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Técnicas de sedução funcionam? Especialistas dizem qual o melhor caminho

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

24/11/2014 14h00

Professor de pegação ou personal paquera. O especialista que promete ensinar técnicas para conquistar mulheres voltou a ser assunto desde que o suíço Julien Blanc, instrutor executivo da Real Social Dynamics, empresa norte-americana que ensina métodos considerados machistas e pautados por violência, intimidação e humilhação, foi impedido de entrar no Brasil.

Por aqui, a petição online de repúdio ao "paquerador", que cobra US$ 2.500 por aulas que vão desde beijos à força até puxar a cabeça de mulheres em direção ao pênis, reuniu quase 300 mil assinaturas em dois dias. Campanhas semelhantes ocorreram na Austrália, na Inglaterra, no Canadá e no Japão.

O método de Blanc sugere, entre outras coisas, que rapazes ignorem quando mulheres dizem não às investidas sexuais, as enforquem em mesas de bar para despertar o medo e ataquem a autoestima delas para que fiquem frágeis. Sobre as informações, Blanc ironiza: "É ofensivo, inapropriado, emocionalmente assustador, mas efetivo", diz, em seu site.

Ranço machista

Para médicos consultados pelo UOL, no entanto, as técnicas de sedução oferecidas em cursos do ramo reforçam antigos chavões de gênero e seguem a lógica das propagandas milagrosas, que prometem resultados rápidos sem levar em conta características individuais.

"Na nossa cultura há um ensinamento machista de que ter um relacionamento sem envolvimento é fator de sucesso. Dá certo poder usar a pessoa sem ter que dar uma retribuição afetiva. Isso se tornou um valor", diz o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, do Departamento de Dependências do Comportamento do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) da Unifesp, que compara a mensagem dos instrutores de paquera a slogans publicitários, que conseguem atrair pessoas por se mostrarem úteis em solucionar problemas.

"Há uma demanda por isso porque a paquera é uma habilidade vista como uma vantagem e é vendida como aqueles produtos que garantem emagrecer rapidamente ou aumentar o pênis. Há público que pede uma vida mais fácil, que deseja ser feliz a qualquer custo, que se deixa seduzir por esse discurso”, diz.

A iniciativa exclusivamente masculina na paquera, como ensinada no curso, também é desconexa com a postura da mulher do século 21, mais pró-ativa e que também toma iniciativa, ressalta o médico e especialista em sexualidade, Jairo Bouer.

"A posição da mulher na sociedade mudou muito e vejo alguns homens se sentindo perdidos em relação a isso, principalmente na geração dos mais novos. Quando eles encontram algo assim, é como se fosse uma tábua de salvação, que causa um conforto. Mas é algo absolutamente distorcido, totalmente desconectado com o tempo em que a gente vive", diz Bouer.

Para ele, generalizar a paquera pode ser violento inclusive para o homem, que se vê obrigado a descaracterizar sua personalidade em troca de uma possibilidade de encontro amoroso. "As pessoas são diferentes. Fazer um tímido, uma pessoa insegura, tomar iniciativa de um jeito que não é o dele, como se fosse uma receita de bolo, além de poder expor a pessoa ao ridículo, não funciona para todo mundo. Toda tentativa de formatar um comportamento é complicado", diz Bouer.

Foco no papo

O caso Blanc expôs uma vertente extremamente violenta do treinamento para a conquista, mas quem trabalha com isso explica que os métodos não precisam ser criminosos para serem úteis.

Daniel Madeira, 33, professor de técnicas de conquista, repudia a violência contra a mulher e reforça que seu trabalho é ajudar homens tímidos e enferrujados por relacionamentos longos a conquistar sua cara metade. Isso vale tanto para jovens inexperientes quanto para homens maduros recém-divorciados, por exemplo.

Ele diz que treina a comunicação --ou melhor, o xaveco-- com uma mistura de técnicas de venda com psicologia e coloca os alunos para treinar bastante, de dia e na balada. A ideia é perder o medo de se aproximar a puxar uma conversa.

“Há muitos homens com problemas de comunicação, com dificuldade de conversar, de lidar com a rejeição. Essa fobia social atrapalha no trabalho e na vida social. O que garantimos é uma evolução de onde ele se encontra”, diz.