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Estudo contesta dados sobre queda da obesidade infantil nos EUA

Para especialista, ps dois estudos reportam basicamente os mesmo dados e usam testes similares - Thinkstock
Para especialista, ps dois estudos reportam basicamente os mesmo dados e usam testes similares Imagem: Thinkstock

Sabrina Tavernise

Do The New York Times

21/04/2014 07h00Atualizada em 21/04/2014 12h24

Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte publicaram um estudo na semana passada criando mais um problema no debate sobre a obesidade infantil. Eles contestam descoberta recente segundo a qual a obesidade infantil viria caindo desde 2004 e sustentam que uma perspectiva maior, utilizando dados desde 1999, demonstra que as crianças não estavam emagrecendo.

Então, qual visão está correta? Ao que parece as duas.

A obesidade se tornou um grande problema de saúde nos Estados Unidos, afetando perto de 17% dos norte-americanos com idades entre dois e 19 anos, contra aproximadamente 5% no começo da década de 1970. O índice subiu durante anos, mas se estabilizou e o debate atual questiona se a obesidade começou a declinar entre as mais novas dessas crianças.

A questão atraiu atenção considerável, não apenas porque os cientistas discordam quanto à resposta, mas porque tem uma dimensão política: o tema tem sido abordado com veemência por Michelle Obama, a primeira-dama dos EUA.

Os pesquisadores da Carolina do Norte e a equipe federal que produziu o primeiro estudo se valeram dos mesmos dados do Inquérito de Saúde Nacional e Nutrição. Tais dados são considerados o parâmetro ideal em pesquisa de saúde porque o peso e a altura são medidos por um profissional do setor e não pelos participantes.

Porém, em vez de examinar somente a década passada de dados de crianças com idades entre dois e cinco anos, os pesquisadores da Carolina do Norte averiguaram um período de 14 anos. Eles concluíram que um pico incomum de obesidade entre essas crianças em 2003 criou a aparência falsa de declínio posterior, assim comparar 2012 a 1999 produzia uma visão mais verdadeira das tendências.

Durante esse período mais longo, os pesquisadores constataram que a obesidade permaneceu nivelada naquele grupo mais jovem.

"Quando vemos o cenário maior, não existe mudança", disse Asheley Skinner, professora assistente de pediatria da Universidade da Carolina do Norte e principal autora do estudo, publicado no "JAMA Pediatrics". "Quero que isso continue sendo uma questão de saúde pública."

Os pesquisadores federais que fizeram a análise original, publicada no periódico, defendem os resultados. O estudo constatou que 8% das crianças de dois a cinco anos estavam obesas em 2012, contra 14% em 2004 – o primeiro declínio estatisticamente significativo em qualquer grupo.

Cynthia L. Ogden, principal autora do estudo e epidemiologista dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), enfatizou que o resultado deveria ser interpretado com cautela porque a faixa etária representa uma fração minúscula da população norte-americana e que os números permaneceram uniformes para a juventude como um todo.

"Tendências de períodos de tempo diferentes podem apresentar resultados diferentes", Ogden explicou por e-mail.

Ela assinalou que vários outros estudos detectaram padrões de declínio entre as crianças menores, incluindo um de pesquisadores de Massachusetts, em 2012, e uma análise de dados de um grande programa federal de aleitamento materno em 2013.

Ruth Loos, professora de medicina preventiva do Mount Sinai Hospital, em Nova York, afirmou que um motivo para os dois estudos chegarem a conclusões diferentes é simplesmente o de que, em 1999, ano usado pelo estudo da Carolina do Norte como ponto inicial, o índice de obesidade era de 10% naquela faixa etária. O estudo do CDC começou com dados de 2004, quando a taxa ficava ao redor de 14%.

"Os dois estudos reportam basicamente os mesmo dados e usam testes similares", disse Loos. "A diferença na conclusão se deve ao ponto inicial diferente."

Michael P. Eriksen, diretor da escola de saúde pública da Universidade Estadual da Geórgia, alertou que examinar subgrupos pequenos, como o daquela faixa etária, reduz a precisão estatística e pode ter levado a descobertas imprecisas. Ele se disse intrigado pela queda repentina na obesidade entre crianças menores no período mais recente de 12% em 2010 para 8% em 2012.

"Por que existe uma queda tão grande num intervalo de tempo tão pequeno, quando nenhum outro jovem teve qualquer tipo de redução?"

Para ele, somente o próximo conjunto de dados vai determinar se esse número era anômalo.

Demorou anos para especialistas em saúde pública documentarem a obesidade como um problema de saúde importante e, provavelmente, vai levar anos para se ter certeza do declínio, disse Loos. No fim das contas, os números que parecem saltitar vão se acomodar formando um padrão nítido.

Nesse meio-tempo, os especialistas em saúde continuam tendo uma tarefa monumental.

"A moral da história é que os números da obesidade ainda são enormes", afirmou o Dr. Jeffrey P. Koplan, professor de medicina e saúde pública da Universidade Emory, em Atlanta. "Podem existir lugares isolados onde ocorrem declínios, mas é muito difícil interpretar isso até termos mais dados. Do ponto de vista da saúde pública, o debate não muda o que podemos fazer".