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3 pessoas com ebola deixam África ao mês; vizinhos e Europa correm risco

Médico do Instituto Nacional de Saúde Pública controla a temperatura das pessoas no aeroporto, em Abidjan, na Costa do Marfim - Sia Kambou/AFP
Médico do Instituto Nacional de Saúde Pública controla a temperatura das pessoas no aeroporto, em Abidjan, na Costa do Marfim Imagem: Sia Kambou/AFP

Do UOL, em São Paulo

21/10/2014 09h39

A cada mês, em média três viajantes com ebola viajam da África ocidental rumo a outros países dentro e fora da África, segundo artigo publicado nesta terça-feira (21) na revista científica “The Lancet”.

Segundo pesquisadores do Instituto Canadense de Pesquisa em Saúde, Gana, Senegal, Reino Unido e França são os países que correm maior risco de receber os infectados. Os dois países europeus teriam até oito vezes mais chance de recebê-los do que os Estados Unidos.

Tais estimativas foram feitas a partir da análise de dados de voos realizados e previstos saídos da Guiné, Libéria e Serra Leoa – países onde há epidemia de ebola --até o final deste ano, cruzando as informações disponíveis sobre a propagação do vírus. Segundo a pesquisa, Gana e Senegal são os destinos de cerca de 60% dos voos saídos dos países endêmicos. O Reino Unido correspondeu ao destino de 8,7% dos viajantes.

Além da estimativa, o artigo questiona a eficácia dos controles de temperatura de africanos em voos que chegam à França, Reino Unido e aos EUA. Segundo os pesquisadores, seria mais eficaz se houvesse esse controle nos países africanos.

“É improvável que os controles de temperatura tenham um impacto significativo na hora de detectar viajantes infectados. A maioria dos viajantes infectados não sabe que estão [com o vírus], porque estão no período de incubação, que dura de oito a dez dias, em média, podendo chegar a 21 e não apresentam sintomas", afirma Kamran Khan, infectologista e principal pesquisador do estudo do Hospital Saint Michael, em Toronto, no Canadá.

“Além disso, entre aqueles que desenvolvem sintomas que podem ser detectados, a maioria vai encontrar-se doente demais para viajar”, afirma Khan.

Uma das questões levantadas pelos autores é que 60% dos passageiros que partem de qualquer um dos três países mais afetados pelo surto de ebola são destinados a países com recursos insuficientes para detectar e tratar os casos importados.

"O valor adicional de vigilância na entrada é muito baixo, dado a curta duração de voos procedentes de países afetados, em comparação com o período de incubação", diz.

Apesar das observações, o artigo adverte contra "restrições excessivas ao transporte aéreo" nestes territórios, o que poderia ter "consequências econômicas graves que poderiam desestabilizar a região e possivelmente afetar a distribuição de suprimentos humanitários e de serviços de saúde”.