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Arritmia cardíaca pode levar à morte; veja mitos e verdades

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

24/03/2014 07h00

De repente, o coração começa a bater mais rápido. E assusta! Quem já passou por isso, sabe como é. Estamos falando da arritmia, uma alteração no ritmo normal do coração que produz frequências cardíacas velozes, lentas e/ou irregulares. Nos batimentos acelerados (mais de 100 por minuto), o problema é chamado de taquicardia. Já nos vagarosos (menos de 60), de bradicardia.

Embora a maioria das arritmias não provoque danos, algumas são sérias – já que o coração, não sendo capaz de bombear sangue suficiente para o corpo, pode danificar não só a si próprio como também o cérebro e outros órgãos.

São várias as causas da disfunção, como doenças das artérias coronárias e do músculo cardíaco (miocardiopatia), alterações nas concentrações de eletrólitos (sódio, potássio e cálcio) no organismo e pós-cirurgia do coração.

“Algumas arritmias não têm origem definida, outras são congênitas, quer dizer, a pessoa já nasce com a anormalidade, e há também as que são oriundas de outros males, como doença de Chagas, pressão alta e diabetes”, salienta o cardiologista Guilherme Fenelon, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).

Batida forte

Os sintomas costumam ser bem variáveis e às vezes o problema pode aparecer silenciosamente. Porém, o mais comum é a palpitação. “É possível perceber o coração batendo mais forte, rápido ou irregular. O indivíduo sente a aceleração de forma súbita ou tem a percepção do batimento ‘falho’, traduzido por uma pausa entre os pulsos cardíacos ou por uma batida mais forte seguida de pausa”, explica a cardiologista Rica Buchler, coordenadora do setor de cardiologia do SalomãoZoppi Diagnósticos (SP).

Apesar de a palpitação ser o sintoma mais recorrente, o paciente pode apresentar um amplo espectro de sinais. “Como, por exemplo, sofrer com fraqueza, cansaço, falta de ar, tontura, visão turva, palidez cutânea, sudorese fria, desmaio e dor no peito”, destaca Mariana Fuziy Nogueira de Marchi, cardiologista especializada em arritmia, médica assistente do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologista (SP).

Importante: já na primeira manifestação do problema pode-se ter morte súbita.

Na dúvida, procurar emergência

Os sintomas que indicam maior gravidade são confusão mental, pressão baixa, dor no peito e desmaios. Nestes casos, é recomendado procurar um atendimento médico de urgência. Como os sinais da arritmia são variáveis, não raro o problema é diagnosticado pelo médico durante um exame cardiológico – com análise do pulso e ausculta do coração com aparelho próprio.

Em condições normais, o coração bate entre 60 e 100 vezes por minuto. Em indivíduos que se exercitam com regularidade, ou que recebem medicamentos para diminuir o ritmo cardíaco, a frequência pode cair para 55 batimentos por minuto.

“O ritmo se eleva durante esforço e estresse e é possível que fique abaixo de 50 durante o sono. Tais variações são normais. Ao realizar uma atividade física, por exemplo, o organismo aumenta o consumo de oxigênio e nutrientes, fazendo o coração bater mais rápido para obter uma demanda maior de sangue”, observa a cardiologista Carla de Almeida, especializada em arritmia, médica do setor de cardiologia do SalomãoZoppi Diagnósticos.

Exames e tratamentos

Os exames principais para detectar o problema são o eletrocardiograma feito no consultório, o Holter de 24 horas (aparelho que grava os batimentos durante o dia todo) e o monitor de eventos, que possibilita acompanhar os pulsos por períodos prolongados.

“Em alguns casos, é possível lançar mão do estudo eletrofisiológico, que é um cateterismo cardíaco no qual se avalia a parte elétrica do coração. Muitas vezes, o tratamento é feito no mesmo procedimento por meio da ablação por cateter, que consiste na cauterização dos focos de taquicardia”, explica Fenelon.

Mariana Fuziy Nogueira de Marchi, médica do setor de cardiologia do SalomãoZoppi Diagnósticos, complementa dizendo que o ecocardiograma permite visualizar o sistema cardíaco, as válvulas e as demais estruturas, auxiliando no diagnóstico de doenças que podem levar a arritmias.

Algumas arritmias são crônicas e não têm cura, mas podem ser controladas com medicamentos e estilo de vida saudável.  Fenelon recomenda controlar bem a pressão arterial, o diabetes (açúcar no sangue), o colesterol (gordura no sangue), a obesidade, não fumar e fazer atividades físicas regulares.

Carla de Almeida acrescenta que a maioria das arritmias precisa de uma alteração na anatomia do coração para ocorrer – o chamado “substrato da arritmia”.

“O substrato mais frequente é a cicatriz de um infarto do músculo cardíaco. Outras moléstias, como a doença de Chagas, também podem predispor ao problema. Além disso, existem os males genéticos e hereditários que, quando diagnosticados, requerem tratamento adequado. Cada caso deve ser particularizado para determinar a melhor conduta.”

Embora não existam medidas específicas para prevenir arritmias, sabe-se que tratar bem o coração diminui o perigo. Isso envolve ter vida saudável, boa alimentação, prática regular de atividades físicas, não fumar, beber com moderação e controlar fatores como pressão alta, diabetes, colesterol elevado e obesidade.