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Tomar Truvada antes e depois do sexo também pode prevenir o HIV, diz estudo

Médica Lisa Sterman segura comprimido de Truvada, conhecida como pílula preventiva contra Aids - Jeff Chiu/AP
Médica Lisa Sterman segura comprimido de Truvada, conhecida como pílula preventiva contra Aids Imagem: Jeff Chiu/AP

Da Agência de Notícias da Aids

06/11/2014 18h50

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) divulgou nota comemorando novos dados do estudo francês Ipergay. Trata-se de uma pesquisa cujos resultados confirmam que o uso de antirretrovirais antes e depois do sexo poderá ser mais uma alternativa de prevenção contra o HIV. A comunidade científica comemora os resultados, que representam uma posologia mais conveniente para a profilaxia pré-exposição (PrEP), que é o uso de antirretrovirais por pessoas soronegativas antes da relação sexual para evitar a infecção pelo HIV.

A Agência Francesa de Pesquisa em Aids e Hepatites Virais (ANRS) divulgou que os resultados preliminares do Ipergay apontam para a efetividade de um novo e prático esquema de dosagem. "Trata-se de um grande sucesso na luta contra a aids", destacou a agência.

A posologia atual consiste no uso contínuo e diário de um comprimido que combina os antirretrovirais emtricitabina e tenofovir e cujo nome de marca é Truvada. Para conseguir um nível ótimo de proteção, a pessoa não pode esquecer de tomar o remédio nenhum dia, independentemente de ter ou não relação sexual – é um raciocínio análogo ao da pílula anticoncepcional. Além disso, a proteção ideal só é atingida após a primeira semana de medicação.

A nova posologia testada pelo Ipergay se limita à tomada de dois comprimidos de Truvada no momento da relação sexual, mais um comprimido ao dia nos dois dias seguintes.

A PrEP é indicada como opção adicional de prevenção para pessoas com alto risco de se infectarem. Embora os primeiros resultados sobre a eficácia da PrEP contínua tenham sido publicados em 2010, foi em 2014 que a estratégia ganhou destaque. Em maio, foi incluída como política pública nos Estados Unidos e em julho recebeu o aval da Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil e diversos países estão conduzindo estudos de demonstração, que visam verificar a viabilidade local de estratégia já comprovada.

Uma das ressalvas em relação à PrEP é a dificuldade fazer as pessoas soronegativas tomarem o comprimido todos os dias. Esquecer uma dose já implica em risco de diminuir a eficácia do método. Além disso, existe a possibilidade de surgimento de efeitos colaterais com o uso diário.

Na última Conferência Internacional de Aids, em julho, na Austrália, foi discutida a perspectiva de desenvolvimento de esquemas a serem usados só no caso de relação sexual – a chamada PrEP “on demand”, ou seja, “conforme a necessidade”. A comunidade científica vinha esperando ansiosa pelos resultados do estudo francês.

Testes na França

O Ipergay está sendo conduzido desde 2012 com 400 homens que fazem sexo com homens (HSH) na França e no Canadá. Até agora, metade dos voluntários tinha sido sorteada para tomar o remédio segundo a nova posologia, e a outra metade, um placebo, ou seja, um comprimido sem efeito, para fazer a comparação.

Como é de praxe em estudos clínicos, um comitê independente acompanhou periodicamente os resultados preliminares e, a partir do momento em que ficou claro que o novo esquema posológico funcionava, tornou-se antiética a oferta de placebo. De agora em diante, todos os participantes receberão o comprimido de verdade.

Segundo a ANRS, a decisão do comitê francês foi influenciada pelo anúncio, realizado duas semanas antes, de que o estudo britânico Proud também fora modificado em função de resultados preliminares. O Proud é um estudo de demonstração piloto, que visa avaliar a viabilidade da disponibilização da PrEP na posologia tradicional -- uso contínuo -- pelo sistema público de saúde do Reino Unido.

Os mais de 500 voluntários britânicos, todos HSH, foram divididos em dois grupos de acordo com o momento do início da PrEP contínua. Metade teve acesso ao comprimido desde o começo e a outra metade passaria a recebê-lo somente um ano depois. Estudos de demonstração não utilizam placebo porque testam a aplicação de estratégias já comprovadas.

O comitê independente de monitoramento do Proud constatou uma redução muito importante na taxa de novas infecções pelo HIV no grupo que já tem acesso ao Truvada. Tanto que os pesquisadores anunciaram no último dia 16 que decidiram antecipar a medicação para a outra metade dos voluntários.

As estatísticas dos resultados do Proud e do Ipergay ainda não foram divulgadas e são esperadas para o começo de 2015. Portanto, a comunidade científica e o público ainda não podem comparar a efetividade da posologia contínua com a intermitente.

No Brasil

O Ministério da Saúde está se preparando para disponibilizar a PrEP no Brasil. Está em curso um estudo de demonstração para avaliar a viabilidade da oferta, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), da PrEP de uso contínuo. A pesquisa, chamada PrEP Brasil, ainda está recrutando voluntários entre homens que fazem sexo com homens. O estudo é conduzido no Rio de Janeiro pela Fundação Oswaldo Cruz e, em São Paulo, pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Centro de Referência e Treinamento em Aids (CRT), do Programa Estadual de DST/Aids.