Em um exame para fazer a reconstrução da mama descobri que estava grávida

Por Nátali Araújo
Arquivo pessoal
Contratiando todas as expectativas, Nátali Araújo engravidou após o tratamento contra o câncer

Meu nome é Nátali, tenho 28 anos, e no dia 12/02/2012, aos 26 anos, no banho, ao me tocar, percebi uma bolinha na minha mama direita. Imaginei que tinha machucado minha mama em algum lugar, pois eu tinha acabado de chegar do estadio de futebol para ver o jogo do meu time do coração, e tinha enfrentado uma muvuca para entrar.  Terminei meu banho com tranquilidade, mas, ao passar dos dias, aquela bolinha não ia embora; eu não sentia dor mas ela estava me incomodando. Resolvi, então, marcar uma consulta com meu ginecologista. Na consulta o mesmo disse que realmente tinha um nódulo na minha mama, e que iria pedir exames. Fui fazer um ultrassom, pois devido a idade não é recomendado que possamos fazer a mamografia. Voltei com o resultado ao meu médico e o mesmo confirmou que era um nódulo, mas era para eu ficar tranquila. Mesmo assim ele optou fazer a retirada.

Marcamos a cirurgia para dia 27/02 e até esse momento tratamos o caso como apenas um fibroadenoma. Mas quando meu médico começou a me operar percebeu que o nódulo não era fibroadenoma e mandou para a biópisia. Foi quando, no dia 06/03/2012,  recebi a notícia que mudaria minha vida para sempre: " você esta com câncer". E, acreditem, a minha primeira pergunta foi: "eu vou ficar careca?"

No primeiro momento eu entrei em desespero, chorei, gritei dentro do consultório e não queria acreditar. Como com câncer de mama aos 26 anos de idade? Eu nunca tinha ouvido falar. Câncer de mama, até então, era, para mim, em mulheres com mais de 40 anos. Eu nunca tinha visto campanhas de câncer para mulheres jovens se cuidarem.  Meu médico começou a falar tudo o que iria acontecer e eu fui entrando em desespero , meu câncer já estava no grau 3 e eu teria que operar o mais urgente possível. Eu só pensava em como daria essa noticia a minha família. Ao chegar na casa da minha mãe a família toda estava reunida, todos em desespero, meu marido e minha mãe eram os que estavam mais aflitos, minhas amigas foram me ver e todos passando energias boas. Quando cheguei em casa, coloquei um DVD para assistir e, depois de pensar muito, eu parei de me perguntar  "por que eu?", e mudei a pergunta "para quê essa luta"?

Foi quando percebi que câncer nenhum era maior do que minha vontade de viver e ver meu filho, que na época tinha 3 anos, crescer. Eu tinha um motivo muito forte para lutar pela minha vida. Se a luta é fácil? Não, ela não é fácil ... Passei pela mastectomia radial no dia 17/03, passei muito mal depois da cirurgia, por um momento pensei que fosse morrer, ate que recebi bolsas de sangue e fui melhorando. Tive alta e, ao chegar em casa, uma nova adaptação: eu que sempre fui independente estava precisando de ajuda até para tomar banho, e a luta estava só começando. Logo eu passei pela consulta com a oncologista, e quando ela começou  a falar sobre o tratamento foi tranquilo, eu sabia que era para meu bem e por mais efeitos que eu sofreria, a quimioterapia naquele momento era minha maior aliada para a vitória, mais de repente ela perguntou se eu tinha filhos eu respondi que sim, ela me olhou nos olhos é disse "você não vai poder ter mais filhos". Eu entrei em choque e comecei a chorar, meu marido tentando me acalmar, como eu com 26 anos de idade não iria poder dar um irmão ao meu filho? Ele tentou explicar da melhor maneira possível das mudanças que iriam ocorrer em meu corpo, dos efeitos da quimio que eu não iria mais menstruar, pois iria tomar após a quimio um medicamento que iria me menopausar precocemente. Eu não me conformava com aquele fato, foi que depois comecei a conhecer meninas mais velhas do que eu, com 30 a 38 anos, que estavam na mesma luta e não tinham nenhum filho. Foi ali que parei de reclamar, pois elas poderiam não ter nenhum filho, e eu já tinha um, inclusive era ele minha força para lutar. 

Dia 09/04/2012, dia da primeira quimioterapia, você chega ao hospital e tanta informação que chega a dar um nó na cabeça, mas as que mais chamaram minha atenção foi que meu cabelo iria cair após uns 13 dias. Durante a quimio foi tranquilo, eu fiquei ali no hospital por sete horas, ao chegar em casa eu estava um pouco sonolenta, e feliz pois ate ali estava tudo bem. Depois de uns 30 minutos em casa eu comecei a conhecer os efeitos da quimioterapia, e não parei mais de vomitar; vomitei tanto que às 4h00 meu marido teve que me levar às pressas ao hospital pois eu estava sem conseguir me mexer,  nem falar. Meu corpo estava se defendendo de alguma maneira da quimioterapia; foi ali que meu marido achou que estava me perdendo, e eu achei também que fossem os últimos minutos da minha vida, mas cheguei ao hospital, recebi os medicamentos e tudo foi ficando bem. A gente passa assim uns três dias ruins, mais depois eu vivia minha vida normalmente, ia até no estadio assistir aos jogos, no meio da multidão.  Foram seis sessões de quimioterapia.

Dia 18/04/2012 comecei a sentir uma dor no couro cabeludo. Já sabia que meus cabelos estavam indo embora, aquele era o momento que eu mais temia. No dia 20/04, pela manhã, eles começaram a despencar. É uma sensação muito estranha, eu chorei muito de imaginar como seria para meu filho me ver careca. Fui ao salão raspar a cabeça, eu não queria ficar vendo o mesmo cair, e foi um dos momentos mais difíceis para mim. Ele não se importou por eu estar careca e ser diferente da mãe dos amigos dele, ele nunca teve vergonha de mim.

No dia 27/04/2012 foi a festa de aniversário do meu filho, foi a primeira vez que toda a minha família me viu de lenço na cabeça - eu não me adaptei com perucas - e foi naquele momento que percebi que as pessoas que te amam, te amam pelo o que você é e não pelo o que você tem. Esse apoio é fundamental para a nossa batalha. A festa foi uma delicia.

Depois desse dia não deixei de fazer nada do que eu gostava, vivia a minha vida como sempre vivi, mas agora com um adereço a mais, que eu adorava - cada DIA usava um diferente, percebi que a beleza está em nossa alma.

Foram meses de batalha, uma batalha dura, dolorida e cansativa, cirurgias, exames, consultas, quimioterapia, radioterapia e, junto, todo o desgaste que traz o tratamento contra o câncer. Eu sempre tive Fé, sempre lutei pela minha vida, sempre lutei pelo meu filho, pois meu maior desejo era que meu filho conhecesse a mãe guerreira que ele tem, e lutei dia a dia por ele. A peteca caiu por muitas vezes e toda vez que eu achava que não ia dar mais, recebia uma força divina para não desistir de lutar, era Deus agindo em meu coração. Cinquenta por cento da cura é a maneira que você escolhe lutar, sempre ter fé, forças e acreditar que você pode e vai vencer, vai ser fator determinante nessa luta. Nessa batalha você tem duas escolhas: ficar chorando pelo o que aconteceu ou lutar para viver,  e eu fiquei com a segunda opção.

Uma das coisas que mais me abalaram durante meu tratamento foi o fato de ouvir por diversas vezes "infelizmente você não terá a oportunidade de ser Mãe novamente". Mas esses mesmos médicos que me disseram isso dois anos atrás olharam no fundo dos meu olhos e disseram: "Você acredita em milagres?"

Sim, no dia 09/08/2013 em um exame de sangue para fazer a reconstrução da minha mama  descobri que estava grávida. Meus médicos não estavam conseguindo entender como, pois eu ainda estava fazendo tratamento, mas, para nossa surpresa, eu estava, sim, grávida, mas meu bebe e eu estávamos correndo alguns riscos.

Eu ouvi de alguns médicos que meu câncer iria voltar por causa da gestação, de outros que meu bebê não iria nascer perfeito, pois devido ao uso de alguns medicamentos ele poderia vir com alguma anomalia, mais em 31/09/2014 tive a resposta: meu filho era mais um milagre, pois minha gestação era SAUDÁVEL, eu e ele passávamos muito bem.

Deus fez dois milagres em minha vida: me deu minha vida de volta e me presenteou com mais um anjo. Ele sem dúvidas é o maior milagre da vida, o maior milagre da criação. Apesar de todos os riscos que essa gestação poderia me trazer, meus médicos já estão entendendo que maior que qualquer risco que eu estava correndo é meu Deus, que nunca me abandou, e que conduziu minha gestação da melhor maneira possível.

Por maior que seja seu problema, entregue todos eles na mão de Deus. Aquele que tem FÉ consegue todas as coisas, o impossível vira possível e os milagres vão acontecendo, pois milagres são uma das especialidades de Deus . Seja positivo sempre, enfrente sua batalha de cabeça erguida, não deixe nenhum medo ser maior que sua vontade de viver.

Tem horas que pensamos que não vamos conseguir, nossas forças vão se acabando, mais acredite em mim, tudo nessa vida passa, basta lutar e nunca perder a Fé, pois quando a VITÓRIA chega ela vem com um gosto para lá de especial.

Hoje eu e o pequeno Vitório, que está com 37 dias de vida,  temos a oportunidade de levar um pouco de esperança para as meninas que, assim como eu, imaginariam  ao receber seu diagnóstico que a vida tinha acabado; meu filho é sinônimo de uma nova vida. Hoje eu tenho o dever de compartilhar com vocês a minha história, pois sei que para muitas servirá inspiração para não deixar de lutar, pela vida e por seus sonhos.

" Acredite, assim como eu venci você também pode vencer "

Logo vou voltar ao meu tratamento, mas tenho certeza que nada é capaz de me abalar, pois acredito em mim e principalmente na missão que Deus me deu; hoje eu tenho a reposta do para quê eu estava vivendo toda essa luta.

Vitório veio para consagrar a minha Vitória nessa Batalha.

Hoje sou muito mais feliz e completa e agradecida a Deus pela batalha que enfrentei, pois foi através dela que me tornei a guerreira que hoje eu sou!!!