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Médica apoia remédio contra HIV para gays, mas líder da Parada Gay discorda

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

11/07/2014 17h57

A recomendação da OMS para que homens gays usem antirretrovirais como prevenção ao HIV é vista de maneira oposta entre infectologistas, que a aprovam, e a comunidade gay, que vê como forma de preconceito.

Segundo Heloisa Ramos Lacerda, coordenadora científica da Sociedade Brasileira de Infectologia, há dados concretos que comprovam que a incidência da doença é maior em homens gays e que o uso preventivo desse tipo de medicamento ajudaria a diminuir a incidência da doença no mundo.

Já para Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, a recomendação é “leviana por associar a Aids novamente aos gays, como era feito na década de 1980”.

A infectologista explica que os historicamente homens gays estão mais sujeitos a contrair o HIV porque a relação anal aumenta a chance de infecção e  essa população geralmente ter um número maior de parceiros sexuais.

Decisão polêmica

Embora a recomendação da OMS tenha sido feita também para prostitutas, a médica diz que os estudos não comprovam a eficácia da profilaxia dos antirretrovirais para as mulheres da mesma forma que é relatada entre os homens.

“É uma decisão polêmica, mas pesquisas científicas sobre o assunto mostram que o uso de antirretrovirais por homens que fazem sexo com homens pode reduzir a chance de infecção em até 20%”, diz a médica.

“Acho essa recomendação leviana porque é sempre o público gay que é remetido à doença. A gente volta naquela situação da década de 80 que chamava a Aids de câncer gay”, afirma o presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT.

UOL entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber se, a partir da recomendação da OMS, o governo expandirá o acesso ao medicamento, mas ainda não obteve resposta.

Camisinha não dá conta

A recomendação da OMS leva em conta números que mostram que o uso da camisinha, desde a aparição da Aids há 30 anos, não tem se mostrado capaz de diminuir o número de casos que vem subindo especialmente entre os homens gays, segundo a médica.

“O uso da camisinha não tem modificado a incidência de HIV, principalmente entre essas populações mais vulneráveis, apesar de ser útil e suficiente como medida de saúde. Agora é necessário procurar novas estratégias para erradicar a Aids até 2030 focando nesses grupos”.

Diferentemente dos EUA, onde há comércio de antirretrovirais, no Brasil eles são somente fornecidos pelo SUS e para pessoas infectadas e cadastradas.

Efeitos colaterais do remédio podem ser nocivos, dizem gays

O uso de antirretrovirais normalmente causam efeitos colaterais como a lipodistrofia, além de poder causar alterações ósseas e renais. No entanto, segundo Lacerda, a literatura científica não evidencia isso no uso preventivo, mas não descarta os riscos.

“Apenas alguns medicamentos do coquetel [anti-Aids] são indicados para prevenção, os que têm menos efeitos colaterais. Mais nenhum remédio é inócuo e seu uso seria mais seguro comparado a ter a doença, que pode ser mais grave”, diz.

Pontos como estes são questionados pela comunidade gay, que vê a possibilidade dos homossexuais ficarem vulneráveis aos efeitos adversos do uso do remédio.

“Todo antirretroviral traz efeitos colaterais porque há várias doenças decorrentes do uso do antirretroviral, o que não dá uma sobrevida tão saudável também”, diz Quaresma.