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O que é bom você saber sobre o HPV e a vacina aprovada na rede pública

Na maior parte das vezes, o organismo combate o HPV sozinho; somente 5% dos infectados desenvolverão alguma forma de manifestação - ThinkStock
Na maior parte das vezes, o organismo combate o HPV sozinho; somente 5% dos infectados desenvolverão alguma forma de manifestação Imagem: ThinkStock

Do UOL

Em São Paulo

16/03/2014 06h00

Teve início esta semana a campanha de lançamento da vacina contra o HPV para meninas de 11 a 13 anos no sistema público de saúde. Para enfatizar a importância da imunização, o evento organizado pelo Ministério da Saúde em São Paulo reuniu a presidente Dilma Rousseff, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin e o prefeito da capital Fernando Haddad, além de várias outras autoridades. O esforço na divulgação não é à toa: por se tratar de uma vacina nova e um vírus sexualmente transmissível, o tema desperta receio nos pais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), autoridades sanitárias em todo o mundo e sociedades médicas brasileiras como a de pediatria e ginecologia e obstetrícia reiteram a importância da vacinação. Mas há médicos que não estão convencidos. E centenas de pais e mães, após encontrarem relatos de efeitos graves supostamente ligados à imunização, passaram a questionar se vale a pena autorizar que as filhas recebam a primeira dose na escola. Leia, a seguir, alguns fatos sobre o HPV e a vacina:

- O HPV (papilomavírus humano) infecta a pele e as mucosas. Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV, sendo que cerca de 40 tipos podem infectar o trato ano-genital (é considerada a doença sexualmente transmissível mais comum que existe). Pelo menos 13 tipos de HPV podem causar lesões capazes de evoluir para câncer.

- Estudos no mundo comprovam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. Essa percentagem pode ser ainda maior em homens. 

- Os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo do útero e também na maioria dos casos de câncer de ânus, vulva e vagina. Já os tipos 6 e 11 não causam câncer, mas são encontrados em 90% das verrugas genitais.

- O HPV é a principal causa do câncer do colo de útero, terceiro tipo mais frequente entre as mulheres, atrás apenas do de mama e de cólon e reto. No ano passado, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), 4.800 brasileiras morreram desse tipo de câncer no país, a maioria de classes menos favorecidas. 

- Na maior parte das vezes, o organismo combate sozinho o HPV. Estima-se que somente cerca de 5% das pessoas infectadas pelo HPV desenvolverão alguma forma de manifestação. Dessas, uma pequena parte evoluirá para câncer caso não haja diagnóstico e tratamento adequado. O HPV tem sido associado, cada vez mais, a casos de câncer de boca e garganta, e em idades cada vez mais baixas.

- O uso de preservativo ajuda, mas não protege 100% contra o HPV, já que o vírus pode estar áreas que não estão cobertas pela camisinha. Qualquer tipo de atividade sexual pode transmitir o HPV, não apenas a penetração. E tanto homens quanto mulheres podem estar infectados sem apresentar sintomas.

- Não há tratamento específico para eliminar o vírus. O tratamento das lesões clínicas deve ser individualizado, dependendo da extensão, número e localização. Podem ser usados laser, eletrocauterização, ácido tricloroacético (ATA) e medicamentos que melhoram o sistema de defesa do organismo. Após ser tratada, a pessoa ainda pode voltar a se reinfectar.

Maior especialista em HPV do Brasil fala sobre a vacina

- A vacina quadrivalente contra o HPV (Gardasil) utilizada na campanha brasileira, protege contra 4 tipos de HPV (6, 11 ,16 e 18). Apesar de gratuita apenas para meninas de 11 a 13 anos (e, futuramente, para todas as meninas de 9 a 13 anos), ela é aprovada para homens e mulheres de 9 a 26 anos. A vacina bivalente (contra os tipos 16 e 18) é aprovada sem limite de idade. Clínicas particulares também oferecem a vacina para pessoas acima dessa faixa etária, por considerar que há benefício.

- O Ministério da Saúde adotou um esquema vacinal diferente do previsto na bula da vacina quadrivalente, que estabelece a segunda dose deve ser administrada dois meses após a primeira, e a terceira dose, seis meses após a primeira. Na rede pública, a segunda dose acontece seis meses após a primeira e a terceira, apenas cinco anos depois. Segundo o governo, o esquema alternativo garante maior adesão.

- Como ocorre com todas as vacinas, as reações mais comuns são relacionadas ao local da injeção como, por exemplo, dor, vermelhidão e inchaço (edema). Os menos comuns são cefaleia e febre. Em geral, esses sintomas são de leve intensidade e desaparecem no período de 24 a 48 horas.

- A síncope (desmaio) pode ocorrer após qualquer vacinação, especialmente em adolescentes e adultos jovens. Portanto, as pessoas vacinadas devem ser observadas com atenção por aproximadamente 15 minutos após a administração da vacina.

- No Japão, o governo deixou de promover a vacina após o registro de síndromes dolorosas em cinco meninas. Os casos estão sendo investigados, mas a vacina continua disponível gratuitamente para a população interessada. 

- A vacina quadrivalente contra o HPV está no programa nacional de imunizações de 62 países. Mais de 134 milhões de doses da vacina quadrivalente contra o HPV foram  aplicadas no mundo.

- Há relatos de meninas que desenvolveram doenças autoimunes após tomarem a vacina. Eles são descritos em estudos científicos publicados e também há processos em curso contra a fabricante. Segundo médicos e a empresa, não há comprovação de que o produto foi a causa desses eventos. 

- Nenhum estudo comprova que a vacina quadrivalente reduz a incidência de câncer de colo de útero. Como ela foi aprovada em 2006 e o HPV pode levar mais de 30 anos para se desenvolver, isso só será documentado dentro de algumas décadas.

- Alguns estudos mostram que a vacina reduz as infecções por HPV. Nos EUA, por exemplo, elas caíram pela metade após um terço das jovens entre 13 e 17 anos tomarem todas as doses da vacina.

Fontes: Inca (Instituto Nacional de Câncer), MSD, Ministério da Saúde e médicos consultados pelo UOL Saúde