apresentaram risco 9% menor de desenvolver problemas cardíacos e 14% menos probabilidade de morrer devido a qualquer outra doença que não seja do coração. Além da menor tendência a desenvolver depressão, estresse e pressão alta, elas costumam fumar menos, se alimentar melhor e se exercitar mais.

Os homens foram objeto de outro estudo, desta vez feito pelo Instituto de Saúde Mental, na Holanda, com 545 participantes. No grupo dos que acreditavam que seus projetos se realizariam, houve redução de até 50% nas mortes por males cardiovasculares. A explicação: tal postura estimula o organismo a liberar substâncias como serotonina e dopamina, neurotransmissores que afastam o nervosismo e protegem os vasos.

 

Equilíbrio, acima de tudo

Ser positivo demais, no entanto, pode trazer problemas. De acordo com estudo publicado pelos psicólogos Lisa A. Neff e Andrew L. Geers em um periódico científico, recém-casados que se dizem otimistas estão mais propensos a terem um casamento infeliz. Segundo o jornal britânico Daily Mail, tal tendência se deve ao fato de essas pessoas apresentarem maior dificuldade em lidar com crises.

Além disso, se o sujeito só espera coisas boas da vida, pode deixar de tomar importantes passos para se prevenir contra as adversidades inerentes ao cotidiano. E, muitas vezes, para ele é mais complicado superar obstáculos quando o que planejou dá errado. Quer dizer, é essencial ter equilíbrio e bom senso.

Conversas ‘internas’

Mas o que faz alguém ser tão otimista ou tão pessimista? Na opinião do psiquiatra Cyro Masci, a diferença básica está na forma como cada um conversa consigo mesmo. “Indivíduos otimistas, resistentes aos infortúnios, acreditam que toda situação infeliz é passageira; já os pessimistas encaram tais acontecimentos em termos permanentes. Uma coisa é pensar ‘eu não consigo nunca ganhar dinheiro’ e outra é ponderar consigo algo como ‘tenho recebido menos ultimamente’ ou ‘esses tempos estão difíceis, mas já passei por dificuldades antes’.”

Outra característica de ambos está na abrangência com que tentam explicar as desventuras. Otimistas justificam a crise dizendo que ‘o Brasil é um país difícil’ ou ‘esta empresa está numa situação delicada’. “Pessimistas atribuem justificativas mais universais para seus insucessos, como ‘o mundo está perdido, a crise está por toda a parte’ ou ‘toda empresa é injusta, todo emprego é miserável’. Por fim, tendem a interiorizar os motivos da dificuldade (‘não está dando certo porque sou burro’), enquanto otimistas a atribuem a terceiros (‘esta empresa é chefiada por incompetentes!’)”, considera Masci.

Ele ainda complementa dizendo que o otimista explica os bons acontecimentos em termos estáveis e positivos (‘sou competente’), enquanto o pessimista os atribuem a causas temporárias (‘tive sorte’).

“A razão é simples: o primeiro vê a pedra como algo que será rapidamente removido dali; o segundo, como um obstáculo imenso impossível de retirar. Exemplo: se ocorrer um assalto no farol, um dirá ‘desta vez, fui assaltado, mas não significa que amanhã acontecerá de novo’; no outro extremo, o pensamento será ‘esta cidade acabou, os bandidos tomaram conta dela, não tem mais jeito’. O curioso é que tal comportamento pode ser influenciado por diversos fatores, como a presença de doença física, que provoca um retraimento geral, ou por falta de micronutrientes, como o aminoácido triptofano, precursor do transmissor químico serotonina e, portanto, imprescindível para o bom humor e o otimismo.”

Criação e genética

A família tem grande influência também, defende a psicóloga clínica e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, coordenadora da clínica psicológica e de trabalhos hospitalares no Hospital Beneficência Portuguesa e Hospital das Clínicas (SP). “Sujeitos naturalmente otimistas geralmente vêm de um lar em que predomina este aspecto, além de diálogo e descontração. Há, também, um componente genético que ajuda, o gene 5-HRRLPE, responsável pelo transporte da serotonina. Quando há falhas nesse processo, a pessoa pode sofrer com tendência à depressão; se o funcionamento é adequado, é muito provável que seja mais positiva.”

O psiquiatra Cyro Masci diz que os confiantes em geral têm uma vida com mais alegria e felicidade, conseguindo encarar os desafios com energia e se recuperando rapidamente dos problemas. “Como se estressam pouco, tendem a sofrer menos de doenças relacionadas ao estresse”.

Mas é preciso cuidado, alerta Masci. Em assuntos que envolvam decisão de risco, como uma aplicação financeira ou uma resolução sobre a carreira profissional, o ideal é não ser nem totalmente otimista nem totalmente pessimista: “Tem que se ter uma postura realista para analisar os diversos fatores envolvidos, observando-os sem paixão. Assim, será possível enxergar o melhor caminho, que possivelmente não é o mais florido e tampouco o cheio de espinhos.”

Pé na realidade

Curioso é que existem profissões que requerem pessimismo, sendo as campeãs as de advogados e de gestores financeiros de empresas. “Tais atividades exigem que se vislumbre sempre o que pode dar errado, o cenário menos favorável, as piores intenções e manipulações humanas. Para que não se contaminem demais, o ideal é que essas pessoas reservem um período de tempo para ações em que possam praticar uma visão mais positiva”, aconselha Masci.

Em outros ambientes de trabalho, no entanto, o pessimista pode não ser bem visto pelos demais. “É possível, inclusive, que não seja promovido com facilidade por passar imagem de incompetência ou de alguém muito desmotivado”, completa a psicanalista Priscila Gasparini Fernandes.

“Mesmo pessoas otimistas podem se prejudicar, por não enxergarem o mundo com o pé na realidade. São autoconfiantes demais e acabam abusando e arriscando, o que as predispõe a perigos. Por exemplo: fumam e acham que não terão nenhum prejuízo ou que uma doença irá lhes atingir; dirigem em alta velocidade porque nada irá acontecer; não fazem check-up de saúde pois não é necessário, estarão sempre bem; vão ao limite na questão financeira, colocando seus bens na reta. Falta harmonia e bom senso nas atitudes, ”, conclui a terapeuta.

Veja as características mais marcantes de cada tipo

OTIMISTASPESSIMISTAS
Atribuem o que dá certo em suas vidas às suas próprias capacidades e acreditam que qualquer situação adversa é provisória e não definitiva;Atribuem tudo que dá errado à sua responsabilidade pessoal;
Diante da dificuldade, tendem a defender que ao menos parte da responsabilidade não estava sob seu controle, atribuindo boa parcela à situação social, à política de governo ou outra causa externa;Acreditam que tudo que dá certo é obra da sorte, do acaso ou da ação de outras pessoas;
Conseguem permanecer em um estado de ‘vai melhorar’ por um longo período de tempo, por pior que a situação se apresente;Diante da dificuldade, pensam que a situação só vai se agravar, se solidificar e ficar estável em um nível muito ruim;
São mais alegres e felizes, encarando os desafios com energia;Nem entram nessa perspectiva de que ‘pode melhorar’, sua tolerância e seu tempo de credulidade são bem mais curtos;
Têm mais autoconfiança e, em geral, são comunicativos e acreditam nos seus planos e os executam com facilidade;São menos felizes, têm índices de qualidade de vida inferior e tendem a ter mais doenças relacionadas ao estresse quando comparados ao outro grupo, destaca o psiquiatra Cyro Masci;
De maneira geral, por ter autoestima fortalecida, há mais equilíbrio mental, resistência a desenvolver estresse e melhoria no sistema imunológico, ressalta a psicóloga clínica e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes.Possuem baixa autoestima e não acreditam na sua capacidade de realização.