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Robôs ajudam estudantes de medicina a se preparar para lidar com pacientes

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em São Paulo

24/04/2015 16h18

Treinar as habilidades dos futuros profissionais da medicina sem colocar a saúde de pacientes em risco. Com esse objetivo, a FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo) inaugurou um laboratório de simulação onde manequins controlados por computador simulam a reação que pacientes teriam aos mais diversos procedimentos. Os modelos mais completos chegam até a falar e os alunos devem interpretar as reações para determinar o tratamento adequado.

O laboratório, que teve investimento de R$ 1,5 milhão, funciona em uma área de 300 metros quadrados, com dez salas, é composto por pouco mais de 100 manequins, importados dos Estados Unidos e da Noruega. Os bonecos falam o que estão sentido, respiram e possuem sinais vitais, como pressão arterial, oxigênio e frequência cardíaca. É possível programá-los para a utilização nas mais diversas especialidades médicas.

Segundo o professor Antônio Pazin Filho, coordenador do laboratório, é possível, com a simulação, que os alunos identifiquem problemas observados em pacientes reais e desenvolvam, na prática, o atendimento ao paciente. "Os manequins podem ser utilizados para procedimentos simples, como um exame de toque retal, por exemplo, ou para atendimentos complexos, como uma emergência coronariana", conta.

Para o professor, outra vantagem dos manequins é a possibilidade de simular problemas raros que os estudantes não teriam oportunidade de ver apenas durante a prática nos ambulatórios. "Existem doenças raras, cujos casos são de dois ou três por ano. Tenho centenas de alunos nas turmas e, a não ser pelo simulador, eles nunca teriam a possibilidade de fazer o atendimento delas. Mas, com o equipamento, todos os alunos podem estar preparados para diagnosticarem e tratarem com correção essas doenças", ressalta.

Para os alunos,  a utilização dos bonecos e a realização das simulações geraram repercussões positivas. Na visão da sextanista Camila Longo, 25, os procedimentos realizados nas aulas já ajudaram no desenvolvimento profissional dela. "Eu preciso desenvolver a rapidez no raciocínio. Um atendimento bem feito pode ser o diferencial na vida das pessoas, e hoje me sinto mais preparada para atuar de forma rápida, do que antes de fazer as simulações. Treinar com os manequins dá mais segurança e confiança", afirma.

O também sextanista Rodrigo Del Bello, 26, concorda com a colega e afirmou, ainda, que o fato de o treinamento ser continuado, com várias passagens pelo simulador a cada semestre, também é importante. "Eu já presenciei paradas cardíacas, mas nunca tive a chance de atuar, já que isso implica em riscos ao paciente. Pelo simulador, já fiquei responsável por realizar os procedimentos e tenho mais segurança para atender um caso do tipo quando for necessário", explica.

Sistema

De acordo com Pazin, a utilização de simuladores permite uma melhor aprendizagem aos futuros profissionais da saúde, melhorando a técnica nos atendimentos a pacientes reais. "Nas aulas com giz e saliva, o índice de aprendizado e retenção raramente supera os 10%. Em procedimentos de simulação, esse percentual chega a 80%", salienta.

Já para o reitor da USP, Marco Antônio Zago, o Laboratório de Simulação um aprimoramento das habilidades sem colocar pacientes em risco. "Os simuladores são muito realistas. É um benefício para os estudantes, para a universidade, e também para a população”, explica.

Cardíaco

O destaque entre os manequins que compõe o Laboratório é Willian Harvey, boneco norte-americano que ganhou o nome de um dos principais estudiosos do sistema circulatório humano. Tido como o mais avançado simulador do mundo, ele foi adquirido pela FMRP há dois anos, sendo o primeiro manequim do tipo no País. Ele é capaz de identificar 33 problemas cardíacos diferentes e custou, sozinho, US$ 50 mil (perto de R$ 150 mil)

Através do som e das batidas do coração, do comportamento das artérias e pulsos, o aluno consegue ter um diagnóstico completo de problemas, inclusive raros, como o sopro, uma indicação para doenças como das válvulas cardíacas. "Consigo mostrar uma série de sinais que às vezes o aluno não teria condições de ver, porque são doenças muito raras. Posso modificar diversas doenças, mostrando o que é o normal, o que é diferente, por que está diferente, enquanto ele examina a pessoa", diz.

Dedicação

Para Panzin, o laboratório permite que os alunos aprendam ao observar, depois, a forma como realizaram os atendimentos, já que todos os procedimentos são gravados. "Discutimos os casos, vemos onde o atendimento poderia melhorar e se houve alguma falha. Dessa forma, o próprio estudante percebe os erros", conta.

Panzin conta ainda que o sistema, embora apresente uma série de benefícios, também exige mais do docente. "Uma aula tradicional pode ser preparada em 20 minutos, uma hora. Numa aula simulada, é possível gastar entre uma e duas semanas, de acordo com a complexidade. O professor tem que se dedicar mais na construção dos cenários", explica.

Outra vantagem dos manequins é que é possível programar um cenário onde o profissional precisa tomar determinadas medidas, em um determinado tempo, para restabelecer a saúde do paciente. "Em um caso de problema cardíaco, por exemplo, o médico tem que começar a massagem em no máximo três minutos e, se o quadro não melhorar, deve entubar o paciente. Eu posso programar isso e, se não for feito no tempo certo, o quadro de saúde do paciente vai piorando. Dessa forma, os estudantes podem avaliar o que fizeram e o que deixaram de fazer", relata.