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Após fechar emergência, Santa Casa de SP também cancela exames de pacientes

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

23/07/2014 09h55Atualizada em 23/07/2014 14h36

Após a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na região da Santa Cecília, no centro da capital paulista, anunciar na noite desta terça-feira (22) o fechamento do pronto socorro do maior hospital filantrópico da América Latina por falta de material e medicamento para atendimento de urgência, exames agendados também estão sendo cancelados nesta quarta-feira (23).

O hospital --que é privado, mas conta com ajuda do SUS (Sistema Único de Saúde) e do governo do Estado-- atende gratuitamente cerca de 10 mil pessoas por dia, sendo 1.500 no pronto-socorro. 

Pacientes desavisados, porém, formam fila na entrada principal do hospital, com guias de exames nas mãos. Eles são impedidos de entrar por funcionários da administração. Segundo um desses profissionais, que não quis se identificar, só é permitida a entrada de pacientes com consultas agendadas. Apenas alguns exames são feitos de acordo com a complexidade.

A aposentada Dalva (não quis divulgar o sobrenome), 58, veio com a filha de Arthur Alvim, zona leste de São Paulo, para fazer exames de sangue e urina, mas foi impedida de entrar no hospital. Ela fez um transplante de medula na Santa Casa, em setembro de 2013, e passou 18 dias internada ali, mas disse que ao entrar em contato com o hospital, na terça-feira, a instituição havia confirmado que ela poderia fazer o exame nesta quarta-feira.

“Eu não deveria ter vindo. Tive que vir de metrô e perua e gastei mais de uma hora. Não sei o que vou fazer com esses exames, mas vim porque estou há quase três anos tratando um câncer”.

Outro caso semelhante é do desempregado Gilberto da Silva Saraiva, 60. Ao tentar entrar no hospital com o pedido de exame nas mãos, ele foi barrado. “Já tinha feito um exame de sangue na segunda e estava aguardando por este, mas me disseram que tenho que ligar em 48 horas para remarcar.”

A adolescente Tainá Pereira, 16, vinha pela primeira vez a Santa Casa com o pedido de ultrassonografia de crânio para seu filho de três meses, mas foi impedida de entrar no hospital. Preocupada, ela teme não conseguir fazer o exame do filho com rapidez conforme o pedido do médico.

“A médica do hospital São Luiz Gonzaga me passou esse exame e me pediu para vir com urgência, pois ainda não se sabe o que o meu filho tem. Mas se demorar para fazer o exame tenho medo do que pode acontecer.” 

Zuleide Carvalho Nascimento, 47, que faz tratamento contra câncer no estômago, chegou pela manhã para fazer exames, mas foi barrada por um segurança. Com cirurgia agendada para 8 de agosto, ela insistiu para entrar com receio de não dar tempo de receber o resultado e ser impedida de fazer a operação.

"Tive que tentar todas as entradas mesmo com dificuldade de andar. Insisti porque me trato aqui, fiquei 18 dias internada", disse a moradora de Diadema que anda com uma sonda no nariz.

Protestos

Do lado de fora, alguns manifestantes protestam contra a situação. Já conhecido na cidade por protestar contra a falta de qualidade dos serviços públicos, um ativista que se fantasia de Batman estendeu faixa na grade da Santa Casa: "50 bilhões para a Copa teve; 50 bilhões para a Santa Casa não tem". Ele disse que já foi atendido no hospital há 20 anos, quando era motoboy.

"A situação é absurda porque todo mundo sabia do deficit de materiais e ninguém fez nada. Vamos parar a cidade", disse o ativista.

Outras faixas trazem as frases "Parabéns, Dilma, Alckmin e Haddad" e "Cadê o dinheiro dos nossos impostos? Safadeza, acorda, Brasil". (Com Estadão Conteúdo)