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Cidade indiana se prepara contra o ebola para evitar epidemia da doença

Ketaki Gokhale e Kartikay Mehrotra

Da Bloomberg

20/10/2014 15h09

Foi só algumas semanas depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o ebola emergência internacional, no dia 6 de agosto, que os médicos de Mumbai, na Índia, começaram a se preparar.

“Ebola? Eu ouvi falar disso há um mês”, disse Pramod Nagarkar, superintendente do Centro de Tratamento de Traumatismos Hinduhridyasamrat Balasaheb Thackeray da cidade, que enviou dois médicos para fazerem um curso intensivo de um dia de duração sobre os rudimentos do vírus mortal. “Eles dão treinamento: o que é o ebola, como acontece, quais os tratamentos, que precauções tomar”.

A abrupta curva de aprendizagem no hospital que funciona como a primeira linha de defesa de Mumbai enfatiza os riscos nos países em desenvolvimento – e especialmente na Índia –. Cinco das dez megacidades de maior densidade populacional do mundo ficam no sul da Ásia e juntas possuem uma população superior à da Alemanha. Elas enfrentam estabelecimentos de saúde sobrecarregados e milhares de pessoas que viajaram a trabalho até o epicentro do vírus na África.

“Se o vírus chegar à Índia, isso representará desafios únicos no mundo”, disse Temmy Sunyoto, coordenadora médica de Médicos Sem Fronteiras em Nova Déli. “Em Mumbai ou Nova Déli, seria só um paciente chegar a um hospital e, com o estado dos estabelecimentos de saúde pública, eu tenho certeza de que seria muito difícil conter o vírus”.

Embora não haja casos confirmados na Índia – nem na Ásia –, a morte de Thomas Eric Duncan de ebola no Texas, bem como casos confirmados de dois profissionais de saúde que o trataram, aceleraram os preparativos na região. O pior surto da epidemia da história já matou mais de 4.400 pessoas. Seu epicentro está na Guiné, em Serra Leoa e na Libéria.

Florestas tropicais, cidades

O ebola surgiu pela primeira vez em 1976 em aldeias remotas perto de florestas tropicais no Sudão e no Congo, perto do Rio Ebola. O atual surto, o primeiro na África Ocidental, matou mais pessoas do que todos os anteriores combinados. Atualmente, o vírus apresenta um perigo sem precedentes porque se propagou a centros urbanos em Lagos, Madri e Dallas.

O governo de Bangladesh tem equipes médicas em três aeroportos, entre eles o de Dacca, a cidade mais densamente povoada do mundo, e treinou médicos para lidar com casos de ebola, disse Mahmudur Rahman, diretor do Instituto de Epidemiologia, Controle de Doenças e Pesquisa.

A previsão é de que mais casos serão exportados para diferentes países nas próximas semanas e meses, disse Ben Cowling, professor associado de Epidemiologia de Doenças Infecciosas da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong. A China e a Índia correm risco por causa do grande número de viajantes indo e vindo da África Ocidental, disse Cowling.

O ebola não tem cura. O tratamento atual consiste em repor os fluídos e utilizar antibióticos para combater infecções oportunistas. O fornecimento da droga experimental ZMapp, que mostrou potencial em testes com animais e foi aplicada em alguns profissionais de saúde, está esgotado no momento.

Notícia boa e notícia ruim

A boa notícia para o Grande Mumbai – 18 milhões de pessoas aglomeradas em favelas e arranha-céus que formam a segunda megacidade mais densamente povoada do mundo depois de Dacca – é que o seu principal local de quarentena contra o ebola é um centro de traumatismos que tem um ano, está relativamente limpo e vazio e é perto do aeroporto internacional.

A notícia ruim é que o centro não tem UTI, nem banco de sangue nem máquinas de diagnóstico por ressonância magnética e tomografia computadorizada. O local também não fornece ao seu pessoal as máscaras respiratórias recomendadas pela OMS e pelos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

“É verdade que se o vírus entrar no país e sair de uma dessas cidades, isso poderia ser um verdadeiro problema”, disse B.V. Tandale, epidemiologista do Instituto Nacional de Virologia. “O atendimento médico nas cidades menores não tem a mesma qualidade. Mas no momento o foco é manter o vírus longe da população, em quarentena e isolado, se ele entrar no país”.