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Médico alerta para possível aumento de sarampo e DSTs durante a Copa

Cármen Guaresemin

Do UOL, em São Paulo

07/02/2014 07h00

O Brasil sediará um dos maiores eventos esportivos mundiais este ano, a Copa do Mundo.  Isso significa que milhares de estrangeiros chegarão ao país e trarão, com eles, vírus e bactérias comuns em suas regiões. Além disso, o evento também vai aumentar a movimentação dos próprios brasileiros de um Estado para outro. Para piorar, no inverno as pessoas tendem a fechar mais as janelas, facilitando a proliferação de micro-organismos.

O infectologista Jessé Reis Alves, responsável pelo Check-up do Viajante do Fleury Medicina e Saúde, ressalta que vamos importar e exportar doenças infecciosas. “Não falo apenas dos estrangeiros que chegarão, mas dos brasileiros que irão se locomover para acompanhar os jogos. O turista de fora vem alertado, já o brasileiro,muitas vezes, se esquece que em algumas áreas do país existe risco de febre amarela e malária, por exemplo”.

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    Além de enfrentar a gripe, comum no meio do ano, o brasileiro terá contato com muito mais vírus importados de outros países por causa dos turistas que vêm para a Copa do Mundo

“Quando pensamos em eventos de massa como a Copa do Mundo, pensamos também num possível potencial de disseminação de doenças. Não quero difundir o pânico, mas alertar para esse problema”, afirma o infectologista. 

Para evitar problemas, o médico recomenda alguns cuidados, desde ficar atento ao local onde se vai comer até estar em dia com as vacinas para casos de surtos que podem vir de outros Estados e de outros países. Além disso, como o período é propício para se contrair gripe e resfriado, é importante lavar as mãos com mais frequência. 

As recomendações são para todos, mas especialmente para o público que terá um contato mais direto com os turistas, como motoristas de táxis, funcionários de hotéis, restaurantes e pousadas, além de pessoas que trabalharão nos estádios e na organização do evento, por exemplo.

O público alvo da vacinação [contra gripe] feita pelo governo não é o que irá prevalecer na Copa, que é o público formado por jovens

Jessé Reis Alves, infectologista

O infectologista dá o exemplo de torcedores que irão assistir aos jogos em Manaus e aproveitar para conhecer a floresta. Além de usar repelentes,é preciso vacinar-se até dez dias antes da viagem. Vale ressaltar que gestantes, bebês com menos de seis meses e pacientes com doenças que diminuem a imunidade não podem receber a vacina. O mapa com as localidades para as quais a vacina contra febre amarela é recomendada pode ser encontrado no site do Ministério da Saúde. 

Hepatite e sarampo

A hepatite A, transmitida por água e alimentos contaminados, é frequente entre turistas em certas regiões do país. Outra doença que chama a atenção é o sarampo - nas últimas edições do evento (na África do Sul, em 2010, e na Alemanha, em 2006) registrou-se aumento no número de casos da doença. Isso significa que após a Copa que será realizada no Brasil pode ocorrer também. E a doença tende a ser mais grave no adulto.

Recentemente, foram divulgados dez casos de sarampo em Fortaleza. Quase sempre, estão relacionados a pessoas que viajaram para outros países. O vírus do sarampo do genótipo D8 é um tipo viral que está circulando em países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e China, onde há uma elevada incidência da doença.

“O sarampo está bem controlado no Brasil, mas na Europa continua sendo um problema sério.  A vacina é dada geralmente aos nove meses de idade e a segunda dose aos 15, porém, muitos só tomam a primeira. Por isso, prevenir-se é fundamental", ressalta Alves.

Ele lembra que, de acordo com as recomendações da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, todo adulto nascido após 1960 deve ter a vacina atualizada, caso não haja registro prévio dessa vacina em suas carteirinhas ou, o que é mais frequente, caso a pessoa não tenha mais nenhuma carteirinha vacinal. 

A vacina está disponível no serviço público. Quem tomar pela primeira vez pode ter um quadro parecido com aquele que algumas pessoas apresentam após a vacina da gripe: quadro febril, mal-estar, mas algo bem leve. “É uma vacina que recomendo que as pessoas tomem independente da Copa”, aconselha.

DSTs

Não há como negar que o evento também vai estimular o turismo sexual. O infectologista adverte que, na página do Ministério do Turismo, há uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) com 4.000 torcedores que aponta este perfil: maioria de público masculino,  na faixa etária entre 25 e 50 anos e que viaja sozinho.

"A exposição sexual é maior e é algo que tem de ser pensado. No caso da hepatite B, há vacinas, inclusive gratuitas. Para as demais doenças, o ideal é mesmo o uso de preservativo", aconselha.

Desconhecida no Brasil

Um arbovírus, do gênero Alphavirus (Togaviridae), é transmitido aos seres humanos pelos mosquitos do gênero Aedes, os mesmos da dengue, causando uma doença batizada de Chikungunya. O nome refere-se a "aqueles que se dobram", em swahili, um dos idiomas da Tanzânia, região onde os primeiros casos surgiram.

Com sintomas semelhantes aos da dengue, a Chikungunya manifesta-se com uma fase febril aguda que dura apenas dois a cinco dias, seguida de uma doença prolongada que afeta as articulações das extremidades. Uma parte dos infectados pode desenvolver a forma crônica, com a permanência dos sintomas, que podem durar entre seis meses e um ano.

“Este vírus está bastante presente na Ásia e apareceu com força no Caribe. Já tivemos casos no Brasil, pessoas que viajaram e voltaram com a doença. Corremos riscos de importar a Chikungunya se recebermos pessoas infectadas. Ela lembra a dengue, mas é uma doença mais arrastada e debilitante. Por se parecerem muito, isso preocupa, pois os profissionais da saúde podem confundir as duas”, alerta o infectologista.