De alguma forma me "acostumei" a viver apesar das incertezas

Por Larissa Meira

  • Arquivo pessoal

    Larissa Meira teve uma filha - seu maior presente - após anos de quimioterapia, radioterapia e transfusões

    Larissa Meira teve uma filha - seu maior presente - após anos de quimioterapia, radioterapia e transfusões

Meu nome é Larissa e aos 20 anos descobri que tinha câncer. E, para ser bem sincera, nunca tinha ouvido falar de linfoma. Ninguém se prepara para uma notícia dessas e demorou um pouco até que a ficha caísse. Entre exames e preparo para o tratamento, foram dez dias no hospital, por que o meu corpo estava muito fraco para aguentar a quimioterapia, a doença já estava num estágio avançado e havia chegado nos ossos. Os médicos precisavam ter certeza do tipo de câncer para saber o tipo quimioterapia que eu deveria tomar. Foram meses de tratamento intensivo até que eu fiz um exame mais completo que mostrou que a doença permanecia  resistente em dois lugares nos ossos. Sou de Recife e tive que vir para São Paulo para fazer o meu primeiro transplante de medula óssea em 2008.  

Foram quatro meses difíceis, mas que resultaram numa medula nova em folha. Voltei para casa e tentei me adaptar à rotina novamente. Faculdade, estágio e fazia muitos planos. Mas alguns meses depois, senti algumas dores que fizeram o médico desconfiar do possível retorno da doença. Vim de novo para São Paulo, onde tiveram certeza, a doença havia voltado novamente e tão forte quanto antes. Dessa vez fiz o tratamento, mas haviam me avisado que eu não criasse expectativas quanto ao resultado desses remédios, pois eles iriam apenas estacionar a doença até que chegasse a hora do segundo transplante, que seria feito a partir da medula do meu irmão mais novo, que foi o menos incompatível encontrado. Eu não sabia na época, mas as chances desse transplante ter tido sucesso eram muito pequenas. Fiz os exames e diferente de tudo que imaginavam, a doença havia sumido, mas mesmo assim eu precisava fazer o transplante par assegurar que a doença não voltaria mais.

Vim de novo para São Paulo em 2010 e passei pelo mesmo processo do transplante de medula. E lembro que foi uma das épocas mais difíceis de toda essa história, porque de alguma forma eu havia voltado para o mesmo lugar para reviver o que eu nunca pensei ter que passar novamente. Mas diferente de todo o planejamento, o segundo transplante foi muito mais tranquilo e tivemos sucesso num tratamento que na época era novo aqui no país.

Passados alguns meses tive uma complicação decorrente de um vírus, que é comum em pacientes transplantados, mas que exigiu que eu tomasse altas doses de antiviral por quase uma mês e isso fez com que a medula que eu recebi respondesse negativamente. Ela foi enfraquecendo, até não apareceu mais nos exames, e isso foi confuso, por que ao mesmo tempo eu estava bem. De lá pra cá, a doença voltou algumas vezes, mas bem diferente de antes, ela aparecia sempre muito pequena e fraca.

Por causa do tratamento intenso me mudei para São Paulo com a minha família, aqui conheci meu marido e em 2012 recebi o maior presente que poderia imaginar, Maria Rosa, minha filha. Foram anos de quimioterapia, radioterapia, cirurgias, U.T.I., transfusões, tratamentos alternativos e exames exaustivos. E eu tenho certeza que eu não conseguiria pela minha força  e sozinha. Não acredito em coincidência, acaso ou sorte. Eu acredito que o mesmo Deus que me deu a vida um dia, soprou ela novamente em mim. Passei por várias situações onde as chances de sobreviver eram muito pequenas e de alguma forma me "acostumei" a viver apesar das incertezas. Eu não trocaria tudo o que aprendi com Deus e com os outros por uma vida saudável, onde tudo daria certo de acordo com os "meus planos", por que não existe prazer maior do que viver pela fé.

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